Eles descem a rua estreita descalços, vestidos com camisas de times estrangeiros, conversando e sorrindo, a poucos metros de onde começa um bairro nobre. Atravessam a estrada, e estão de frente para o mar, prontos para jogar futebol. Moram em Rabat, capital do Marrocos, mas, não fosse pelo detalhe geográfico, poderiam ser brasileiros, dadas as semelhanças. Os jovens marroquinos, aliás, são fãs dos jogadores canarinhos e mantêm uma admiração que nem a goleada sofrida por 7 a 1 para a Alemanha nem a eliminação do Atlético-MG para o Raja Casablanca no Mundial do ano passado foram capazes de diminuir.
Rabat se despediu do Mundial neste domingo, após o jogo do Real Madrid com o Cruz Azul ser transferido para Marrakesh por causa da condição ruim do gramado do estádio Prince Moulay Abdellah. A cidade tem uma longa costa banhada pelo oceano Atlântico. A diferença em relação ao Brasil é que não há areia ou praia propriamente dita – muito menos uma orla badalada. O mar bate forte nas pedras e, mais acima, está a cidade.
Cenas de Rabat: cidade deixou o
Mundial de Clubes da Fifa antes
da hora (Foto: Felipe Schmidt)
Na estrada que serpenteia ao lado do mar, há diversas quadras esportivas, muito próximas da água. Num trecho, é possível avistar belas casas, ruas limpas e largas. Em outro, não muito longe, vê-se vielas, construções mais simples, cortiços. Poderia ser a Zona Sul do Rio de Janeiro, com sua discrepância social tão próxima, suas mansões e favelas lado a lado, mas é a capital marroquina.No fim das contas, parece que a distância entre os países é menor, como se o oceano Atlântico fosse, na verdade, um rio, como no livro do historiador Alberto Costa e Silva.
A paisagem social une o Marrocos ao Brasil tanto quanto a bola. Quando a reportagem do GloboEsporte.com abordou os jovens, as simples palavras “Brasil” e “futebol” foram suficientes para ganhar simpatia instantânea. Com a camisa do Inter de Milão, Abdelkader Hanash saiu em defesa da Seleção após o fracasso na Copa do Mundo.
- Foi apenas sorte. O Brasil tem um grande time, assim como a Alemanha - disse.
Chuva deixou gramado de Rabat em péssiams condições para o Mundial (Foto: Getty Images)
Quem rivaliza com os brasileiros no gosto popular é a Argentina. Issam Ichibi vestia uma camisa da seleção albiceleste e, mesmo com a dificuldade na comunicação, seu sorriso denunciava a vontade de se desmanchar em elogios ao Brasil e a Neymar. Entretanto, ele ainda coloca Lionel Messi num patamar acima.
- Eu gosto do Brasil e da Argentina. Gosto do Neymar e do Messi. Mas o Messi é o melhor, é mais famoso.
Na quadra, quando a bola rolou, eles não se mostraram muito habilidosos. O que tinham de disposição careciam em técnica. Um dos mais novos, Youssef Kharbouch disse que eles não costumam jogar com frequência na quadra, apesar da proximidade com suas casas, mas procuram aproveitar quando podem.
Futebol e música
No geral, a impressão dos marroquinos pelo Brasil é de admiração. Os nomes de Kaká, Oscar e, claro, Neymar, são os mais lembrados pelos meninos. Uma voluntária marroquina, ao perceber que entregava o crachá de credenciamento do Mundial a um brasileiro, se empolgou:
- Eu adoro o Brasil. É meu país favorito. Gosto do futebol, mas também da música. Luan Santana, Gusttavo Lima... Eu sei que eles não cantam samba. Samba é mais assim - disse ela, simulando com a boca uma batucada desordenada.
Mas também há aqueles que perderam um pouco do encanto. Um policial perto do estádio Prince Moulay Abdellah, ao conversar com a reportagem, não se empolgou muito.
- Não gosto do Neymar. Para mim, Cristiano Ronaldo é o melhor. O Brasil não é mais tão forte quanto antes. Mas a derrota na Copa não foi culpa dos jogadores, e sim do técnico (Luiz Felipe Scolari). Havia muita pressão – disse o oficial, que, a trabalho, não quis se identificar.
Rabat é a capital do Marrocos
(Foto: Felipe Schmidt)
FONTE:
http://glo.bo/1GGsWj0