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Aquele homem de braços erguidos e olhar de poucos amigos mora numa das paredes da quadra de treinamento do CT de Saquarema faz tempo. Nos últimos três anos, Serginho se fez presente na rotina da equipe através das fotos que dão alma ao local. Nesta semana, a presença passou a ser de carne e osso. O líbero atendeu ao chamado de Bernardinho, aceitou voltar a vestir a camisa 10 e a se submeter à puxada rotina de treinos. Com sorriso estampado no rosto e autoridade de quem ganhou tudo com a seleção, ele elogia, puxa a orelha, orienta, aplaude, arranca risadas e se joga em cada bola com a vontade que tanto o caracteriza. Se ainda tem cautela para falar sobre a possibilidade de disputar os Jogos de 2016, não tem dúvidas para afirmar que, no que depender dele, a seleção terá "outro espírito e outra cara".
Serginho está de volta à puxada rotina de
treinos da seleção (Foto: Danielle Rocha)
No período em que esteve na pele de torcedor, Serginho sentiu falta da postura que tanto marcou o grupo anterior, cheio de líderes e com um olhar que levava preocupação aos adversários antes mesmo de pisarem no ginásio.
- A seleção precisa de uma outra postura e de agressividade. Precisa mostrar para os outros que não estamos de brincadeira. De 2004 a 2006, os adversários sabiam que iam perder da gente só de olhar. Não digo que vamos atropelar todo mundo, mas eles precisam ver nos olhos da gente que vão ter que fazer muito para vencer. Precisamos de liderança. Tem alguns jogadores que não têm esse perfil. Murilo e Bruninho têm. Não quer dizer que os outros são menos importantes. Lucão fala pouco, mas tem hora que lidera - disse.
Aos 39 anos, o líbero gosta desse papel. Quer ajudar o time dentro de quadra, mas também a lapidar jogadores. Lidera por exemplo.
- Estou muito feliz por estar aqui, treinando bem e vendo que a molecada me respeita. Os mais novos têm que levar o voleibol muito a sério, principalmente quando se representa um país que é uma potência. Para crescer, precisa treinar, e sei que tenho que ser exemplo, me dedicar e cobrar deles. O estímulo de alguém que já viveu tanta coisa dentro do esporte é bom para a garotada. Sei disso porque, quando cheguei na seleção brasileira, tinha uns monstros como Maurício, Giovane e Nalbert, e esses caras me cobravam. Agora, um papel que eu tenho que fazer o mesmo na seleção para que eles evoluam.
Fotos de Serginho e da geração campeã em
Atenas 2004 na parede do CT (Foto:
Danielle Rocha / GloboEsporte.com)
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Ele me ligou às 7h30. Não tinha nada para fazer, tinha acabado de se classificar para a semifinal da Superliga e telefonou (risos). Eu disse: "Vai dormir". Conversamos por 40 minutos. Aceitei e só pedi para não ir aos jogos na Austrália. É muito longe. Mesmo que ele queira me pôr, não vai me achar (risos). Eu queria voltar não pelo meu nome. Para tirar o lugar de alguém assim, preferia não estar. Queria voltar pelo que fiz na Superliga. Agora tenho que treinar, treinar e treinar. Dou bronca em todo mundo, até no Murilo. Eu tenho que cobrar e eles também me cobram. Eu tinha encerrado o ciclo na seleção até pela minha idade e porque a equipe tem uma renovação constante. Vários aqui falam que se espelham em mim, o que é legal. Mas tenho que treinar mais que eles e eles mais que eu. O pessoal me chama de velhinho, de vovô, de presidente...
Cruzar os portões do CT
Deu desânimo, porque no dia em que vim para cá peguei dois acidentes na estrada. Quando cheguei, já estava com adesivo de frágil nas costas (risos). Tudo aqui está igual: treinos, funcionários. Várias pessoas me agradeceram por eu ter voltado. Eu não tinha noção do que significo para o vôlei brasileiro. Fiquei emocionado. E isso me dá força. Meus filhos também ficavam me enchendo para que eu voltasse (risos). Bernardo trouxe jogadores para brigar de igual para igual. O Mario Jr. é um cara de confiança dele e fez muito bem o seu papel quando o Bernardo precisou. Foi campeão mundial e da Liga. A briga dos centrais é "monstra"! Vou ter até medo no treino (risos). Bernardo vai jogar as camisas para o alto e quem pegar, joga (risos).
Serginho e seus companheiros durante treino
em Saquarema (Foto: Danielle Rocha)
O trabalho é praticamente o mesmo. Hoje, eu não preciso dar mais cinquenta peixinhos no treino da manhã como antes e, na academia, não preciso mais abaixar para pegar peso, mas a preparação é igual. Até porque, se não for, vai fazer falta dentro de quadra. Estou me sentindo muito bem, terminei a Superliga sem dor alguma e espero contribuir da melhor maneira possível aqui na seleção. Bernardo foi para a Suíça (comanda o Rio de Janeiro no Mundial de Clubes) passear e eu não estou vendo as regalias que disse que eu ia ter, não (risos)
Revezamento de líberos numa partida
Falei para o Bernardo que isso não dá certo. Um fica com ritmo de passe bom e o outro com ritmo de defesa. Se tem um rali, atrapalha. A bola importante é sempre a próxima. Acho que você esfria com o revezamento. Acho que líbero é o líbero. Tem que defender, passar, chamar a cobertura, brigar e apoiar. Eu até já bloqueei (risos). Só não pode sacar, porque, se pudesse, também estaria lá.
Serginho diz sentir frio na barriga por voltar a vestir a camisa da seleção
(Foto: Alexandre Arruda/CBV)Liga
Mundial
A gente bateu na trave nos últimos anos. Normal. Não dá para crucificar um time que trabalha. E os títulos que perdemos foram em finais duras. Na temporada passada, houve aquele começo muito ruim e o time se recuperou, jogou bem. A seleção está acostumada a lidar com isso. Tenho fé nessa molecada. Temos jogadores evoluindo muito como o Lucarelli e o Lipe, que também é uma arma no saque. No vôlei, se você não evoluir, os outros passam por cima. Não é como no futebol, que você passa parte do jogo sem fazer nada e de repente vira um rei. No vôlei você ataca 10 bolas e tem que colocar oito bolas no chão. Não tem mentira. Fase final no Rio, no palco olímpico
Voltar a vestir a camisa da seleção me dá esse frio na barriga. E ainda bem, não é? Eu gosto de torcida a favor, mas gosto mais de torcida contra, me xingando (risos). É gratificante. Vamos ter que aproveitar o teste pré-olímpico. Na edição de 2008 da Liga, jogamos no Rio e ficamos em quarto. Tiramos lições daquilo e ganhamos no ano seguinte, tomando moeda na cabeça e com árbitro de má-fé. Aqui a gente vai ter pressão grande, mas os adversários também vão ter.
Olimpíadas de 2016
Ia ser lindo jogar a final olímpica em casa. Mas até lá tem muita história e muita coisa para acontecer. Eu tenho 2015 primeiro. Tenho que conquistar a minha vaga de titular primeiro, para depois haver a preocupação com as Olimpíadas. Agora, só penso em Liga Mundial. A Olimpíada está longe para quem treina duas vezes por dia. Mas no que depender de mim, a seleção vai ter outro espírito e outra cara. Eu não faço planos, não tenho prazo de validade. Ano que vem é outra história.
FONTE:
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