José Carlos Pinto Filho tem 65 anos. Passou mais de metade da vida vendendo feijão tropeiro e outras iguarias no Mineirão. Com a reforma do estádio e a mudança de regras para comercialização de comida no local, teve que arredar pé. Mudou-se para um bairro calmo, praticamente imune a prédios, onde idosos caminham lentamente por ruas íngremes, onde todo mundo se conhece. E onde o inferno é estabelecido em grandes jogos do Atlético-MG.
Afinal, “caiu no Horto, tá morto”, orgulhou-se a torcida do Galo ao longo da Libertadores do ano passado. Foi ali que o clube, com muita pressão de seus súditos, buscou alguns de seus maiores feitos recentes – o milagre de Victor no último minuto contra o Tijuana, a classificação nos pênaltis contra o Newell’s Old Boys. A torcida adotou o Independência como lar. Adotou o Horto como sua casa. E criou no local a maior discrepância possível: tão pacato em situações normais, tão explosivo quando o Atlético está ali.
O tropeirão de José Carlos também encontrou ali seu novo reduto. E estará à espera do primeiro jogo da grande final da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, às 22h.
- Pro Mineirão, não volto mais – diz o novo cidadão do Horto.
Origem ferroviária, vocação pacata
O Horto fica na parte Leste de Belo Horizonte. Foi originado como um bairro de ferroviários. A linha férrea e a estação presentes no local ganharam a companhia de uma oficina de reparos de maquinário. Com isso, profissionais passaram a se instalar por ali para ficar mais perto do trabalho. A região, antes pertencente à Fazenda Boa Vista, começou a ter ares de urbanização.
A origem ferroviária persiste. A antiga estação segue ali. Serve para transporte de cargas e, curiosamente, ainda atende passageiros. No local, passa uma linha que liga Vitória (ES) a Belo Horizonte. Ao lado dela, está uma mais moderna, a Estação Horto, integrante da malha de metrô da cidade.
As características do bairro, claro, mudaram com o tempo. Hoje, é um local basicamente residencial, tomado de casas, com ruas silenciosas e de comércio básico – bares e mercadinhos. No censo de 2010, a população do Horto foi estimada em pouco mais de 9 mil pessoas.
Boa parte dos moradores é da terceira idade. Há um grupo de idosas que faz novenas pelas ruas do Horto. Clima bem diferente daquele vivido em dias de jogos do Galo.
Casa do Galo, mas repleta de cruzeirenses
Os bares do Horto têm símbolos do Atlético. Mas não são doidos de se resumir ao Galo: também contam com escudos do América, o dono do Independência, e do Cruzeiro – usam painéis disponibilizados por uma cervejaria. Muitos deles são localizados a dois ou três passos do estádio. São redutos de torcedores.
Olhando à primeira vista, a identificação parece maior com o Atlético. O nome do clube aparece em paredes; bandeiras são esticadas em janelas. Mas o recorrente uso do estádio pelo Galo ainda não conseguiu transformar o bairro em QG alvinegro. É bastante dividido.
O gerente comercial Paulo Lage mora na região desde os 10 anos. É vizinho do Independência. E cruzeirense. Do portão de casa, vê multidões de atleticanos rumando ao estádio.
- A convivência é muito boa. Os cruzeirenses conhecem os atleticanos, e vice-versa. Todo mundo brinca, mas sem problemas. Hoje em dia, sobe esse bando de atleticano, e eu falo: “Cheguei aqui primeiro” – brinca o morador do Horto.
Nesta terça-feira, véspera da grande decisão, seis trabalhadores cuidavam de uma rua ao lado do estádio. Eram cinco cruzeirenses e um atleticano. O papo entre eles, claro, era a final de quarta-feira.
- Vai ser 5 a 1 pro Galo – animou-se o atleticano solitário, consciente da soberania de seu time sobre o rival desde a reabertura do estádio: quatro vitórias do Atlético e três empates em sete jogos.
- Quando a gente ganhar aí dentro, o Atlético nunca mais ganha – respondeu um cruzeirense.
Nesta quarta-feira, haverá apenas torcida atleticana no clássico. O Cruzeiro dispensou sua carga de ingressos. José Lucas, o homem do tropeirão, promete receber bem os torcedores. E acha melhor não revelar para qual time torce – afinal, todos passam por ali.
- Torço para os dois, né? Não posso me entregar, não. Fico muito feliz de o Atlético estar ganhando.
