O dia da primeira final do Campeonato Paulista foi dia dos filhos  demonstrarem seu amor pelas mães. Elas foram homenageadas com fotos no  Instagram, Facebook, palavras bonitas, presentes... E dona Erica, além  de tudo, ganhou uma atuação daquelas para sair de casa com a camisa 8 do  filho, toda orgulhosa, cheia de si. O gol, os desarmes, os chutes, as  jogadas e o sorriso de Paulinho fizeram dela a mais feliz das mães  envolvidas na decisão. E fizeram dos corintianos os alvinegros mais  felizes do Pacaembu.
   A vitória por 2 a 1 sobre o Santos deixa o Timão a um empate da conquista - e a equipe de Tite está prestes a acertar com mais um reforço.  O Peixe precisa de um triunfo simples para levar a decisão aos pênaltis  na Vila Belmiro. Vale lembrar que a equipe da Baixada bateu Palmeiras e  Mogi Mirim dessa forma antes de chegar à final. Se ganhar por dois gols  de diferença, o time de Muricy Ramalho será tetracampeão, feito até  hoje alcançado somente pelo Paulistano, de 1916 a 19, e que coroaria a passagem de Neymar, cada vez mais perto de ser negociado com um clube espanhol. 
 
Paulinho se emociona com gol sobre o Santos (Foto: Rodrigo Coca/Agência Estado) 
Paulinho fez o primeiro gol da vitória. Brigou no segundo, marcado por  Paulo André. Fez de tudo um pouco. Se o Paulistão do jogador da seleção  brasileira até então não era dos melhores, ele apareceu na hora mais  importante. Fez valer o esforço de dona Erica, que o criou sem o pai, e  pedia dinheiro ao borracheiro para que o filho pudesse treinar, como mostrou reportagem do Esporte Espetacular neste domingo. 
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 Resultado justo numa decisão que, por muito tempo, teve apenas um time  em campo. A primeira jogada razoável de Neymar ocorreu aos cinco minutos  do segundo tempo. Vejam bem, razoável! O primeiro escanteio surgiu aos  18, quando o Corinthians já havia batido nove. A estratégia de escalar  Marcos Assunção fracassou e foi abandonada no intervalo. Já o Timão  esteve quase sempre num ritmo superior. Disputava uma final mesmo,  enquanto os visitantes demoraram para engrenar. Antes, pareciam estar  numa oitava rodada de Paulistão.
   Com 2 a 0 no placar, o passo do Timão rumo ao troféu era enorme, mas houve tempo para que o predestinado Durval, em busca de seu 11º título estadual consecutivo, diminuísse de cabeça e colocasse ainda mais fogo na segunda partida.
   Se o placar é favorável ao Corinthians, a semana dará ao Santos mais  descanso. O Timão recebe o Boca Juniors na quarta-feira, e precisa  vencer por dois gols de diferença para avançar às quartas de final da  Libertadores. Já o Peixe, que só volta a campo pela Copa do Brasil no  dia 22, contra o Joinville, na Vila, terá a semana inteira para pensar  só no Corinthians. 
 
Marcos Assunção ganha no alto disputa com Danilo (Foto: Marcos Ribolli) 
Corinthians x Ninguém
   Se o texto referente ao primeiro tempo não tivesse o nome de nenhum  jogador do Santos, não seria absurdo algum. É preciso esforço para  destacar uma linha ao time comandado por Muricy Ramalho, que escalou  Marcos Assunção no meio sob o pretexto de liberar Arouca e Cícero para  armarem o time, e respaldado na ideia de que todos sabem jogar. Podem  até saber, mas não estavam muito a fim. Totalmente entregues à marcação  corintiana, os santistas abusaram dos chutões, não conseguiram trocar  três passes consecutivos, e fizeram com que até Neymar se integrasse à  mediocridade da equipe. O craque reclamou demais de Miralles, em duas  oportunidades, e Arouca na sequência.
   Quem mereceu elogios por alguns minutos foi Léo, que cortava  insistentes cruzamentos do lado esquerdo corintiano. Com Bruno Peres de  volta ao time após longo período afastado por lesão, Fábio Santos,  Danilo e Emerson armaram triangulações e deram trabalho. A distância  entre as linhas de zaga e meio-campo do Santos era um abismo onde Danilo  deitava e rolava. Em uma das chegadas em velocidade, Sheik ajeitou o  corpo e parecia que soltaria um chute tão fulminante quanto aquele de um  ano atrás, da semifinal da Libertadores, na Vila Belmiro. Mas a bola  saiu rasteira e Rafael, desta vez, espalmou. 
 
