Médica conta saga rumo ao Everest: gelo, dias sem banho e Harlem Shake
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Médica conta saga rumo ao Everest: gelo, dias sem banho e Harlem Shake


Karina Oliani, apresentadora de programa esportivo, enfrentou 55 dias de dificuldade até se tornar brasileira mais jovem a chegar ao topo da montanha

Por João Gabriel Rodrigues São Paulo


Eram 7h38m no Nepal quando Karina Oliani se viu quase completa. No início daquele 17 de maio, mais de 50 dias depois de pousar em Katmandu, ela sorriu, mas ficou alguns instantes sem saber o que fazer. Ali, a 8.848m do chão, no ponto mais alto do mundo, a médica e apresentadora se tornava a mais jovem brasileira a escalar o Monte Everest, aos 31 anos. Se o percurso foi longo, o tempo para aproveitar a conquista era curto. Pemba, guia local que a ajudou no caminho até o topo, não estava bem e precisava voltar. Lá, Karina só pôde ficar por 15 minutos. Tentou fixar bem a vista, agradeceu à família e se lembrou de uma promessa feita a uma amiga ainda no Brasil. 

Com a câmera ligada, improvisou alguns movimentos e, assim, parece ter quebrado mais um recorde: o de dançar Harlem Shake no local mais alto do mundo.

- Ela havia pedido e eu cumpri. Foi o Harlem Shake mais alto da história – brincou Karina, que, ao lado da irmã, Nathali, apresenta o programa “Do jeito delas”, do canal OFF.

Mosaico Karina Oliani Everest (Foto: Editoria de Arte)

De volta ao Brasil após a expedição, Karina tenta se recuperar. Depois de ficar até dez dias sem conseguir tomar banho, chegou ao país ansiosa por uma banheira e água quente. A fome também era grande. Na viagem, perdeu 5kg, mas não demorou a voltar ao peso normal.


- Cheguei e fui direto numa churrascaria (risos). Lá, você come tão repetidamente as coisas, que, quando volta, só come proteína. Em comi nuggets no café da manhã, carne que havia sobrado do jantar, carneiro... tudo – contou.

Karina Oliani Everest (Foto: Divulgação)Karina Oliani teve um longo percurso até o topo
do Monte Everest (Foto: Divulgação)

Mas, até voltar, Karina sofreu. A médica, especializada em medicina de emergência e resgate em áreas remotas, já havia viajado para o Everest outras duas vezes, em 2009 e 2010, para ajudar no atendimento aos alpinistas. Fascinada por esportes e acostumada a escalar, ela passou a planejar a própria subida ao topo da montanha. Conseguiu apoio, planejou a viagem e embarcou para o Nepal no fim de março. Passou por um longo processo de adaptação, entre subidas e descidas até os quatro acampamentos do Everest. No total, a viagem durou 55 dias, com temperaturas de até -40ºC, ventos de 140km/h e um aniversário comemorado a 7.500m de altura.

- A parte mais difícil foi ir para lá. No Everest, você vê gente do mundo inteiro. Quando eu estava, eram 350 escaladores. Eu era a única mulher, a primeira brasileira a chegar.  A maior parte do tempo, as pessoas acham que chegam na base e já podem ir para o cume. Mas é impossível. Se não fizer o processo de aclimatação, o cérebro incha, o pulmão encharca, e as pessoas morrem. Só nessa temporada, nove morreram. Escalei várias vezes até chegar ao cume, passei vários dias nos acampamentos. E comemorei meu aniversário a 7.500m de altura (risos). Tentei ligar para a minha irmã, que faz aniversário junto comigo, mas só conseguimos nos falar por vinte segundos.

O mais complicado, porém, ainda estava por vir. Ao alcançar o acampamento 4, início da chamada “Zona da Morte”, a 8.000m, Karina esteve perto de ver sua expedição chegar ao fim. A brasileira, que viajava com um cinegrafista e seu acompanhante, além do próprio guia, se viu sem oxigênio suficiente para toda a equipe.

