"Caipirão", Thomas Müller usa lições da infância pelo título da Alemanha
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"Caipirão", Thomas Müller usa lições da infância pelo título da Alemanha


Artilheiro dos germânicos na Copa com quatro gols, camisa 13 tem um perfil diferente das estrelas internacionais. Sua criação em um vilarejo com 2.500 habitantes explica


Por Munique, Alemanha
Thomas Müller sempre foi estranho ao mundo do futebol. No dia de sua estreia pela seleção principal da Alemanha, pegou a camisa 13 que ninguém queria como se fosse o ato mais normal do mundo e entrou em campo para um amistoso contra a Argentina. Ignorou a superstição de boleiros com o "número de azar" e herdou o manto que acabara de ser deixado pelo ex-capitão Michael Ballack, camisa que um dia também foi vestida por um dos maiores jogadores alemães de todos os tempos, Gerd Müller. Não foi excesso de autoconfiança ou soberba. No caso de Thomas, nem famosa a frieza alemã. A melhor palavra para descrever o jovem atacante e sua atitude aparentemente inconsequente é "tranquilidade".

Dentro de campo, o cabelo está sempre desarrumado; a camisa, larga demais; e as meias, arriadas. Seus passos são desengonçados. Quem vê Müller pela primeira vez, não o assimila com uma estrela do futebol. Já para quem acompanha sua trajetória, é difícil relacionar a pouca atenção que o atleta recebe da mídia internacional perto do que já conquistou: o alemão tem no currículo 12 títulos pelo Bayern de Munique e uma artilharia de Copa do Mundo – em 2010, na África do Sul –, entre outras conquistas individuais. Não conecta. Por que não vemos Müller em tantos outdoors e propagandas como Cristiano Ronaldo, Neymar ou Messi?

Thomas Muller comemora gol da Alemanha contra Portugal (Foto: Getty Images)
Camisa para fora do calção, meias arriadas, 
jeito meio desengonçado... E muitas bolas 
na rede (Foto: Getty Images)


saiba mais

  • Vila que revelou Thomas Müller torce por título e artilharia de seu prodígio
  • FOTOS: conheça Pähl, a terra natal do artilheiro Thomas Müller

Para tentar entender mais sobre o craque, que já tem quatro gols no Mundial do Brasil e é candidato a ser artilheiro da competição pela segunda vez consecutiva, o GloboEsporte.com foi buscar as origens do jogador. Müller é caipira. Bem "jeca" mesmo, e nem se incomoda com esse tipo de apelido. Ele tem orgulho de ter sido criado até os dez anos em Pähl, uma vila com menos de 2.500 habitantes e apenas 32km² de extensão.

Ao contrário de festas em iates, supercarros e baladas, ele gasta seu tempo livre na roça. Seus principais hobbies são jogar cartas com os amigos, passar o dia com os pais em sua antiga casa e montar a cavalo com a esposa, Lisa, que é amazona e adestradora.

– Aqui na Alemanha costumamos dizer que ele tem os pés plantados no chão, e não voando por aí como Cristiano Ronaldo ou outros jogadores – diz Dieter Wirsich, aposentado, parceiro de tênis do jogador desde jovem.

Palh cidade de Thomas Muller - Vitrine da única padaria da cidade tem mini-museu de Muller, com presentes dados por ele (Foto: Cassio Barco)
Vitrine da única padaria da cidade natal de 
Müller tem minimuseu com presentes dados
 por ele (Foto: Cassio Barco)

O amigo chegou a aconselhar o pequeno Thomas a seguir carreira com a raquete nas quadras, mas não deu nem tempo de escolher o esporte. O futebol escolheu Müller quando, aos 10 anos, o pequeno atleta dominou um campeonato de futebol local e foi levado para o Bayern de Munique por um olheiro que assistia à partida.

Thomas não deixou o vilarejo e era levado aos treinos em Munique por seus familiares. Assim, continuou em Pähl e foi educado na base da simplicidade. Não há como ser de outra forma quando se vive numa cidade onde há apenas uma padaria, uma farmácia, um banco... Todo mundo se conhece e depende de todo mundo. Isso tudo parece refletir na forma como o atacante joga seu futebol atualmente.


Palh cidade de Thomas Muller - Amigos de Muller reunidos no tênis clube da cidade, Thomas era um bom jogador (Foto: Cassio Barco)
Em Pähl, sua cidade natal, Thomas Müller tem 
grupo fiel de amigos para as peladas de tênis 
(Foto: Cassio Barco)

Em campo, Müller é simples. Não dá dribles, não tenta nada extravagante, mas sempre encontra um caminho para o gol. Suas finalizações e assistências possuem tanta naturalidade quanto seu sorriso fora de campo. Nada sobe à cabeça do jogador: nem a vitória, nem a derrota.

– Thomas é único. Eu era o preparador de goleiros do time da vila, e ele, quando estava de folga em Pähl, ia comigo até o campo chutar umas bolas e ajudar. Isso até três anos atrás, quando já era uma estrela do Bayern. Para nós eram momentos mágicos. Essa história mostra o quão humilde ele pode ser – conta Wener Grünbauer, que teve um "upgrade" na carreira e hoje é o prefeito da cidade.

Foi por isso que Müller não teve dificuldades em superar o trauma de perder duas finais da Liga dos Campeões, uma delas em casa, na Allianz Arena, em 2012. No ano seguinte conquistou o título contra o Borussia Dortmund, em Wembley. E é assim, levantando a taça no Brasil, que ele espera se recuperar de ter visto das arquibancadas a Alemanha ser eliminada em 2010, após levar uma suspensão por colocar a mão numa bola boba e não poder ajudar o time com seus gols contra a Espanha. O mundial de 2014, ironicamente, pode ser seu 13º título.


alemanha muller porto alegre (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)
Müller se acostumou com o forte assédio da 
torcida brasileira na Copa (Foto: Diego 
Guichard/GloboEsporte.com)


Até aqui já são quatro gols na competição, três marcados na estreia contra Portugal e um em cima dos Estados Unidos. São nove gols e quatro assistências em nove jogos juntando as duas Copas. Números impressionantes. Companheiro de time e maior artilheiro da história da competição, com 15 gols – dividindo a posição com Ronaldo Fenômeno –, Klose já disse que espera ser superado um dia por Thomas.


A lenda Gerd Müller, que tem 13, concorda que isso acontecerá. E quem duvida? Aos 24 anos, se mantiver o alto nível, poderá disputar mais duas Copas, pelo menos. Tempo e cabeça no lugar a ele não faltam. A primeira chance de ampliar esse placar será já nesta sexta-feira, quando a Alemanha enfrenta a França pelas quartas de final, às 13h (de Brasília), no Maracanã.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/alemanha/noticia/2014/07/caipirao-thomas-muller-usa-licoes-da-infancia-pelo-titulo-da-alemanha.html



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