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por : Jose Cassio


Suplicy
Suplicy

O ex-senador Eduardo Suplicy recebeu o DCM em sua casa na rua Manduri, próximo ao Shopping Eldorado.
Falou sobre a eleição municipal – é o puxador de votos do PT para a Câmara de vereadores -. sobre a cidade e, especialmente, e com exclusividade, sobre a ex-esposa, Marta, candidata do PMDB à prefeitura.
Suplicy diz que, se pudesse dar um conselho à Marta, diria para ela não votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.  
“Respeito a decisão dela de ter ido para o PMDB, mas daí votar pelo impeachment da presidenta, sinceramente, não acho correto”.
O ex-senador torce para que Dilma vá ao Senado fazer sua defesa.
Neste caso, gostaria que ela, olho no olho com Marta, pudesse recordar momentos em que ela, Dilma, confiou inteiramente na senadora. E então fazer a peemedebista reconhecer que se houve erros na administração não foram de má fé, nem de ilicitude, muito menos de crime de responsabilidade.
Suplicy pede que Marta reveja sua decisão. “É o que eu espero”.
Confira os principais trechos da entrevista.
DCM – Qual a avaliação que o senhor faz dos adversários do Fernando Haddad?
Eduardo Suplicy – Acho que vai haver uma disputa muito difícil para qualquer um dos candidatos, inclusive para Fernando Haddad.
São candidatos potencialmente fortes.
A Marta [Suplicy] é uma pessoa que foi prefeita de São Paulo e que é reconhecida em seus méritos. São muitas coisas que ela fez, inclusive com o apoio do PT na época. Agora tem a parceria com o André Matarazzo, que gostaria também de ser candidato a prefeito, e que está junto à Marta. Tem o João Dória Jr., que tem o apoio de um partido muito forte, o PSDB, e do próprio governador do Estado.
A Luiza Erundina, pelo PSOL, que é muito querida por nós.
Sou amigo da Luiza Erundina e me dou bem com ela. Por todos os nossos anos de convivência, ela foi candidata à vice, ou, quando ela foi candidata à prefeita, eu a apoiei por toda parte, e convivi muito com ela como presidente da Câmara Municipal.
E nos meus anos de senador, e ela, deputada, tantas vezes convivemos e estivemos juntos em manifestações. Domingo passado, estávamos juntos no ato pela democracia no Largo da Batata. Ela falou, Ivan Valente falou, eu em seguida falei, junto com outros oradores. Também reconheço ela como uma pessoa que conhece muito bem a cidade de São Paulo e que é muito querida aqui, sobretudo na área periférica.
E Celso Russomano, que é uma pessoa que está à frente das pesquisas e que tem um papel importante em defesa do consumidor, pelo qual ele tem sido reconhecido.
Agora, Fernando Haddad está com ações de grande importância para melhorar a qualidade de vida do paulistano. Ele tem uma visão como prefeito e interessado no direto à cidade, direito à cultura, direito à educação, direito à vida, direito aos parques e das áreas verdes, e melhoria das vias de São Paulo.
À medida que a população conhecer em profundidade tudo aquilo que ele realizou até agora, acredito que ele vai para o segundo turno, numa disputa difícil, e deve ganhar as eleições. Acho que todos estes têm possibilidade de chegar.
DCM – E a Marta, como o senhor analisa o momento dela?
ES – Sobre a saída do PT, compreendo muitas das razões que ela fala que houve erros que aconteceram, mas quando se está numa grande organização e algumas pessoas cometem erros gravíssimos, até de enriquecimento ilícito, constitui nosso dever procurar primeiro corrigir estes erros e ali onde estivermos agirmos com toda correção.
DCM – O senhor acha que ela se equivocou? A Erundina usou um termo forte: disse que ela traiu o PT, pois saiu no momento em que o partido mais precisava dela. O senhor concorda?