Karina Oliani Everest (Foto: Divulgação)Médica e apresentadora, Karina lidou com temperaturas de até -40°C (Foto: Divulgação)

- Qualquer ser humano que ficar muito tempo a 8.000m vai morrer. Alguns vão morrer em poucas horas, outros em muitas, mas todos vão morrer. O corpo não foi feito para suportar aquela altitude. Então, não podíamos ficar muito tempo lá. A ideia era chegar por volta das 16h, 18h, descansar até as 22h e sair para o ataque ao cume. Mas não conseguimos. Os ventos estavam muito fortes, não dava. E tínhamos o oxigênio limitado. Insisti, tentei conseguir oxigênio com outras equipes, mas era mais fácil conseguir uma barra de ouro. Não conseguimos, foi aquela decepção. Comecei a chorar de raiva, falei que não ia descer. Scott (cinegrafista) já tinha feito a escalada antes, e a doida, querendo subir, ia ter de descer. Mas eles tiveram uma atitude muito legal. Eles desceram, me deram as garrafas extras de oxigênio e eu continuei com Pemba.

No caminho final até o cume, novos sustos. Karina e seu guia encontraram um outro alpinista, que não conseguia enxergar por causa dos ventos. Ao perceberem que o estrangeiro, que sequer falava inglês, não teria condições de descer a montanha, desistiram de ir até o topo. Já preparavam o socorro quando a equipe do alpinista apareceu e prestou a ajuda. Logo depois, porém, foi a vez de Karina ter problema com a visão. E a solução não foi das mais convencionais.

Karina Oliani Nathali Oliani irmãs (Foto: Divulgação)Ao lado da irmã, Karina (de biquíni rosa) apresenta
programa de esportes radicais (Foto: Divulgação)

- Os ventos são muito fortes, os olhos congelam. Cerca de 70% das pessoas que escalam o Everest têm algum grau de hemorragia no olho. Minha máscara já havia quebrado três vezes, congelada. Pemba precisou raspar para tirar o gelo. Mas, ali, meu olho esquerdo congelou. Todos os meus cílios ficaram colados. Fiquei nervosa, já comecei a imaginar o pior. Pemba tentou esfregar a luva, mas não adiantou, doeu ainda mais. Ele, sem escovar os dentes há não sei quantos dias, começou a lamber meus olhos (risos). Ficou assim por uns três minutos, até os cílios descongelarem (risos). Ainda continuei vendo embaçado, mas continuei. Ali, foi quando senti mais medo.

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Karina ainda não sabe se vai voltar ao Everest. Ainda assim, não perde o contato com o Nepal. Ao saber das condições de uma vila próxima à casa de seu guia, se impressionou. Com a ajuda de Pemba, dos pais e da irmã, vai financiar a construção de uma rede de distribuição de água para 15 famílias que precisavam andar 2km diariamente para poder tomar banho e ter como cozinhar. As aventuras da brasileira, no entanto, ainda não acabaram. Karina espera completar em breve o circuito de “Seven Summits”, formado pelas montanhas mais altas de cada continente. Depois de ter chegado ao topo do Aconcágua (Argentina), Kilimanjaro (Tanzânia) e Elbrus (Rússia), além do Everest, ela deseja ver o mundo também dos cumes de Vinson Massif (Antártida), do Denali (Alasca) e Carstensz Pyramid (Papua Nova Guiné).

- Acho que só dois brasileiros completaram. Nenhuma mulher. Então, você já vê a dificuldade. Eu já escalei quatro, faltam três. Estou trabalhando muito, falta tempo. Eu quero terminar o Seven Summits por mim, não por nenhum recorde. Se for a primeira brasileira, ótimo. Mas acho que dá para terminar em um ano, dois de repente.

FONTE:
ttp://globoesporte.globo.com/radicais/noticia/2013/06/medica-conta-saga-rumo-ao-everest-gelo-dias-sem-banho-e-harlem-shake.html



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