De acordo com a Globo, a Olimpíada se passa no Projac, a Baía da Guanabara está límpida, o Rio de Janeiro é Viena, tudo funciona perfeitamente e o interino, patrono da coisa, é um estadista.
Esse é o universo paralelo.
No mundo real, a Rio 2016 foi contaminada de maneira incontornável pelo golpe. Temer, um penetra numa festa que não bolou, tocou os Jogos com seu dedo podre.
Nesta sexta, 5, os protestos começaram logo pela manhã. Copacabana foi tomada por manifestantes que forçaram o desvio do trajeto da tocha.
Manifestações estão programadas para todos os dias de provas. Nas ruas, nos estádios e nos ginásios, faixas contra ele estão sendo desfraldadas. Começou na quarta feira, estreia do futebol feminino com Brasil e China, para desespero da organização.
Não adiantou tentar esconder, não adiantou jogar a polícia em cima das pessoas, não deu para o pessoal da sonoplastia soltar fogos para abafar vaias.
É um vexame internacional. Apenas 40 chefes de estados confirmaram presença na abertura, menos de metade dos que foram a Londres em 2012. O número alardeado por Serra já era ruim: 45. Apenas um deles, o presidente da Armênia, marcou reunião com MT.
A resposta da canalha é um recrudescimento na “segurança” (sinal dos tempos que virão?).
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que quem fizesse qualquer tipo de manifestação contrária ao evento estaria “jogando contra o Brasil”.
“Eu penso que as pessoas vão refletir. Cada um se prepare para arcar, sob ponto de vista político, sob o ponto de vista da sua consciência, do seu compromisso com os brasileiros de hoje e de amanhã por esse gesto [as vaias]”, disse.
A frase ecoa o “ame-o ou deixe-o”. O fato é que a Constituição e a liberdade de expressão acabaram sendo atropeladas.
Na partida entre Brasil e África do Sul, uma professora foi abordada por um policial identificado como “capitão Fabiano”. Ela estava com um grupo e filmou tudo.
“Eu posso lhe prender por desobediência”, falou Fabiano. “Eu já avisei a senhora que é contra a lei. Não vou punir a senhora. Mas, se a senhora levantar o cartaz, já sabe. Já está avisada”.
A regulamentação dos Jogos Olímpicos proíbe “bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter racista ou xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação” — o que não era o caso.
No jogo da seleção feminina, outro incidente similar. Um “fiscal” com crachá foi para cima de torcedores. “Se você se manifestar com uma faixa ‘Fora Temer’, nós vamos tomar. Dentro do estádio não pode. Não vou discutir com você. Você está avisado. Coloca de novo para você ver se não te prendo”, disse.
Em entrevista ao JornalGGN, o criminalista William Cesar Pinto explicou que “impedir que pessoas se manifestem em eventos esportivos, para que o mundo não tenha conhecimento do que ocorre aqui dentro, da satisfação ou insatisfação com determinado governo ou regime político, não é da essência da cultura e desses eventos esportivos. Cercear isso viola essa liberdade de manifestação e de expressão.”
Segundo o advogado, quem for retirado ou submetido a constrangimento pode recorrer à Justiça.
Numa carta aberta estúpida — provavelmente o discurso que ele trocou pela meia dúzia de palavras no Maraca —, Temer escreveu que “o diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios para avançar e garantir a retomada do crescimento”.
“É possível, também, mensurar o imenso legado em infraestrutura urbana feitos pelos governos municipal, estadual e federal e que ficarão para a população.”
É impossível separar o anfitrião do evento. Sete anos depois da escolha do Brasil para os Jogos, somos o Paraguai, uma chacota para inglês ver enquanto é assaltado.
Até 21 de agosto, não passará uma hora sem que o nome de Temer seja lembrado na Olimpíada — ainda que ele tente calar essas vozes e que a propaganda tente parecer que as instituições estão funcionando.
Este será o tal “imenso legado” da Olimpíada: a união contra quem usurpou a democracia e a festa.
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