O silêncio de Juliana chegou ao fim com duras críticas. Reconvocada para a seleção brasileira de vôlei de praia há dez dias, a campeã mundial desabafou sobre o episódio de sua dispensa, em dezembro, e expôs sua insatisfação com o novo sistema implantado pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para a temporada 2013 do Circuito Mundial. Sem comunicação com a comissão técnica, a santista se vê à deriva e acredita que seu desempenho em quadra está comprometido.
- Eu não tive preparação, porque esse ano foi de muitas indecisões.Eu não sabia para onde eu ia, e acabou que isso atrapalhou muito a minha preparação e com certeza vai me atrapalhar durante o ano. Mas é um novo que a gente esta sendo obrigada a aprender.(...) Não dá para ter expectativa. Não sei quem é a minha parceira, não sei como é que vou jogar. Não tenho expectativa alguma. Eu soube por terceiros que vou jogar a etapa da Holanda. A comissão técnica não me falou nada. Até então a Ágatha jogava com a Maria. Não sei com quem a Maria joga, não sei com quem eu jogo. Está tudo muito estranho, muito difícil para mim.
Após uma década de trabalho com o técnico Reis Castro, sendo nove deles em parceria multicampeã com Larissa, Juliana agora encara uma realidade completamente diferente daquela a que está acostumada. Em vez do trabalho exclusivo que desenvolvia em um centro de treinamento próprio em Fortaleza, a santista divide há três dias as instalações do Centro de Desenvolvimento de Voleibol, em Saquarema, com outras 11 atletas da seleção feminina de praia, além dos atletas masculinos da areia e das duas seleções de quadra.
Apesar da boa infraestrutura que tem à disposição, a bloqueadora ainda não se adaptou ao sistema de rodízio de técnicos e parceiras durante as atividades. Sem medo de expor suas opiniões, Juliana revelou que a amizade e a parceria com Maria Elisa foi um dos principais fatores para que ela encarasse o desafio, mas que se vê à deriva, em situação que a faz lembrar um trecho da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana: "Festa estranha com gente esquisita". Confira a entrevista na íntegra.
Quais foram suas impressões desde que chegou a Saquarema?
Juliana: Acho que estou tendo impressões ainda. É tudo muito novo e diferente para mim.É estranho, muito estranho.
É muito diferente de tudo o que você viveu até hoje no vôlei de praia?
É muito cedo para falar porque só estou há três dias aqui. Ainda não tenho como fechar e falar que é tudo diferente, porque, como eu falei, é tudo muito estranho para mim. O lugar, as pessoas, menos a Maria. O resto é muito estranho, muito diferente para me adaptar. É como se eu tivesse que esquecer tudo o que aprendi para voltar da estaca zero.
Você acha que isso atrapalhou sua preparação?
Eu não tive preparação, porque esse ano foi de muitas indecisões.Eu não sabia para onde eu ia, e acabou que isso atrapalhou muito a minha preparação e com certeza vai me atrapalhar durante o ano. Mas é um novo que a gente esta sendo obrigada a aprender.
Você consegue criar alguma expectativa?
Não dá para ter expectativa. Não sei quem é a minha parceira, não sei quando é que vou jogar. Eu não tenho expectativa alguma.
Mas você está inscrita para a etapa da Holanda....
Pois é. Eu soube por terceiros que vou jogar a etapa da Holanda. A comissão técnica não me falou nada. Até então a Ágatha jogava com a Maria. Não sei com quem a Maria joga, não sei com quem eu jogo. Como falei está tudo muito estranho, muito difícil para mim.
Houve muita cobrança sobre a sua presença na seleção desde a desconvocação. Como você recebeu a notícia de que deveria se reapresentar dia 13?
Na realidade o que aconteceu sobre minha não vinda à seleção soou como algo muito ruim para mim, porque foi como se eu tivesse não dado a mínima para a seleção, e não foi isso. Eu pedi para a Confederação para não me apresentar, mandei um e-mail para eles antes. Enfim, já passou e não tem mais como voltar. Foi interpretado da pior forma possível, como se eu tivesse simplesmente esnobando a seleção, e não foi isso. Como eu sempre disse, a ideia da seleção é válida. Como está sendo, aí somos nós as cobaias para ver se vai dar certo ou não.
Você trabalhou só com o Reis por quase uma década. Como é trabalhar com tantos treinadores ao mesmo tempo?
É difícil, muito estranho. Está igual aquela música do Legião Urbana: festa estranha com gente esquisita.
Você que está situação tem como se resolver?
Acho que todo mundo está querendo resolver. Ainda não tive conversa com ninguém, Depende deles. Eles que falam, eles que decidem. Estou aqui há três dias, não sei como é. Mas aqui é tudo uma incógnita.Ninguém sabe nada, ninguém vê nada, ninguém fala nada. É surdo, cego e mudo.
Não conhecer o planejamento é o que mais te incomoda?
