- começo foi na capoeira
Ana Paula Rodrigues com a taça da Champions League (Foto: Divulgação/Bucuresti)
Vencida a primeira etapa, Ana Paula teve ajuda da família para driblar o segundo obstáculo. De família humilde, a maranhense não tinha dinheiro para comprar a passagem para São Paulo. O pai, motorista da procuradoria de Justiça em São Luiz, teve a ideia de fazer uma vaquinha. Amigos se juntaram e conseguiram os R$ 360 para a viagem de avião. Sozinha, ela embarcou para o Sudeste e disse para si mesma que teria que fazer a saudade e a distância valerem a pena. Dali em diante, viu os pais e a avó uma vez por ano, sempre pegando a estrada de ônibus, cruzando por até três dias os estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Piauí até chegar em São Luiz.
Com 14 anos, Ana Paula cruzou o Brasil sozinha
em busca do seu sonho no handebol
(Foto: Reprodução/Google Maps)
- Naquele primeiro ano, tivemos folga em julho, mas fiquei lá porque não tinha dinheiro para ir para casa. Em dezembro eu fui, mas fui de ônibus. Uma pessoa em São Paulo me ajudou, o Alexandre. Eu sempre falo que é a determinação. Eu gosto muito de desafios. Então, para mim, foi um desafio ficar em São Paulo. Depois ir para fora do Brasil. A determinação foi essencial. Vai de pessoa para pessoa. No começo foi muito difícil, eu sempre fui muito apegada a minha avó. Os primeiros meses foram bem complicados. Eu nunca imaginei me separar dela. Chorava todos os dias. Morria de saudade dela. Ligava para falar com ela, com meus pais, mas fui ficando - lembra Ana Paula.
Ana Paula com a camisa 9 do Guarulhos, que tinha parceria com o São Paulo Futebol Clube (Foto: Reprodução/Facebook)
- Eu falo que a gente sempre pode mais na nossa vida. O dia que achar que eu não posso, é a hora de parar de jogar, com certeza. As pessoas falam que eu estou na minha melhor fase na carreira, mas já ouvi isso antes de muita gente. Então, o dia que eu achar que não posso mais evoluir, é o momento de parar. Foi a realização de um sonho ganhar a Champions League este ano. Todo atleta de handebol quer o Mundial, a Champions, e agora falta uma medalha em Olimpíada para mim. Quando olho para trás, eu vejo que tudo valeu a pena. Chegar numa Olimpíada agora não é mais um sonho. Eu já cheguei em 2008. Já cheguei em 2012. Agora eu não quero só chegar. Eu quero ganhar uma medalha. Que seja bronze, prata ou ouro, mas a gente pode - garante Ana Paula, que conseguiu comprar uma casa para a família com o dinheiro do handebol.
Neste domingo, às 13h, Ana Paula estará em quadra com o Brasil em amistoso de preparação para a Rio 2016. A seleção pega a Holanda, vice-campeã mundial, na Urca. No outro jogo-treino, vitória do Brasil por 29 a 27.
COMEÇO FOI NA CAPOEIRA
Ana Paula em ação no Mundial da Dinamarca,
em 2015 (Foto: Wander Roberto / Inovafoto)
Primeira técnica a dar chance para Ana Paula em São Paulo, Láusida Góes lembra que de cara percebeu que a menina era diferente. A treinadora se recorda da dificuldade da central para ir visitar a família, mas de sua força de vontade em vencer na carreira.
- Ela não tinha condições de ir sempre ver a família, a passagem era cara. Todos ajudavam. Uma vez a avó dela adoeceu e ela quase enlouqueceu aqui. Ela tinha uma pequena ajuda de custo e quando recebia gastava tudo em bolacha (risos). Quando ela treinou a primeira vez, não esqueço, ela bem magrinha, as pernas finas... Alta já, e saltava muito, saída quase meio metro do chão. E eu pensei: "Essa menina vai longe". Era geniosa, de personalidade forte, não se abatia com as dificuldades. Ia embora e voltava para São Paulo. Jogava com uma alegria sabe, que chegou me dar saudade agora - lembra Láusida.
Família de Ana Paula faz festa para acompanhar
os jogos da seleção de handebol
(Foto: Reprodução/Facebook)
Nos bastidores, viu seu nome circular como um dos favoritos a ganhar o prêmio de jogadora mais valiosa (MVP) após suas atuações na primeira fase. A queda precoce, contudo, fez tudo cair por terra. Agora, após o título da Champions, Ana esta novamente no bolo de grandes jogadoras do mundo, mas não foca em ser a melhor do mundo, como já foram Alê Nascimento e Duda.
- Tudo é consequência do trabalho. Não é algo que fica na minha cabeça como uma obrigação: "Eu tenho que ser a melhor do mundo, eu tenho que ser a melhor do mundo....". Não é algo que eu tenho que ser. Se tiver que ser, vai ser. Penso mais em trabalhar, tentar fazer melhor. O que vier é consequência - diz a jogadora.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/handebol/noticia/2016/07/vaquinha-72h-no-onibus-o-caminho-de-ana-paula-ate-terceira-olimpiada.html