A exemplo do que ocorreu na última terça-feira e nos quatro primeiros dias dos testes da pré-temporada, semana passada em Barcelona, o resultado final do segundo dia de treinos da última série, realizado nesta quarta-feira, no mesmo Circuito da Catalunha, foi pouco representativo da provável ordem de forças entre as 11 equipes da F1. Valtteri Bottas, por exemplo, com o FW38-Mercedes da Williams, estabeleceu o primeiro tempo, 1min23s261, de pneus supermacios da Pirelli.
Valtteri Bottas lidera dia de testes da Fórmula
]1 em Barcelona, Espanha (Foto: Getty Images)
Lewis Hamilton em ação nos de testes da
Fórmula 1 em Barcelona (Foto: Divulgação)
A lista não para. Daniel Ricciardo completou 135 voltas com o RB12-Tag Heuer (Renault) da RBR, tempo de 1min25s235, sexto, de pneus médios. Carlos Sainz Júnior, 166 voltas com o STR11-Ferrari, 1min25s300, sétimo, médios também. E Sérgio Perez, 128 com o VJM09-Mercedes da Force India, 1min25s593, oitavo, pneus macios.
Este ano é o terceiro do regulamento que estreou em 2014, primeira temporada da tecnologia híbrida. Tantos as escuderias como as quatro construtoras das complexas unidades motrizes, Mercedes, Ferrari, Renault e Honda, já desenvolverem bem seus projetos. A maior prova disso é a impressionante quilometragem que acumulam desde o início dos testes, ratificada nesta quarta-feira.
Além de demonstrar dispor do carro mais rápido, apesar de seus tempos não aparecerem dentre os melhores quase nunca, a Mercedes conseguiu um grau de confiabilidade, ao menos nos treinos, não alcançado ainda na história da F1.
Carro “inquebrável”
Nos quatro dias de ensaios da semana passada e nos dois últimos, entre Hamilton e Rosberg os alemães percorreram nada menos de 1.011 vezes o Circuito da Catalunha, o que lhe dá 4.706,2 quilômetros de experiência. Quase o dobro da Ferrari com Vettel e Kimi Raikkonen, 576 voltas, 2.681,2 quilômetros.
Ao contrário da semana passada, quando o grupo coordenado por James Allison, diretor técnico da Ferrari, optou por liberar Vettel e Raikkonen com pneus ultramacios para conhecer algumas características do SF16-H, a Mercedes apenas ontem treinou com os pneus macios. Nem mesmo recorreu aos supermacios e a novidade da Pirelli este ano, os ultramacios. Com os macios Rosberg foi 0s207 mais rápido que Bottas com os ultramacios.
Já nesta quarta-feira, Hamilton usou pela primeira vez os macios e fez 1min23s622, segundo tempo, diante de 1mn23s022 de Rosberg ontem. O atual bicampeão, piloto três vezes campeão do mundo, disse sobre esses pneus algo semelhante ao que Felipe Nasr, da Sauber, que hoje apenas assistiu ao companheiro, Marcus Ericsson, treinar, havia dito na semana passada. “Eles induzem reações diferentes no carro. São diferentes dos de 2015.”
E a Sauber, lembrou Nasr, tinha a referência do carro de 2015 com os pneus de 2015 e agora com os deste ano. Hamilton falou nesta quarta-feira: “Eu não me senti à vontade com eles. Preferiria manter os de 2015”. Pelo que Nasr explicou, o carro ficou menos estável, tanto que o conhecimento adquirido em como melhor explorá-los, desenvolvido na semana passada com o monoposto velho, foi transferido para o modelo de 2016, pela primeira vez na pista ontem, com o próprio Nasr.
Ponta de esperança
Pensando no espetáculo, a F1 torce para que Hamilton tenha mais dificuldades em se adaptar aos novos pneus macios que Rosberg. O inglês é um piloto mais completo que o alemão, conforme seus títulos atestam, mas se ele for mais sensível às reações dos novos pneus, não são apenas os médios, mas todos, o confronto entre os companheiros de Mercedes poderá ser mais disputado. Na hipótese de a escuderia alemã contar com um carro mais veloz e resistente que a concorrência, provável, essa competição interna entre Hamilton e Rosberg pode fazer a graça maior do campeonato.
A menor adaptação de Hamilton aos pneus macios pode, no entanto, ser algo localizado e específico para as condições do teste em Barcelona, ou mesmo desta quarta-feira. É pouco provável que um piloto do seu talento permita que essa “perda” de performance se estenda por toda a temporada.
Nunca é demais lembrar, porém, que Rosberg claramente trouxe para este ano a gana demonstrada no fim do último Mundial, quando não deu chances a Hamilton e venceu as três provas de encerramento, México, Brasil e Emirados Árabes Unidos.
