Bruna Paula em ação no jogo entre Brasil e Coreia do Sul (Foto: Wander Roberto/Photo&Grafia)
A mãe colhia os grãos nas fazendas espalhadas pela região e solteira, levava a filha junto. No período do "saco cheio", o ápice da colheita, também sobrava para ela. Ali, tirando grão por grão com as mãos, Bruna precisava de habilidade para não estragar o fruto do cafeeiro. A mesma destreza que agora apresenta em quadra no Mundial da Dinamarca.
- Minha mãe trabalha na colheita do café até hoje. Em Campestre, na minha cidade, em Minas Gerais. E eu também já colhi café. Não trabalhava sempre, mas na semana de "saco cheio", que é quando chamamos o período de maior colheita e no período das férias escolares, ia com a minha mãe sim. Eram 30 minutos até as fazendas ao redor da cidade. Não lembro de nomes, mas íamos de ônibus ou de caminhão - lembra Bruna.
Bruna ao lado da mãe e das irmãs em Campestre,
Minas Gerais (Foto: Reprodução/Facebook)
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Aos dez anos, Bruna conheceu o handebol. O professor da escola viu na menina esguia um perfil ideal para o handebol. Veloz e um pouco mais alta que as colegas, ela passou a se destacar. Do tempo que colheu café ao lado da mãe e das quatro irmãs Francielle (29), Eduarda (26), Bianca (11) e Marília (22), a armadora direita guarda a humildade e até a técnica. Precisava ser veloz para colher os frutos e delicada para não danificá-los, o que segundo ela, pode ter ajudado no esporte.
- É preciso ter cuidado com o grão para não estragar. Tem que ter todo um jeito. Lá você trabalha com a mão, aqui no handebol também. Tem uma ligação. Você precisa de uma "ligereza" na mão para colher rápido também. Acredito que influencie em alguma coisa. Mas, minha família sempre me apoiou. Sempre pediu para fazer algum esporte e estudar - se recorda.
Aos 19 anos, Bruna Paula é a mais nova da seleção (Foto: Wander Roberto/Photo&Grafia)
- O orçamento era apertado. Sempre foi minha mãe sozinha. Pensão nunca ajudou. Para comprar um tênis e uma roupa era apertado. Tinha que treinar com tênis velho e durar. E ela ficava em um dilema. Comprava para uma e deixava a outra sem? Ela tinha que se virar. É bem diferente estar aqui no Mundial, na Dinamarca, jogando ao lado das atuais campeãs mundiais. Meu próximo sonho são as Olimpíadas. Deu uma piscadinha aqui para participar. Esse é meu próximo objetivo. Vou tentar - garante a jovem.
O próximo jogo do Brasil será contra a Argentina, nesta quinta-feira, às 13h (de Brasília), com transmissão do SporTV, e Bruna estará em quadra por alguns minutos. Vem ganhando a confiança de Morten Soubak a cada partida. Vencer o duelo e ajudar o Brasil é o plano principal, mas a armadora também tem outra meta. Quer usar a competição para se destacar e ir para a Europa. E por isso até deixaria o sonho da faculdade de educação física ou veterinária esperar mais um pouco. Tudo para retribuir tudo que a mãe fez por ela até agora.
- Ajudar minha mãe e dar uma vida melhor para ela é tudo que mais quero. Por tudo que ela já fez pela gente. Mais que tudo, quero retribuir isso. Vai ser um orgulho para mim. Agora, jogar um Mundial. Ela não tem nem noção do que é isso. No Brasil está meio difícil. Não sei como vai ficar, se vai ter time na próxima temporada. Tenho que melhorar isso. Vou aproveitar o Mundial para
tentar mostrar meu trabalho. É uma vitrine. Quero ajudar o Brasil e como consequência tentar alguma coisa na Europa - finaliza.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/handebol/noticia/2015/12/da-colheita-do-cafe-para-o-mundial-bruna-quer-retribuir-carinho-da-mae.html