ES – Se puder ter a oportunidade de fazer a Marta refletir… Olha, no dia da convenção do PT no domingo retrasado, fiquei muito impressionado como foi realizada aquela convenção, com recursos modestos. Inclusive, creio que não houve ali ônibus que estivesse transportando pessoas. Estava inteiramente lotado, capaz de ter ido 4 mil, 5 mil pessoas. Com anunciamentos do Ciro Gomes, do Haddad, do Lula, do Gabriel Chalita, que entusiasmaram a militância, e pensei:
“Puxa vida, se a Marta estivesse aqui e estivesse falando, ela iria também ser muito bem aceita pela militância”. Da mesma maneira que a vi ser tão aplaudida nas vezes em que ela foi candidata à deputada federal pelo PT em 1994; em 1998 a governadora, quando ela quase empatou com Mário Covas; quando foi candidata vitoriosa à prefeita; em 2004, por pouco ela não chega lá na tentativa de ser reeleita.
Ela então foi convidada pelo presidente Lula para ser a ministra do Turismo em 2010, ao lado da presidenta Dilma. E, para Marta, a ascensão das mulheres a postos de comando foi sempre uma de suas bandeiras. Foi eleita senadora. Uma vez senadora, pelos votos do PT, foi a vice-presidente do senado. Concluído seu mandato para vice-presidente do senado, foi convidada para ministra da Cultura da presidenta Dilma, portanto conviveu com Dilma em seu governo, além de ter convivido com o presidente Lula.
Se erros houve na condução de pessoas em alguns governos, seja os apontados na investigação sobre o Mensalão ou na operação Lava Jato, importante é que cada pessoa responda por suas responsabilidades. Mas sair do partido que a ajudou? Será que não seria próprio, pensando em todas essas coisas e sabendo que a presidenta Dilma é uma pessoa séria, honesta e que não cometeu atos ilícitos quando presidenta, muito menos atos de enriquecimento pessoal, e que, conforme nos diz o Ministério Público Federal, não cometeu as chamadas pedaladas, que ela então pudesse resolver votar contra o impeachment e explicar ao PMDB o por que da sua decisão? 
Vamos supor que, na reta final, diferentemente do que espero e vou me empenhar para que Haddad chegue ao segundo turno, a Marta versus João Dória, ou a Marta versus Russomanno, e digamos que a Marta, pelos fatores históricos que acabo de falar, resolva então a recomendação de mostrar contas, explicando ao PMDB…
Respeito a decisão dela de ter ido para o PMDB, mas daí votar pelo impeachment da presidenta Dilma, sinceramente não acho correto. E como há senadores do PMDB, como Roberto Requião, que tem essa convicção, e ela pode muito bem conversar com ele, e inclusive fiquei até contente quando vi a presidenta Dilma dizer que está considerando ir sim ao Senado fazer sua defesa, porque, neste caso, ela poderá, olho no olho de cada um dos senadores, como a própria senadora Marta, dizer a ela e recordar momentos em que a presidenta Dilma confiou inteiramente nela, e as razões pelas quais Marta teria toda a convicção de compreender que se ela errou na administração, não foram erros de má fé, nem de ilicitude, muito menos de crime de responsabilidade da presidente, e vote não ao impeachment, é o que espero.
E se ainda sim ela proceder, terá condição… se houver uma convenção do partido para decidir, afinal, em qual candidato vamos votar, se ela votar não, como ela poderá estar numa convenção do PT para pedir que o partido vote nela. O PT é uma força muito importante na cidade de São Paulo.
DCM – Qual a sua opinião sobre esse desejo de setores da sociedade de que o Supremo impeça a candidatura do Censo Russomanno, menos por aspectos legais, mais por uma alegação de que São Paulo não merece ter ele como prefeito. O senhor tem alguma ideia formada disso?
ES – Existe uma legislação eleitoral, com respeito a quem é que pode se candidatar, que diz que aquela pessoa que tiver uma condenação, acho que na primeira estância, e, portanto, pela chamada Lei da Ficha Limpa, que então a pessoa não pode se candidatar. A outra coisa é se garantir a qualquer pessoa o legítimo direito de defesa dela.
