A final na rua Atlético Mineiro: noite para torcedores e secadores
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A final na rua Atlético Mineiro: noite para torcedores e secadores


Via com o nome do clube reúne atleticanos e rivais no bar do cruzeirense Zé Galinha enquanto o Galo faz o jogo mais importante de sua vida

Por Alexandre Alliatti Belo Horizonte

Torcedores de rua Atlético-MG (Foto: Alexandre Alliatti) 
Zé Galinha, cruzeirense, com a ala atleticana da família na rua Atlético-MG (Foto:Alexandre Alliatti)
 
Se essa rua, se essa rua fosse dele, Zé Galinha não mandaria ladrilhar, como ensina a canção. Mandaria era trocar de nome. Pois veja como o mundo é feito de pequenas ironias: Zé Galinha, apesar do apelido galináceo, não torce pelo Galo. É  ensandecido pelo Cruzeiro. Mas tem um pequeno porém em sua existência: ele vive e trabalha em uma rua que atende pelo singelo nome de... Atlético Mineiro.

Pobre Zé Galinha. Ele chega a carregar uma conta de luz a tiracolo. Se por um desses acasos da vida alguém pergunta ao cruzeirense qual o endereço dele, o sujeito aponta para o papel. Nem que chovam canivetes ele diz que mora na rua com o nome do rival. Mas, vá lá, aceita que seu bar receba torcedores do Galo. Inclusive em final de Libertadores. Foi lá, na cidade de Vespasiano, na pequena edificação do número 568, que a reportagem do GLOBOESPORTE.COM assistiu ao jogo mais importante da história do clube que batiza aquela rua.

Mosaico rua atletico-mg (Foto: Alexandre Alliatti) 
Torcedores do Atlético-MG na rua que leva o nome do clube em Vespasiano (Foto: Alexandre Alliatti)
 
Terra nem só de atleticanos
A rua Atlético Mineiro fica na Vila Esportiva. Por causa do nome do bairro, várias vias por ali carregam nomes de times: rua Cruzeiro, rua América, rua Flamengo, rua Corinthians. Os atleticanos se orgulham de que sua rua é a principal da região. De fato, é. Paralela à MG 010, ela se estende por quase um quilômetro. Fica em uma zona humilde de Vespasiano. É composta por residências e pequenos estabelecimentos comerciais.

Ali, claro, não há só atleticanos. Zé Galinha (ele se chama Aldeir Almeida de Aguiar, mas ninguém o conhece assim) que o diga. Sua família é composta basicamente por cruzeirenses. Uma rara exceção é o neto, Luís Otávio, que veste camisa do Galo e tudo. Ele tenta converter o garoto para seu lado, mas não é fácil. E nem é algo lá muito importante para ele. Basta ver a alegria do comerciante ao falar da família para entender que tudo que ele quer é ver o sangue de seu sengue unido. Zé Galinha chega a chorar quando fala dos filhos, da esposa, do neto - torçam para quem torcerem.

Torcedores de rua Atlético-MG (Foto: Alexandre Alliatti) 
Cruzeirenses festejam gol do Olimpia, enquanto atleticanos lamentam (Foto: Alexandre Alliatti)
 
A noite desta quarta-feira era inédita. Pela primeira vez, o Atlético disputava um jogo final de Libertadores da América. Mas a rua com o nome do time ficou longe de viver clima de decisão. A maioria dos torcedores deixou suas casas para assistir ao jogo contra o Olimpia em um telão colocado em uma praça local. Outros, cerca de 30, foram ao bar de Zé Galinha. Atleticanos torcendo, cruzeirenses secando. O segundo grupo se deu melhor.

A turma se dividiu. Os torcedores do Galo, com camisas e bandeiras, ficaram sentados em cadeiras na calçada do bar - ou dentro dele. Os cruzeirenses, a maioria à paisana, ficou atrás. O clima chegou a ficar hostil entre as pessoas, vizinhas de bairro, no decorrer da partida. Esteve em vias de ter briga. Ângela, a esposa de Zé Galinha, precisou intervir. Ela é escutada por ali. Tem voz firme.

Enquanto isso, por ordem dela, seu marido via o jogo dentro de casa. Já houve ocasiões em que ele próprio quase saiu no soco com um torcedor rival. Ele é fanático mesmo. Chegou a vender uma das duas casas que tinha na rua Atlético Mineiro, irritado com o endereço. Restou uma. Queria mesmo era morar na rua Cruzeiro.
 - Lá é mais alto. Tudo no Cruzeiro é maior - brinca.
 
Rua Atlético Mineiro (Foto: Alexandre Alliatti) 
Rua Atlético Mineiro enfeitada com bandeira do Galo na decisão da Libertadores (Foto: Alexandre Alliatti)
 
Correu o jogo, e saiu o primeiro gol do Olimpia. Os cruzeirenses festejaram aos pulos, enquanto os atleticanos começaram a balançar a cabeça, contrariados. Nem a cerveja gelada e o feijão tropeiro animavam. Era ruim a atuação do Galo - ignorada por crianças com camisa do Atlético, que brincavam por ali, alheias ao fato de o time delas disputar o jogo mais importante de sua existência.

As dificuldades seguiram no segundo tempo para o Galo. Em Vespasiano, a turma ficou mais separada, dado o clima pesado: torcedores do Atlético em uma calçada, secadores do outro lado da rua. O 1 a 0 não era de todo ruim para o representante brasileiro na decisão continental. Mas veio o segundo gol, quase no fim do jogo. A decepção tomou conta de uma parcela da rua Atlético Mineiro - mas não de Zé Galinha, que nesse momento pouco se importava com os cartazes com símbolos do Galo espalhados por seu estabelecimento.

Acabou o jogo. Alguns poucos fogos pipocaram pela rua Atlético Mineiro, em celebração pela derrota do time de mesmo nome. Aos torcedores do Galo, restou o alento de quem nem tudo está perdido, de que ainda tem o jogo de volta; aos cruzeirenses, pairou o sentimento de que talvez ainda não seja o momento de o rival também ser campeão da América. No sofá de casa, Zé Galinha sorriu.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/mg/noticia/2013/07/final-na-rua-atletico-mineiro-noite-para-torcedores-e-secadores.html



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