Árbitro diz ter sofrido outros casos de racismo no RS e cogitou largar o apito
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Árbitro diz ter sofrido outros casos de racismo no RS e cogitou largar o apito


Márcio Chagas da Silva foi vítima de atos racistas por parte da torcida do Esportivo em jogo na última quarta-feira, pelo Campeonato Gaúcho

Por Porto Alegre

A situação vivida por Márcio Chagas da Silva na última quarta-feira, no jogo entre Esportivo e Veranópolis, não é uma novidade para o árbitro. Na profissão há 15 anos, ele já sofreu com o racismo em outras duas situação que, até hoje, não esquece. Em 2005, foi vítima de insultos por parte do técnico Danilo Mior, então no comando do Encantado, em partida disputada em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. No ano seguinte, ouviu ofensas do goleiro Larry Diovane, que jogava no Cruzeiro-RS. Com a Polícia Militar no gramado, o jogador acabou preso e saiu algemado do estádio Estrelão – como punição, pagamento de cestas básicas.

No último caso vivido, as palavras ditas por um grupo de torcedores do Esportivo chegaram a fazer com que Márcio Chagas cogitasse "dar um tempo" da arbitragem. Ao voltar para casa depois de ter o carro danificado, o árbitro, eleito o melhor do Gauchão 2013, cogitou repensar a carreira. Mas decidiu continuar e não "baixar a cabeça", em suas próprias palavras.

O GloboEsporte.com conversou com Chagas sobre o assunto. Confira a entrevista na íntegra:

Márcio Chagas da Silva árbitro (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
Márcio Chagas da Silva relatou atos racistas 
(Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)

GloboEsporte.com: Você já sofreu um caso semelhante, em 2005. Como aconteceu naquela ocasião?
Márcio Chagas da Silva: Foi outra situação desagradável Era a Copa Federação Gaúcha, realizada no segundo semestre, e o jogo era Caxias contra Encantado. Fui insultado e xingando pelo treinador do Encantado (Danilo Mior), que me chamou de macaco. Expulsei-o da casamata (área técnica) e encaminhei a súmula para a Federação. Ele foi julgado e teve uma punição que, naquele momento, achei muito leve. Mas como teve recupercussão depois, através de um jornalista que fez matéria, o assunto voltou. Houve novo xingamento, e ele teve punição maior.

Lembra qual foi a primeira punição e a segunda?
Se não me engano, foram 30 dias (de suspensão) na primeira. Achei que era nada, porque a equipe já estava eliminada da competição, então ele já ia cumprir normalmente. Então foi só para constar. Com a repercussão, (a pena) aumentou para 60 dias.

Que outros casos aconteceram contigo? É comum?
Passei no ano de 2006 outra situação muito desagradável, com o Cruzeiro aqui da capital (Porto Alegre). Com um goleiro (Larry Diovane) que me insultou, me chamou de ladrão, macaco e safado. Ele deu azar porque a Polícia Militar estava entrando bem na hora, aí ele foi preso. Saiu algemado. Fizemos a ocorrência na área judiciária, e a pena aplicada foi o pagamento de cestas básicas.

Houve outros casos recentes, como o do Tinga e do Arouca. Você vê o racismo crescendo?
Eu tenho um certo receio de que isso volte aos séculos passados. Lógico que não voltaremos à escravidão, porque não tem como. Mas (a uma época) de ignorância, porque as pessoas não sabem conviver, não sabem aceitar as diversidades. Tenho uma preocupação porque tenho filho pequeno. Espero que ele não passe pelo que eu passei, pelo que meus pais passaram. O convívio tem que ser harmônico. O que prevalece é o caráter, não a cor da pele.

O episódio fez você pensar em desistir da arbitragem?
Sim. Eu voltei (para casa) muito chateado. Pensei em dar uma pausa, para refletir um pouco. Mas também depois, friamente, quando eu baixei a adrenalina, achei que não. Eu não estou errado. Eu tive a atitude correta. Não tenho por que baixar a cabeça. Eu sou preto, você é branca, e nós vamos conviver. Vou tomar como lição para seguir minha trajetória como venho fazendo.

Como o racismo começou na quarta-feira? 


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É uma região na qual eu evito até aquecer dentro do campo, para evitar insultos e xingamentos. É bem constante esse tipo de manifestação, principalmente na Serra Gaúcha. Na quarta, fiz o mesmo procedimento que normalmente faço, aqueci no vestiário para já evitar esse dissabor. Ao entrar no campo de jogo, já fui xingado por um grupo de torcedores que estava próximo do vestiário. Me chamaram de macaco, ladrão, escória, lixo, coisas do tipo. Mas entrei em campo e atuei os 45 minutos. No retorno para o vestiário fui insultado novamente. Comuniquei a Brigada Militar que iria tomar providências se aquilo continuasse. Ao retornar, continuaram, assim como no término da partida.

Essas manifestações eram pontuais quando nos dirigíamos ao vestiário, não durante o jogo. Porque se acontecessem durante eu pararia a partida. Se não parassem, eu encerraria o jogo. Ao término, aconteceu novamente, e me deparei com meu carro com as portas amassadas a pontapés, com bananas em cima dele, assim como no cano de escape. Achei o fim da picada, um absurdo, o extremo que chegou a ação do ser humano. Chamei um dirigente do Esportivo, que estava no refeitório junto aos atletas, e um carro da imprensa local para testemunhar, para que não houvesse divergências posteriores. Mas alguns dirigentes tentam colocar que eu plantei as fotos, que elas não foram tiradas lá. Foram tiradas sim no estacionamento destinado à arbitragem da Montanha dos Vinhedos. Não teria motivo algum para inventar aquilo. Eu sei o quanto lutei para comprar meu carro, e não iria enchê-lo de pontapés para pedir ressarcimento.

Qual a sua expectativa em relação a punições para o caso?
Encaminhei para a Federação Gaúcha, e o julgamento deve acontecer na semana que vem. Acredito que haverá bom senso do Esportivo para que haja ressarcimento e o conserto do meu veículo. Mas se não houver, vou ter que acionar judicialmente, porque meu carro estava em um local privativo, dentro do clube. A justiça terá que prevalecer, porque foi um absurdo.

Márcio Chagas da Silva árbitro (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
Márcio Chagas da Silva afirma que pensou em 
parar (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)

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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2014/03/arbitro-diz-ter-sofrido-outros-casos-de-racismo-no-rs-e-cogitou-largar-o-apito.html




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