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- Brasil não atinge metas, mas sobe na tabela
A barreira da língua é um dos principais fatores de adaptação quando um estrangeiro chega à Rússia. No geral, só as pessoas mais jovens falam inglês, o idioma universal. Ainda mais, longe da capital. Para o Mundial de Chelyabinsk, a organização do evento deixou à disposição das delegações assistentes que falassem as principais línguas. E o Brasil deu sorte. Encontrou a jovem Ekaterina Nenakhova, de 20 anos, pelo caminho. Nascida na cidade, mas estudante de Relações Internacionais em Moscou, Kátia, como prefere ser chamada, ganhou os corações da comissão técnica e dos atletas. Como retribuição, pensou num presente especial, que refletisse todo o sentimento que viveu desde a chegada da equipe verde e amarela aos Urais.
Um dos símbolos do país serviu como inspiração, e Kátia encontrou nas matrioshkas, as típicas bonecas russas com diferentes tamanhos e que se encaixam uma dentro da outra, a lembrança ideal para a Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Mas ela não queria apenas comprar as bonecas. Desenhou e pintou com as próprias mãos sete delas - com direito até a back number. Mais que isso, escolheu personagens da seleção para cada uma. Da menor para o maior: Sarah Menezes, Rafaela Silva, Charles Chibana, Rochele Nunes, Luciano Corrêa e Rafael Silva. A última e maior boneca foi dividida pelos técnicos: Ney Wilson, Rosicléia Campos, Luiz Shinohara e Mario Tsutsui.
Matrioska ainda em produção (Foto: Arquivo Pessoal)
- Falei com os brasileiros, e estávamos conversando sobre matrioshkas. Aí pensei que seria engraçado fazer dos atletas, das diferentes categorias. Procurei ver se tinham matrioskas para pintar e achei numa loja. Foi difícil decidir quais atletas pintar. Queria desenhar todos, mas seria impossível. A Sarah, por ser a menorzinha, e o Baby, pelo tamanho, eram evidentes - contou a russa, que estuda na Universidade Estatal de Relações Internacionais de Moscou.
No curso, foi designada para se aperfeiçoar em uma língua, o português. Apaixonou-se. No ano passado, esteve em Belo Horizonte, Minas Gerais, durante cinco semanas (de 25 de junho a 2 de agosto) realizando um intercâmbio social. Voltou fluente e encantada com os brasileiros. Quando a oportunidade de trabalhar como voluntária no Mundial de judô surgiu, não titubeou. Aceitou o desafio e foi a voz da seleção por pouco mais de uma semana. Para receber a delegação, preparou, mais uma vez artesanalmente, um cartaz com a bandeira do Brasil.
A imagem do gestor técnico de alto rendimento, Ney Wilson, ganha forma (Foto: Arquivo Pessoal)
A atendente do hotel não fala inglês? Chama a Kátia. Precisa de informações mais específicas sobre alguma coisa? Chama a Kátia. E ela estava sempre ali. Até entrou ao vivo com o pesado David Moura em uma rede de televisão local e foi tradutora de Maria Portela e Rafaela Silva em uma sessão de autógrafos na Traktor Arena. Ao receber as matrioshkas após o encerramento da competição, Rosicléia Campos se encantou com a surpresa:
- Sensacional! Criativo e autêntico. Nunca recebemos nada parecido. Ficou perfeito. Tudo, até o detalhe do cordão que uso dos meus gêmeos. O trabalho dela foi fundamental. A gente não fica no escuro. Ela foi mais que especial. Tornou-se uma amiga e fez além do que tinha que fazer.
Com mais algumas palavras em português no vocabulário, muitas aprendidas com os membros da comissão técnica, Kátia volta para Moscou mais brasileira do que nunca, com a camisa da CBJ que ganhou e com o cartaz da bandeira autografado por atletas, técnicos, preparadores físicos, médico, nutricionista, fisioterapeuta, estrategista, administrativo e assessoria de imprensa.
- Foi superlegal, só emoções positivas. Estou triste que acabou, mas estar ao lado de brasileiros é sempre bom. Quando falo com os brasileiros não sinto problema de choque cultural. Somos até parecidos - encerrou Kátia com o sotaque do português de Portugal.
Kátia recebe a delegação brasileira na entrada do hotel em Chelyabinsk (Foto: Raphael Andriolo)FONTE:http://globoesporte.globo.com/judo/noticia/2014/09/atletas-e-tecnicos-do-brasil-viram-bonecarussas-em-chelyabinsk.htmls-