Ryota Murata entrou sorrindo no ringue do Complexo Excel. E saiu dali da mesma maneira, apesar da mancha roxa no lado direito do rosto. De roupa vermelha, Esquiva Falcão buscava uma revanche contra seu carrasco no Mundial do ano passado. Do bronze em Baku ao posto de campeão olímpico, faltavam apenas três rounds. Uma punição no último, porém, desmoronou seus sonhos. Perdeu dois pontos e a chance de conquistar a medalha de ouro: 14 a 13, apenas um de vantagem para o japonês. Esquiva teve que se contentar com a prata em Londres, o que lhe rendeu a melhor campanha de um pugilista do país nas Olimpíadas.
Esquiva saiu do ringue contrariado. Os dois mereciam levar punição, pedia. Reclamou, ficou triste e, só então, decidiu tentar esquecer. E curtir a medalha, histórica.
- Tomei a punição e não achei justa. Os dois estavam agarrando. Os dois estavam cansados no finalzinho. Ele foi favorito, era medalha de prata no Mundial, e isso me desfavoreceu mais ainda. Foi um pontinho que o chefe tirou de mim. Infelizmente, hoje não deu. Não estou triste, entrei para a história com a prata. Estou muito feliz com meu resultado. O ouro não veio, mas a prata está valendo ouro. Minha cidade deve estar em alegria, a galera deve estar feliz. Quando eu subir no pódio vai cair a ficha. O voo direto agora é de volta para o Brasil, para o meu pai, minha mãe e minha namorada. É uma medalha que foi ganha e meu filho vai ficar muito feliz também - disse ao SporTV.
O Brasil não conquistava uma medalha olímpica no boxe desde os Jogos da Cidade do México, em 1968, quando Servílio de Oliveira foi bronze no peso-mosca. Em Londres 2012, a melhor campanha da história, com três medalhas. Além da prata deste sábado, Adriana Araújo ficou com o bronze na estreia do boxe feminino em Olimpíadas e Yamaguchi Falcão - irmão de Esquiva - também garantiu o terceiro lugar na categoria meio-pesado.
Irmãos Falcão, a saga
Yamaguchi estava ali, na arquibancada. Touro Moreno, o pai obstinado que driblou todas as dificuldades possíveis por um sonho, quase chegou a tempo para ver tudo de pertinho. Recebeu um convite de véspera, mas, sem passaporte, ficou mesmo no Brasil.
A saga dos Falcão. Quase um filme. A mais genuína das muitas histórias do país em Londres. No ringue, uma letra, em um gesto com os braços, a resume: "T". Para contá-la em palavras, as frases por vezes saem truncadas, interrompidas pela emoção e pelo que a infância pobre os abnegou. Esquiva e Yamaguchi não precisam de muito vocabulário para contar o que sentem. Só querem retribuir, a cada luta, a cada vitória, a insistência do velho pugilista. Lutam por um ideal, por um sonho construído antes mesmo de eles nascerem.
- Quando o Touro fala alguma coisa, não se engana - diz Yamaguchi.
Todas as vezes que Touro Moreno, ex-lutador, hoje aos 75 anos, caminhou até o telefone público da rua para falar com os filhos, fez das palavras injeção de ânimo. Lembrava que tinha levado a Londres duas cartas e que uma delas iria brilhar. As duas brilharam. Classificados às semifinais, os dois não esmoreceram. Não se satisfaziam com os dois bronzes. Ali, já tinham entrado para a história. Quebravam, junto com Adriana Araújo, um jejum de 44 anos sem medalhas para o país no boxe.
Yamaguchi garantiu sua medalha depois de uma vitória épica sobre o atual campeão mundial, o cubano Julio La Cruz Peraza. Depois, perdeu para o britânico Anthony Ogogo. Restava a ele o bronze. Derrotado, agradeceu a cada um dos quatro setores da arquibancada. Voltará àquele palco no domingo, para o pódio, no Dia dos Pais.
Para Esquiva, as Olimpíadas começaram depois. O sorteio das chaves favoreceu, e ele descansou na primeira rodada. Com a vaga direta nas oitavas, o capixaba não tomou conhecimento de Soltan Migitinov na estreia. Ele venceu o atleta do Azerbaijão por 24 a 11 e garantiu presença nas quartas. No caminho para a medalha olímpica estava o húngaro Zoltan Harcsa. Nova vitória (14 a 10), a vaga na semi e, pelo menos, o bronze garantido. Mas Esquiva queria mais. Lutando contra a torcida local e contra Anthony Ogogo, ele ganhou a luta (16 a 9) e os britânicos, que se renderam a ele.
A luta da prata
Nas arquibancadas do Complexo Excel, o carinho do irmão Yamaguchi e o apoio dos torcedores britânicos. No Brasil, a torcida de familiares e amigos no Espírito Santo.
Guardas fechadas e cautela. A luta que definiu o campeão dos pesos-médios começou com os dois atletas se estudando muito. Enquanto o japonês tentava encurtar a distância, o brasileiro buscava atacar. Mas foi Murata que acertou um bom cruzado para abrir vantagem de dois pontos no primeiro round: 5 a 3.