O Independência, símbolo máximo do Horto, foi erguido para sediar jogos da Copa do Mundo de 1950. Recebeu três partidas. Voltou a ser usado no Mundial de 2014, como campo de treinamentos. O Atlético tem contrato de dez anos para utilização do estádio onde tentará manter seu lema: “Caiu no horto...”.
Afinal, “caiu no Horto, tá morto”, orgulhou-se a torcida do Galo ao longo da Libertadores do ano passado. Foi ali que o clube, com muita pressão de seus súditos, buscou alguns de seus maiores feitos recentes – o milagre de Victor no último minuto contra o Tijuana, a classificação nos pênaltis contra o Newell’s Old Boys. A torcida adotou o Independência como lar. Adotou o Horto como sua casa. E criou no local a maior discrepância possível: tão pacato em situações normais, tão explosivo quando o Atlético está ali.
Estádio Independência, no Horto, é a panela de
pressão do Galo na final da Copa do Brasil
(Foto: AFP)
O tropeirão de José Carlos também encontrou ali seu novo reduto. E estará à espera do primeiro jogo da grande final da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, às 22h.
- Pro Mineirão, não volto mais – diz o novo cidadão do Horto.
Origem ferroviária, vocação pacata
Independência é o ponto mais famoso do Horto (Foto: Alexandre Alliatti)
A origem ferroviária persiste. A antiga estação segue ali. Serve para transporte de cargas e, curiosamente, ainda atende passageiros. No local, passa uma linha que liga Vitória (ES) a Belo Horizonte. Ao lado dela, está uma mais moderna, a Estação Horto, integrante da malha de metrô da cidade.
As características do bairro, claro, mudaram com o tempo. Hoje, é um local basicamente residencial, tomado de casas, com ruas silenciosas e de comércio básico – bares e mercadinhos. No censo de 2010, a população do Horto foi estimada em pouco mais de 9 mil pessoas.
Horto tem origem ferroviária que se mantém
atualmente (Foto: Alexandre Alliatti)
Boa parte dos moradores é da terceira idade. Há um grupo de idosas que faz novenas pelas ruas do Horto. Clima bem diferente daquele vivido em dias de jogos do Galo.
Casa do Galo, mas repleta de cruzeirenses
Bares têm símbolos dos três clubes mineiros (Foto: Alexandre Alliatti)
Olhando à primeira vista, a identificação parece maior com o Atlético. O nome do clube aparece em paredes; bandeiras são esticadas em janelas. Mas o recorrente uso do estádio pelo Galo ainda não conseguiu transformar o bairro em QG alvinegro. É bastante dividido.
O gerente comercial Paulo Lage mora na região desde os 10 anos. É vizinho do Independência. E cruzeirense. Do portão de casa, vê multidões de atleticanos rumando ao estádio.
- A convivência é muito boa. Os cruzeirenses conhecem os atleticanos, e vice-versa. Todo mundo brinca, mas sem problemas. Hoje em dia, sobe esse bando de atleticano, e eu falo: “Cheguei aqui primeiro” – brinca o morador do Horto.
Horto mantém calmaria habitual um dia antes
de ferver com a decisão da Copa do Brasil
(Foto: Alexandre Alliatti)
Nesta terça-feira, véspera da grande decisão, seis trabalhadores cuidavam de uma rua ao lado do estádio. Eram cinco cruzeirenses e um atleticano. O papo entre eles, claro, era a final de quarta-feira.
- Vai ser 5 a 1 pro Galo – animou-se o atleticano solitário, consciente da soberania de seu time sobre o rival desde a reabertura do estádio: quatro vitórias do Atlético e três empates em sete jogos.
- Quando a gente ganhar aí dentro, o Atlético nunca mais ganha – respondeu um cruzeirense.
Símbolo do Atlético em muro no Horto
(Foto: Alexandre Alliatti)
(Foto: Alexandre Alliatti)
- Torço para os dois, né? Não posso me entregar, não. Fico muito feliz de o Atlético estar ganhando.
O Independência, símbolo máximo do Horto, foi erguido para sediar jogos da Copa do Mundo de 1950. Recebeu três partidas. Voltou a ser usado no Mundial de 2014, como campo de treinamentos. O Atlético tem contrato de dez anos para utilização do estádio onde tentará manter seu lema: “Caiu no horto...”.
José Lucas agora leva o tropeirão do Mineirão
para o Independência. E diz que torce pelos
dois (Foto: Alexandre Alliatti)
FONTE:
http://glo.bo/1xJgrjs