O Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:
Temer e procuradores da Lava Jato acertaram “cessar fogo” para derrubar Dilma
(Este texto foi escrito com o que já estava publicado no início da madrugada. No próximo, trato dos áudios de Renan)
O conchavo entre Temer e a república de Curitiba do Ministério Público está sendo revelado na edição da Folha desta quarta-feira, em reportagem que já está no ar na versão eletrônica do jornal.
É um escândalo sem precedentes, porque nem foi feito com a chefia da instituição, mas com um grupo que se adonou do poder investigatório e se constitui num poder paralelo dentro da Procuradoria.
Leia o texto estarrecedor da Folha:
Um emissário do presidente interino Michel Temer (PMDB) e representantes da força-tarefa da Operação Lava Jato encontraram-se na véspera da sessão do Senado que selou o afastamentoda petista Dilma Rousseff.
O encontro tratou de uma espécie de “acordo de procedimento” que não colocasse em risco as investigações.
A conversa foi entre o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), um dos assessores mais próximos de Temer, e os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, e Roberson Pozzobon.
O diálogo, de quase duas horas de duração, ocorreu após um evento organizado pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) em Brasília.
Anteriormente, os procuradores haviam recusado um encontro com o próprio Temer, articulado pelo ex-presidente da ANPR Alexandre Camanho, que é homem de confiança do peemedebista.
Temer, que mostrava preocupação com a disseminação da ideia de que seu governo enterraria a Lava Jato devido ao grande número de peemedebistas investigados, aprovou a sugestão.
A preocupação cresceu com a sondagem feita ao advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, um crítico da Lava Jato, para ocupar o Ministério da Justiça. A nomeação de Mariz fracassou após ele dar uma entrevista à Folha atacando a operação.
O encontro com Temer, porém, foi rejeitado pelos procuradores, que rechaçaram uma possível conotação política na proposta. Eles também mostraram receio de que o ato fosse interpretado como apoio ao impeachment.
Apesar disso, na conversa entre Loures e os procuradores, foi acertada a manutenção no cargo do superintendente da Polícia Federal no Paraná, Rosalvo Franco, responsável pela Lava Jato.
Loures ouviu dos investigadores que a permanência de Franco seria sinal importante e prometeu consultar Temer.
“Eu disse para os procuradores que se o conforto era dar essa garantia, iria levar o pedido ao presidente”, relatou o ex-deputado à Folha.
Na mesma noite, o assessor levou o pleito a Temer, que aceitou o pedido.