O deputado Celso Russomanno tem expresso em suas entrevistas que, primeiro, é inocente, e que ele tem convicção de que será inocentado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, que acredito que esteja para ser julgada a questão. Não conheço os detalhes do que aconteceu e acho muito importante assegurar a ele a defesa completa e que possam os ministros responsáveis fazer a avaliação, se ele tem ou não responsabilidade sobre o que foi objeto da denúncia.
Acho que depende apenas disso querer afastar um candidato ou não, por mais que esteja na liderança, sem ele comprovadamente, merecer, é golpe, sem dúvida.
DCM – O senhor tem perspectiva de quantos votos pode ter na eleição para vereador?
ES – Não medi ainda.
DCM – Os outros candidatos andam com um mapinha para monitorar os apoiadores e as perspectivas de votação. No seu caso é difícil fazer isso?
ES – É difícil. O que posso lhe dizer é que, durante todo tempo que eu fui senador, fui parlamentar e sempre fui carinhosamente recebido nos lugares aonde tenho ido e com muito respeito. Pouquíssimas vezes situações como aquela que um dia ocorreu na saída do auditório da Livraria Cultura. Tinha ocorrido a entrevista pela CBN com o prefeito Fernando Haddad. Estava lotado o auditório, mas tinha um grupo de 10, 12 pessoas, que começaram a procurar dificultar a entrevista do prefeito, daí a Fabíola Cidral, jornalista da CBN, disse uma certa hora: “Parem de fazer barulho, vocês vão ter direito de perguntar e expressar sua opinião”, e aí eles acalmaram um pouco.
Tiveram a oportunidade de falar ao final. Pelo menos três deles falaram, mas daí fui cumprimentar o Fernando Haddad no palco. Ao sair, um rapaz me perguntou sobre a nova política de proibir doações de empresas privadas, e achei muito positivo, e um grupo dessas 10, 12 pessoas começou a gritar: “Suplicy vergonha do Brasil”. Fui até eles, tentei conversar, não quiseram. Continuavam a gritar. Fui embora e eles ainda tentaram hostilizar o prefeito quando ele saiu.
DCM – Mas essa não é uma situação que ocorre?
ES – Citei essa ocasião porque era uma exceção. Nos lugares aonde tenho ido… Ainda ontem à noite, participei de um jantar do prefeito em Aricanduva com mais de 200 pessoas que compareceram ao restaurante. Na hora que acabou o jantar, mal conseguia andar meio metro sem ser parado por dezenas de pessoas que quiseram tirar foto, abraçar, dizer o quanto que gosta de mim, e isso ocorre… Se você sair comigo, por exemplo, na Av. Paulista, sempre as pessoas me tratam bem, vêm me cumprimentar. Quando passo, são muito difíceis atitudes hostis, são de apoio.
DCM – Como foi o episódio da sua prisão na Raposo Tavares?
ES – Logo após a convenção do PT no domingo retrasado, estava perto do prefeito Fernando Haddad, e um grupo de moradores que ocuparam aquela área, representando cerca de 350 famílias, fizeram um apelo ao meu lado para que não houvesse a reintegração naquele dia por uma série de problemas que estavam ocorrendo, e o prefeito até disse ao seu auxiliar para conversar com o subprefeito do Butantã para que não fosse realizada aquela integração naquele dia.
Na manhã seguinte, por volta das 8h30, me ligam aquelas pessoas que tinham conversado com o prefeito ao meu lado, disseram: “Por favor, venha aqui, porque a aqui está um forte aparato policial,  retroescavadeiras. Disseram que vão destruir nossas casas”. Saí de casa e cheguei por volta das 9h. Ao subir uma ladeira, ouvi umas oito bombas de gás lacrimogênio.
Fiquei preocupado. Fui procurar a oficial de Justiça, o capitão da operação, e chegou também o Luiz Antônio Medeiros, secretário coordenador das subprefeituras. Fomos percorrer onde tinham caído as bombas. Vimos uma senhora, mãe de três filhos, que levava um colchão e que nos disse: “Soltaram uma bomba de gás lacrimogênio em minha casa, fiquei muito assustada, minha pressão foi lá pra cima e precisei sair.
