Memórias do tri: há dez anos, Guga reinava outra vez em Roland Garros
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Memórias do tri: há dez anos, Guga reinava outra vez em Roland Garros


Brasileiro derrotou Alex Corretja, conquistou o terceiro título no saibro de Paris e saboreia uma conquista como jamais havia feito em toda carreira

Por Alexandre Cossenza Florianópolis

Domingo, 10 de junho de 2001. Favoritíssimo, Gustavo Kuerten entrava quadra pela última vez em busca de seu terceiro título em Paris. O espanhol Alex Corretja, obstáculo daquela tarde de ventos fortes em Roland Garros, vinha de quatro derrotas para o brasileiro. A vitória de Guga parecia questão de tempo. Mas o troféu não viria assim tão fácil.
Em um dia inspirado, Corretja venceu o primeiro set. O brasileiro, que sempre teve dificuldades com o vento, demorou para achar seu melhor tênis, e o espanhol esteve perto de abrir 2 sets a 0. Em conversa com o GLOBOESPORTE.COM na sede de sua empresa, em Florianópolis, Guga lembrou que o oponente cresceu ao notar a fragilidade do brasileiro.
- Começou o embate, logo eu senti essa dificuldade e logo ele percebeu também. Talvez isso tenha favorecido o "crer" dele, para se transformar em um cara bem mais competitivo. Ele entrou em quadra para me ganhar, e isso foi o que mais dificultou o jogo para mim. Ele "falou": "hoje eu vou ganhar, hoje eu vou ganhar". Ele não vinha fazendo isso nos últimos jogos que eu fiz contra ele. Em 20 minutos, ele já se abatia. Então foi um jogo completamente distinto dos dois primeiros sets para os dois últimos sets.
Na segunda parcial, o catarinense, então número 1 do mundo, sacou pressionado em 5/5 e 30/40 - break point para o espanhol. Corretja arriscou uma paralela de esquerda na devolução. A bola, difícil de ser executada, por pouco não entrou. Foi o suficiente para que Guga começasse a acreditar na vitória. A falha do rival mostrou ao brasileiro uma pitada de ansiedade do espanhol. Depois dali, a partida não seria mais a mesma.
- Saiu pouquinho. Só que dá a sensação, num ponto daquele importante, para mim, que tô ali competindo... "pô, o cara tá com algum temor. Pra quê ele vai querer se livrar dessa bola assim e dar essa bobeira? Jogando contra mim na final? Pô, ele não pode dar essa bobeira! Aqui eu vou agora mostrar pra ele que essa bobeirinha vai fazer diferença".
Eu nunca tinha tido a sensação de jogar durante uma hora quase, uma final de Grand Slam, sabendo que vou ganhar o torneio. É entusiasmante compartilhar, saber isso"
Gustavo Kuerten
E assim foi. Guga quebrou o serviço de Corretja no 12º game e fechou o segundo set em 7/5. O jogo mudou completamente, e o brasileiro tomou as rédeas. A final de um Grand Slam parecia ter de um lado, um campeão; do outro, um qualifier. Corretja não incomodava mais e só venceria mais dois games até o fim do jogo. Pela primeira vez na carreira, Guga, então com 24 anos, jogou dois sets (6/2 e 6/0) de uma decisão com a certeza de que iria sair vencedor.
- Foi uma das maiores felicidades que eu tive no tênis em termos de desfrutação. Depois ficou 3/0, 4/0, foi abrindo... Eu nunca tinha tido a sensação de jogar durante uma hora quase, uma final de Grand Slam, sabendo que eu vou ganhar o torneio. É muito entusiasmante compartilhar, saber isso. Não é mais aquele detalhezinho que vai fazer diferença. Já foi pro estouro. Tem uma felicidade... Ao final, tudo que eu tentava fazer dava certo. Qualquer bola, qualquer jogada, mais forte, mais forte, entrava. A ponto de fazer jogadas extraordinárias numa final, coisa que não é tão comum assim, um ponto atrás do outro. E terminar com essa sensação de prazer tão grande. O terceiro título foi o que deu para curtir mais, para viver mais essa sensação do título. Já começar a desfrutar antes - relatou, entre sorrisos, o tricampeão.
Com o troféu na mão, Guga finalmente pôde vestir a camisa que pintou na noite anterior, com um coração acima do nome do torneio. Era a maior prova de uma relação de amor que começou em 1997, quando o desconhecido jovem que vestia uma chamativa camiseta azul e amarela derrubou campeões um jogo atrás do outro e chocou Paris ao levantar o troféu.
- Aquela camiseta não era daquele momento, mas do sentido maior, de tudo que aquilo significava para mim, sabe? "É a torcida, é o meu amor, é esse torneio, é minha vida. Isso aqui é muito para mim. Então é assim que eu quero selar essa minha relação com algo tão especial".

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/tenis/noticia/2011/06/memorias-do-tri-ha-dez-anos-guga-reinava-outra-vez-em-roland-garros.html



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