Isolado, Neymar foi encurralado pela marcação do Corinthians (Foto: Marcos Ribolli) 
Apesar do domínio, poucas chances eram criadas. Foi aí que o filho da  dona Erica resolveu desequilibrar. Nome certo na convocação de Luiz  Felipe Scolari para a Copa das Confederações, nesta terça-feira,  Paulinho deitou e rolou. Considerado volante nas convenções do futebol,  foi meia e atacante. Mexeu-se pelos dois lados, ajudou o meio a subir a  marcação e quase fez três gols. Quase!
   Primeiro, cabeceou livre para fora. No fim do primeiro tempo, acertou  um chute sensacional no travessão, e ainda viu Guerrero, sozinho, chutar  para fora no rebote. Entre um lance e outro, foi oportunista após  cobrança de falta de Romarinho e desvio de Danilo. Bateu com firmeza, e  fez justiça a 45 minutos de um time só. 
 
Paulo André comemora, enquanto Durval se lamenta, no chão (Foto: Marcos Ribolli) 
De um lado Paulinho. Do outro, a reação
   Qualquer mãe festejada em seu dia, que estivesse assistindo ao jogo em  sua casa, sabia que Marcos Assunção tinha de sair. Muricy também sabia.  No primeiro tempo, ele bateu uma falta (de forma péssima) com menos de  um minuto de jogo, e depois foi espectador de uma final que acontecia em  sua volta. Felipe Anderson voltou do intervalo em seu lugar, e André no  de Miralles. Mas Paulinho também voltou, para desespero santista.
   O Peixe melhorou, até porque piorar era impossível, mas os lances de  maior perigo ainda foram corintianos. Foram de Paulinho. Primeiro, ele  desarmou Neymar e armou contra-ataque, que passou por Guerrero e chegou a  Emerson. Rafael saiu corajosamente nos pés do atacante. Depois,  arrancou do campo de defesa, passou por Durval como se o zagueiro fosse  um cone, fez nova finta, mas bateu para fora. Ovacionado pela torcida.
   Só que o segundo tempo tinha duas equipes. As substituições de Muricy  surtiram efeito. Felipe Anderson e o recuo de Arouca aproximaram os  setores do Santos, e o time conseguiu trocar mais passes. Quando André  pegou rebote de Cássio e não teve equilíbrio para finalizar, o técnico  ficou tão louco que ao jogar o boné no chão nem percebeu que o  impedimento já havia sido marcado. Cícero ainda acertou a trave após  arrancada de Neymar, que teve de segurar a bola até que o companheiro se  aproximasse.
   Mas o Timão tinha cartas na manga. Tinha Alexandre Pato e o grito da  torcida, que resolveu voltar a jogar. E tinha Paulinho. Após cobrança de  escanteio, ele, deitado, brigou pela bola com Durval e Renê Júnior, e  fez com que ela sobrasse para um chutaço de Paulo André. Não foi lá uma  pintura para sua galeria de quadros, mas um belo gol. E delírio de Tite,  e da maioria dos 38.505 presentes no Pacaembu.
   Delírio com uma vantagem de dois gols de diferença, que durou  pouquíssimo. O gol do Santos foi um claro recado a Muricy. Felipe  Anderson, que substituiu Marcos Assunção, cobrou falta na cabeça de  Durval. Jogador que joga com bola rolando, e com bola parada.
   Até o próximo domingo, mães e filhos podem sonhar com o título paulista. 
 
Corinthians foi muito superior e poderia ter saído com vitória mais folgada (Foto: Marcos Ribolli)