Em desvantagem, Esquiva partiu para o ataque. O japonês fechou bem a guarda e evitou os golpes. O juiz chamou a atenção do brasileiro por abaixar a cabeça e agarrar o adversário. Mas o capixaba continuou a atacar e diminuiu na diferença no placar para um ponto: 5 a 4 no segundo assalto.
A decisão ficou para o terceiro e último round. Esquiva perdia a luta por um ponto, mas sofreu um golpe forte logo no início do período. Não veio do japonês, mas do juiz, que puniu o brasileiro por agarrar o rival. Dois pontos de graça para o vice-campeão mundial Murata. Esquiva precisava, então, tirar três pontos de vantagem. Ele correu atrás, encurralou o japonês nas cordas, mas só conseguiu fazer 5 a 5 no round final - o que não foi suficiente para a virada.
- Fiquei triste por ter perdido pelas mãos do árbitro, mas depois logo fiquei feliz. Eu e meu irmão fizemos história aqui.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/08/esquiva-nao-consegue-revanche-contra-japones-e-fica-com-prata.html
Esquiva saiu do ringue contrariado. Os dois mereciam levar punição, pedia. Reclamou, ficou triste e, só então, decidiu tentar esquecer. E curtir a medalha, histórica.
- Tomei a punição e não achei justa. Os dois estavam agarrando. Os dois estavam cansados no finalzinho. Ele foi favorito, era medalha de prata no Mundial, e isso me desfavoreceu mais ainda. Foi um pontinho que o chefe tirou de mim. Infelizmente, hoje não deu. Não estou triste, entrei para a história com a prata. Estou muito feliz com meu resultado. O ouro não veio, mas a prata está valendo ouro. Minha cidade deve estar em alegria, a galera deve estar feliz. Quando eu subir no pódio vai cair a ficha. O voo direto agora é de volta para o Brasil, para o meu pai, minha mãe e minha namorada. É uma medalha que foi ganha e meu filho vai ficar muito feliz também - disse ao SporTV.
Japonês fica com a vitória, e Esquiva Falcão leva a prata na categoria médio (Foto: Reuters)
Irmãos Falcão, a saga
Yamaguchi estava ali, na arquibancada. Touro Moreno, o pai obstinado que driblou todas as dificuldades possíveis por um sonho, quase chegou a tempo para ver tudo de pertinho. Recebeu um convite de véspera, mas, sem passaporte, ficou mesmo no Brasil.
A saga dos Falcão. Quase um filme. A mais genuína das muitas histórias do país em Londres. No ringue, uma letra, em um gesto com os braços, a resume: "T". Para contá-la em palavras, as frases por vezes saem truncadas, interrompidas pela emoção e pelo que a infância pobre os abnegou. Esquiva e Yamaguchi não precisam de muito vocabulário para contar o que sentem. Só querem retribuir, a cada luta, a cada vitória, a insistência do velho pugilista. Lutam por um ideal, por um sonho construído antes mesmo de eles nascerem.
- Quando o Touro fala alguma coisa, não se engana - diz Yamaguchi.
Esquiva Falcão conquista a primeira prata do Brasil no boxe olímpico (Foto: Reuters)
Yamaguchi garantiu sua medalha depois de uma vitória épica sobre o atual campeão mundial, o cubano Julio La Cruz Peraza. Depois, perdeu para o britânico Anthony Ogogo. Restava a ele o bronze. Derrotado, agradeceu a cada um dos quatro setores da arquibancada. Voltará àquele palco no domingo, para o pódio, no Dia dos Pais.
Esquiva Falcão acerta o japonês (Foto: Reuters)
A luta da prata
Nas arquibancadas do Complexo Excel, o carinho do irmão Yamaguchi e o apoio dos torcedores britânicos. No Brasil, a torcida de familiares e amigos no Espírito Santo.
Guardas fechadas e cautela. A luta que definiu o campeão dos pesos-médios começou com os dois atletas se estudando muito. Enquanto o japonês tentava encurtar a distância, o brasileiro buscava atacar. Mas foi Murata que acertou um bom cruzado para abrir vantagem de dois pontos no primeiro round: 5 a 3.
Em desvantagem, Esquiva partiu para o ataque. O japonês fechou bem a guarda e evitou os golpes. O juiz chamou a atenção do brasileiro por abaixar a cabeça e agarrar o adversário. Mas o capixaba continuou a atacar e diminuiu na diferença no placar para um ponto: 5 a 4 no segundo assalto.
A decisão ficou para o terceiro e último round. Esquiva perdia a luta por um ponto, mas sofreu um golpe forte logo no início do período. Não veio do japonês, mas do juiz, que puniu o brasileiro por agarrar o rival. Dois pontos de graça para o vice-campeão mundial Murata. Esquiva precisava, então, tirar três pontos de vantagem. Ele correu atrás, encurralou o japonês nas cordas, mas só conseguiu fazer 5 a 5 no round final - o que não foi suficiente para a virada.
- Fiquei triste por ter perdido pelas mãos do árbitro, mas depois logo fiquei feliz. Eu e meu irmão fizemos história aqui.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/08/esquiva-nao-consegue-revanche-contra-japones-e-fica-com-prata.html