Fiquei preocupado com aqueles eventos, então voltamos eu e o secretário, até que chegou o secretário de assuntos jurídicos, Barreirinhas, que explicou que, como se tratava de uma área de alto risco, caso a prefeitura não realizasse a operação de reintegração, poderia ser acionada na Justiça por improbidade administrativa e que, portanto, era necessário organizar a reintegração.
Aí vi que havia uns 10, 12 policiais militares com escudos, cacetetes e armas e começaram a avançar e cerca de 80 moradores passaram a empurrar os escudos. Começou a haver um movimento e pensei: “Aqui vai ter um conflito sério”. Então, pensei no que fazer, e até falei para Luiz Antônio Medeiros: “Olha, vou me deitar no chão”. Então deitei no chão. Algumas mulheres se deitaram ao  meu lado e parou aquela tensão. Mas aí a oficial de justiça e o capitão pediram para que me levantasse e permitisse a operação. Falei: “Olha, não vou resistir. Se quiserem, podem me levar, mas vou permanecer aqui”. Nessas ocasiões, penso naquelas pessoas que sempre procuraram defender os direitos pela não violência, como Mahatma Ghandi e Martin Luther King.
Falei com a oficial de justiça se eu poderia falar com o juiz que estava determinando de maneira intransigente a operação. Ela falou que não. Então disse que a polícia me levasse. O próprio capitão e diversos policiais me levantaram. O Luiz Antônio Medeiros teve até uma hora que agarrou minhas pernas, mas daí estavam me levando, segurando pelo braço, e quando ele me segurou um PM puxou muito o meu braço esquerdo e precisei alertá-lo em voz alta: “Assim você vai quebrar o meu braço”. Que até agora está doendo na junta embaixo do ombro. Depois que alertei o PM me levaram com calma e respeito. Me colocaram sentado na viatura. E três dos PMs que tinham me levado me acompanharam até o 75º Distrito Policial e ali expliquei que minha atitude foi de prevenir um possível conflito de violência e, tanto o delegado de plantão quanto o delegado titular ouviram e, com todo respeito, disseram que ainda iriam ouvir os policiais e a oficial de justiça e, após três horas, fui liberado e vim para casa.
DCM – Qual análise o senhor faz do dia a dia da cidade? O senhor contou que quando foi presidente da Câmara, tomou algumas medidas no sentido de transparência. Qual a necessidade hoje? Qual a contribuição espera dar como vereador?
ES – Acho que é uma das prioridades pensar primeiro em oferecer boas oportunidades de educação para todas as crianças e jovens, se possível em tempo integral, e para os adultos.
Com respeito a este objetivo, tem sido uma preocupação maior do prefeito Fernando Haddad, que tem na educação um de seus objetos de atenção especiais. Ele tomou providências para que, ao longo deste seu governo, até agora mais de 100 mil vagas em creches foram abertas.
Também no ensino de primeiro grau, que é responsabilidade principal da prefeitura, ele procurou medidas para aumentar a qualidade da educação. Teve no secretário Gabriel Chalita uma pessoa de muita experiência e conhecimento nesta área. Procurou desenvolver os CEUs e ampliou o número, que são iniciativas da então prefeita Marta Suplicy de 2000 a 2004, sendo que o próprio Fernando Haddad foi um dos membros da equipe que ajudou a elaborar o conceito dos CEUs.
Os CEUs passaram a ser um centro cultural muito importante de multiplicação de atividades, inclusive agora são 20 salas de cinemas que passam filmes da melhor qualidade para pessoas carentes. Também, como parte da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, onde está a política para idosos, em três CEUs e em duas unidades da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), se iniciou ano passado cinco cursos para a Universidade Aberta para Idosos. Eu inclusive dei algumas aulas inaugurais e outras aulas de conclusão do curso para turmas de 50 pessoas idosas de 60 anos ou mais. Também na gestão de Fernando Haddad houve, nos CEUs, o oferecimento de cursos superiores, possibilitando a pessoas carentes que têm tido dificuldade de estudar em nível superior, mas agora tem tido algumas unidades dos CEUs…
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Jose Cassio
Sobre o Autor
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo



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