Há algo de irônico nas duas pontas que unem a história recente da Espanha em Copas – a largada em 2010 e a despedida em 2014. Quando foi campeã, começou perdendo (1 a 0 para a Suíça); quando fracassou, terminou ganhando. Por mais estima que despertasse a Austrália, a vitória de 3 a 0 da Roja na tarde desta segunda-feira, na Arena da Baixada, em Curitiba, evitou uma crueldade do futebol com uma geração tão talentosa, tão vencedora. Em jogo com pinta de despedida para o maior grupo de jogadores que a Espanha já teve, nada mais simbólico do que David Villa, em seu último jogo pelo país, fazer o primeiro gol do triunfo - completado por Fernando Torres e Juan Mata.
A Austrália volta para casa com sua pior campanha em Copas. Jamais havia ficado sem somar um pontinho que fosse. Mas a dor certamente é maior na Espanha. A vitória evitou algumas cicatrizes na Fúria: não ser a lanterna geral do torneio, não ser a pior campeã a defender o título, não fazer a trajetória mais fraca da história do país em Mundiais. Dos fiascos, o menor. Mas é puro consolo – insuficiente para apagar tamanha decepção.
David Villa, de letra, faz o primeiro gol da
Espanha (Foto: AP)
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A Espanha usou uma base reserva em campo. Jogou o mínimo possível para ganhar – ao menos pareceu interessada em campo. A Austrália, com Bresciano no banco e sem Cahill, fez o mesmo que fizera contra a Holanda: incomodou um gigante, mas perdeu.
Assinatura de Iniesta, letra de Villa Mais pela gesticulação incessante dos jogadores da Espanha do que por falhas na composição do time, ficou evidente, no começo do jogo, que não era a Fúria habitual. Estava clara a falta de entrosamento - algo compreensível para uma equipe mista. De titulares, Del Bosque mandou quatro a campo: Sergio Ramos, Jordi Alba, Xabi Alonso e Iniesta. Os demais eram reservas. Passa por aí parte da explicação para as dificuldades que os campeões mundiais tiveram no começo da partida.
A Austrália começou em cima. Esticando passes, verticalizando o jogo e até marcando pressão, deu trabalho à defesa da Espanha, embora sem conseguir criar chances claras. A torcida foi no embalo. Gritou olé em trocas de passes dos Socceroos e entoou cânticos de “eliminado” para a Espanha.
Iniesta comanda meio-campo da Espanha
contra aAustrália (Foto: Getty Images)
O domínio australiano perdurou pelo primeiro terço da etapa. A partir daí, usando os lados do campo, aproveitando a onipresença de Iniesta pelo meio e explorando as caídas de David Villa pela esquerda, a Espanha começou a mandar na partida. Alba, em ótimo passe de Torres, poderia ter feito o primeiro gol já aos 22 minutos, mas o goleiro Ryan salvou a Austrália ao defender o chute cruzado.
A Espanha começou a trocar passes, aumentando a posse de bola e avançando o time em bloco para o ataque – caraterísticas tão suas. Villa cresceu ainda mais no jogo. E acabou abrindo o placar.
Foi aos 34 minutos. Iniesta recebeu pela direita e usou sua clarividência para perceber a entrada de Juanfran pela direita, em um passe que é a assinatura do meia, é sua carteira de identidade. O lateral dominou, olhou para a área, analisou o posicionamento da defesa australiana e encaixou o passe para Villa. De letra, o atacante mandou para o gol. Ao comemorar, beijou o escudo da camisa repetidas vezes. Era seu último jogo pela Espanha.
Lágrimas de Villa, gols de Torres e Mata O segundo tempo pouco diferiu do primeiro. A Austrália manteve a carga ofensiva que sua relação com a bola permite. A Espanha ficou na dela, controladora, saindo para o ataque quando convinha. O jogo ficou morno. Mas teve seu momento emotivo: David Villa, ao ser substituído, por Juan Mata, caiu no choro no banco de reservas. Naquele momento, ele era um ex-jogador da Espanha.
A Austrália tentou ameaçar com McKay. O chute da entrada da área, porém, passou por cima.
Fernando Torres foi mais eficiente. Recebeu de Iniesta (sempre ele) na área aos 23 minutos e só desviou do goleiro: 2 a 0. Pouco depois, Juan Mata dominou sozinho e, frente a frente com Ryan, jogou a bola entre as pernas do goleiro para fechar o placar.
Fernando Torres desvia do goleiro para fazer
2 a 0 para a Espanha (Foto: Reuters)
Aí foi só esperar o tempo passar. A Espanha seguiu o resto do jogo fazendo aquilo que faz há seis anos, aquilo que a fez ganhar duas Euros e uma Copa: tocar a bola. E também aquilo que, na roda viva do futebol, a fez fracassar em 2014, a fez voltar para casa nesta segunda-feira, 23 de junho, o dia que marca o fim de uma era para a melhor seleção dos últimos anos.