Lewis Hamilton e Nico Rosberg: dobradinha
da Mercedes no grid de largada do Japão
(Foto: Getty Images)
Sebastian Vettel nos testes da Fórmula 1 em
Barcelona (Foto: Divulgação)
A diferença de desempenho que os pneus macios, do piloto da Mercedes, permite em relação ao médio, usado pelo da Ferrari, não é de 1 segundo e 814 milésimos como foi registrado. Essa diferença é menor. Na média, deverá ficar na casa de 1 segundo. Esse dado vai ao encontro do que emergiu no último dia de treinos da semana passada, em Barcelona, e tido como certo para muita gente no paddock: neste instante, o que não quer dizer que necessariamente será assim quando o campeonato começar, dia 20 na Austrália, o modelo W07 Hybrid dá mostra de ser, na volta lançada, cerca de 8 décimos de segundo mais rápido.
Fugiu a lógica
Curiosamente nesta quarta-feira o resultado não corroborou a tese. Mas há o atenuante de Hamilton não ter gostado do comportamento do W07 Hybrid com os pneus macios. Ele registrou 1min23s622, enquanto Vettel, com os médios, 1min24s611. Pelo raciocínio de parte importante dos profissionais da F1, com os macios Vettel deveria obter, hoje, algo como 1min23s6, mesma marca da Hamilton. Esse resultado evidencia que há muitos fatores que interferem na definição dos tempos e os raciocínios lineares muitas vezes, pelo menos para voltas lançadas, não levam todos em conta.
Mas como pilotos e engenheiros, de escuderias adversárias, afirmam que a Mercedes está na frente, não há como contestar. Seu universo de análise é bem mais completo que o da imprensa e dos fãs.
Daniel Ricciardo, da RBR, afirmou esperar do seu time algo semelhante ao verificado no fim de 2015 nas primeiras corridas do calendário. “Deveremos estar próximos da Williams e provavelmente Force India. A questão é saber quanto Mercedes e Ferrari vão estar na frente".
Daniel Ricciardo, da RBR, nos testes da F1
em Barcelona (Foto: Divulgação)
Quem gosta de F1 deve ter gostado de ver Button permanecer na pista o tempo todo, completar nesta quarta-feira 121 voltas, exatamente o que o conjunto McLaren-Honda não fez em 2015. Apesar do avanço da confiabilidade do equipamento, Button disse que será preciso explorar bem os dois dias finais de testes, amanhã com Fernando Alonso e depois, sexta-feira, com ele, a fim de o grupo coordenado por Peter Prodromou encontrar um bom acerto para o chassi, “o que ainda não fizemos, trabalhos com outros objetivos, fazer as coisas funcionarem”.
De qualquer forma, a McLaren encontrou o caminho. Há, agora, perspectiva de crescimento, o que, no ano passado, em nenhum momento foi o caso. Eric Boullier, diretor da equipe, destacou existir, agora, diálogo com o novo diretor da Honda, Yusuke Hasegawa. Não falou, mas claramente está implícito não ter sido o caso com Yasuhisa Arai. Button elogiou a nova versão da unidade motriz japonesa. “Grande salto.”
A vez dos brasileiros
Nesta quinta será o penúltimo dia de testes da pré-temporada. Os dois brasileiros vão para a pista, Felipe Massa com o modelo FW38-Mercedes da Williams e Felipe Nasr com o C35-Ferrari da Sauber. Massa ainda terá a sexta-feira para trabalhar. Já Nasr, depois do teste de amanhã, só acelera o novo carro dia 18 de março, no primeiro treino livre do Circuito Albert Park, em Melbourne.
É de se esperar, portanto, que a Sauber opte em algum momento pelos pneus supermacios, para Nasr e a própria escuderia terem uma noção de como o carro se comporta com pneus de maior aderência. Já Massa poderá fazê-lo no último dia. Amanhã e depois essa estratégia deverá ser repetida por todos os times, exceto a Mercedes que, se não mudar de ideia, não sairá dos médios e macios.
Felipe Nasr e Felipe Massa no paddock do
GP da Hungria 2015 (Foto: EFE)
Ericsson, que hoje acelerou o C35 da Sauber, e só completou 55 voltas, com 1mins27s487, o 11º, de pneus macios, teve discurso semelhante ao de Nasr, ontem: “O carro gera mais pressão aerodinâmica, freia com maior estabilidade, é mais veloz nas curvas, melhor que anterior em todas as áreas”.
É bom que seja mesmo assim, pois será difícil para a Sauber, ao que parece, manter o mesmo ritmo de Force India e STR, aumentando, dessa forma, o desafio de marcar pontos. A boa notícia é que o C35 sugere ser um monoposto equilibrado e com grande margem de desenvolvimento. Nasr torce para a Sauber poder explorar seu potencial.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/03/licao-do-dia-show-de-resistencia-dos-carros-nesta-quarta-feira-em-barcelona.html