Imagine que estou, estamos em maio, até uma semana atrás estava com um plano totalmente diferente do que eu estou agora. E eu nunca fiz isso. Em dezembro, quando vira o ano,dia 1º, dia 10 de janeiro, eu já sentava com a minha comissão técnica e já planejávamos o que íamos fazer. Esse ano tem Copa do Mundo (Mundial da Polônia), então a Copa do Mundo seria o ápice de preparação e tudo.Então treinávamos em prol do campeonato.A gente tinha um objetivo, um foco. Esse ano estou à deriva.
Você acha que esse sistema obriga os jogadores a se provarem etapa a etapa?
Eu acho que, da forma que a seleção se encontra, os jogadores são peças de xadrez. Quem joga é a comissão técnica. As jogadoras querem ganhar, todo mundo quer ganhar, mas depende de um algo a mais. Todas as jogadoras que estão aqui sempre jogaram o Circuito Mundial e estão acostumadas com as suas comissões técnicas, as parceiras. Ainda assim às vezes não dava certo. Imagine: são quatro duplas para um técnico, para três pessoas, sei lá. É difícil para a gente, para eles também.
O que seria o ideal?
Eu não sei. Eu sou só jogadora. Quem tem que saber isso é a CBV.
Como jogadora, o que seria o ideal?
Se você perguntar para todas as jogadoras o que seria o ideal, todas elas responderiam que gostariam de ter seus técnicos aqui.
Se isso não mudar,você pensa em sair da seleção?
Na realidade, se você quer, você fica aqui. Senão você pede para sair. Eu ainda estou há três dias aqui. É tudo muito cedo para mim.
A companhia a Maria Elisa e poder treinar com ela é algo que te conforta?
A Maria com certeza foi um dos motivos para eu estar aqui. Eu sai de uma história de longa data pensando e desenhando um futuro com ela, e até agora não aconteceu. Isso acaba também te desmotivando, te deixando sem saber onde vai. Você tem que chegar aqui, fingir que nada aconteceu e vir jogar.
Você acha que esse sistema deixou o esporte mais individualizado, com cada jogador pensando e dependendo mais de si?
Eu acho que ele sempre foi individualizado, mas ele era individualizado em um conjunto. As pessoas confundiam e falavam que os atletas eram os donos das suas comissões técnicas. Os atletas formavam ideias juntos com os técnicos para eles vencerem Era uma coisa só. Não é porque a gente pagava eles que a gente mandava no time. A gente andava junto com a nossa comissão técnica. A gente sentava, organizava, via as coisas como tinham que ser, e daí sim saía o planejamento. A gente era dono, teoricamente, porque a gente pagava, mas nem por isso eles eram subordinados à gente. Hoje a gente é subordinado a eles, à comissão técnica.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/05/juliana-se-ve-deriva-e-critica-selecao-eu-nao-tenho-expectativa-nenhuma.html
- Eu não tive preparação, porque esse ano foi de muitas indecisões.Eu não sabia para onde eu ia, e acabou que isso atrapalhou muito a minha preparação e com certeza vai me atrapalhar durante o ano. Mas é um novo que a gente esta sendo obrigada a aprender.(...) Não dá para ter expectativa. Não sei quem é a minha parceira, não sei como é que vou jogar. Não tenho expectativa alguma. Eu soube por terceiros que vou jogar a etapa da Holanda. A comissão técnica não me falou nada. Até então a Ágatha jogava com a Maria. Não sei com quem a Maria joga, não sei com quem eu jogo. Está tudo muito estranho, muito difícil para mim.
Juliana em treinamento no CT de Vôlei de Saquarema nesta quarta-feira (Foto: Divulgação / CBV)
Apesar da boa infraestrutura que tem à disposição, a bloqueadora ainda não se adaptou ao sistema de rodízio de técnicos e parceiras durante as atividades. Sem medo de expor suas opiniões, Juliana revelou que a amizade e a parceria com Maria Elisa foi um dos principais fatores para que ela encarasse o desafio, mas que se vê à deriva, em situação que a faz lembrar um trecho da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana: "Festa estranha com gente esquisita". Confira a entrevista na íntegra.
Quais foram suas impressões desde que chegou a Saquarema?
Juliana: Acho que estou tendo impressões ainda. É tudo muito novo e diferente para mim.É estranho, muito estranho.
Juliana foi a única jogadora a subir ao pódio em
todas as etapas do Circuito Brasileiro 2012/13 (CBV)
todas as etapas do Circuito Brasileiro 2012/13 (CBV)
É muito cedo para falar porque só estou há três dias aqui. Ainda não tenho como fechar e falar que é tudo diferente, porque, como eu falei, é tudo muito estranho para mim. O lugar, as pessoas, menos a Maria. O resto é muito estranho, muito diferente para me adaptar. É como se eu tivesse que esquecer tudo o que aprendi para voltar da estaca zero.
Você acha que isso atrapalhou sua preparação?
Eu não tive preparação, porque esse ano foi de muitas indecisões.Eu não sabia para onde eu ia, e acabou que isso atrapalhou muito a minha preparação e com certeza vai me atrapalhar durante o ano. Mas é um novo que a gente esta sendo obrigada a aprender.
Você consegue criar alguma expectativa?
Não dá para ter expectativa. Não sei quem é a minha parceira, não sei quando é que vou jogar. Eu não tenho expectativa alguma.
Mas você está inscrita para a etapa da Holanda....
Pois é. Eu soube por terceiros que vou jogar a etapa da Holanda. A comissão técnica não me falou nada. Até então a Ágatha jogava com a Maria. Não sei com quem a Maria joga, não sei com quem eu jogo. Como falei está tudo muito estranho, muito difícil para mim.
Houve muita cobrança sobre a sua presença na seleção desde a desconvocação. Como você recebeu a notícia de que deveria se reapresentar dia 13?
Na realidade o que aconteceu sobre minha não vinda à seleção soou como algo muito ruim para mim, porque foi como se eu tivesse não dado a mínima para a seleção, e não foi isso. Eu pedi para a Confederação para não me apresentar, mandei um e-mail para eles antes. Enfim, já passou e não tem mais como voltar. Foi interpretado da pior forma possível, como se eu tivesse simplesmente esnobando a seleção, e não foi isso. Como eu sempre disse, a ideia da seleção é válida. Como está sendo, aí somos nós as cobaias para ver se vai dar certo ou não.
Você trabalhou só com o Reis por quase uma década. Como é trabalhar com tantos treinadores ao mesmo tempo?
É difícil, muito estranho. Está igual aquela música do Legião Urbana: festa estranha com gente esquisita.
Reis Castro e Juliana: parceria vitoriosa em um década de trabalho em conjunto (Foto: CBV)
Acho que todo mundo está querendo resolver. Ainda não tive conversa com ninguém, Depende deles. Eles que falam, eles que decidem. Estou aqui há três dias, não sei como é. Mas aqui é tudo uma incógnita.Ninguém sabe nada, ninguém vê nada, ninguém fala nada. É surdo, cego e mudo.
Não conhecer o planejamento é o que mais te incomoda?
Imagine que estou, estamos em maio, até uma semana atrás estava com um plano totalmente diferente do que eu estou agora. E eu nunca fiz isso. Em dezembro, quando vira o ano,dia 1º, dia 10 de janeiro, eu já sentava com a minha comissão técnica e já planejávamos o que íamos fazer. Esse ano tem Copa do Mundo (Mundial da Polônia), então a Copa do Mundo seria o ápice de preparação e tudo.Então treinávamos em prol do campeonato.A gente tinha um objetivo, um foco. Esse ano estou à deriva.
Você acha que esse sistema obriga os jogadores a se provarem etapa a etapa?
Eu acho que, da forma que a seleção se encontra, os jogadores são peças de xadrez. Quem joga é a comissão técnica. As jogadoras querem ganhar, todo mundo quer ganhar, mas depende de um algo a mais. Todas as jogadoras que estão aqui sempre jogaram o Circuito Mundial e estão acostumadas com as suas comissões técnicas, as parceiras. Ainda assim às vezes não dava certo. Imagine: são quatro duplas para um técnico, para três pessoas, sei lá. É difícil para a gente, para eles também.
Juliana e Maria Elisa: parceria fez com que santista
quisesse estar em Saquarema (Foto: CBV)
quisesse estar em Saquarema (Foto: CBV)
Eu não sei. Eu sou só jogadora. Quem tem que saber isso é a CBV.
Como jogadora, o que seria o ideal?
Se você perguntar para todas as jogadoras o que seria o ideal, todas elas responderiam que gostariam de ter seus técnicos aqui.
Se isso não mudar,você pensa em sair da seleção?
Na realidade, se você quer, você fica aqui. Senão você pede para sair. Eu ainda estou há três dias aqui. É tudo muito cedo para mim.
A companhia a Maria Elisa e poder treinar com ela é algo que te conforta?
A Maria com certeza foi um dos motivos para eu estar aqui. Eu sai de uma história de longa data pensando e desenhando um futuro com ela, e até agora não aconteceu. Isso acaba também te desmotivando, te deixando sem saber onde vai. Você tem que chegar aqui, fingir que nada aconteceu e vir jogar.
Você acha que esse sistema deixou o esporte mais individualizado, com cada jogador pensando e dependendo mais de si?
Eu acho que ele sempre foi individualizado, mas ele era individualizado em um conjunto. As pessoas confundiam e falavam que os atletas eram os donos das suas comissões técnicas. Os atletas formavam ideias juntos com os técnicos para eles vencerem Era uma coisa só. Não é porque a gente pagava eles que a gente mandava no time. A gente andava junto com a nossa comissão técnica. A gente sentava, organizava, via as coisas como tinham que ser, e daí sim saía o planejamento. A gente era dono, teoricamente, porque a gente pagava, mas nem por isso eles eram subordinados à gente. Hoje a gente é subordinado a eles, à comissão técnica.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/05/juliana-se-ve-deriva-e-critica-selecao-eu-nao-tenho-expectativa-nenhuma.html