Ter o melhor jogador do mundo apenas não basta - ainda mais longe de sua melhor forma. É preciso qualidade e um elenco competitivo para ir longe na Copa do Mundo. Tudo o que faltou a Portugal em 2014. Em mais uma atuação recheada de erros individuais, a seleção de Cristiano Ronaldo apenas confirmou o que já estava desenhado após as duas primeiras rodadas. Até venceu Gana por 2 a 1 na tarde desta quinta-feira, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, o que impediu a pior campanha da história em Mundiais - a de 1986, no México, ainda é a mais fraca -, mas foi eliminada na fase de grupos. A seleção africana também deu adeus à competição com o resultado.
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Semifinalista da última Eurocopa, Portugal viu o adeus melancólico em Copas de uma geração importante de jogadores. Sofreu com seguidas lesões musculares e com a má fase técnica de alguns atletas. Perdeu na dificuldade de Éder em dominar as bolas, nos espaços deixados por João Pereira, na falta de inspiração de João Moutinho, na pouca objetividade de Nani. Mas principalmente na expulsão de Pepe contra a Alemanha. O saldo de gols acabou sendo decisivo para o desempate com os Estados Unidos.
Cristiano Ronaldo até tentou, mas sentiu a temporada desgastante pelo Real Madrid e falhou na hora decisiva. Discreto nos dois primeiros jogos, foi eleito o homem do jogo contra Gana. Poderia ter ido além. Fez, sim, o gol da vitória única de Portugal na Copa, mas perdeu outras três ótimas chances para marcar. Exatamente os três gols que faltaram para a classificação. De quebra, repetiu a história de Luis Figo, eleito o melhor do mundo em 2001 e também eliminado na fase de grupos no Mundial do ano seguinte.
Para os ganeses, nem mesmo o incentivo financeiro com o pagamento atrasado da premiação pela classificação à competição adiantou. O Grupo G terminou com Alemanha e Estados Unidos avançando para as oitavas de final.
Fim de linha para Cristiano Ronaldo, o melhor
do mundo em 2013, na Copa do Mundo 2014
(Foto: Reuters)
Erros, erros e mais erros
Ter a posse de bola nem sempre significa estar mais perto do gol. É preciso tratá-la com carinho, acertar os passes para que o domínio resulte em chances claras. Algo que Portugal passou longe de conseguir nesta Copa do Mundo. O primeiro tempo contra Gana foi apenas uma repetição do futebol apresentado contra Alemanha e Estados Unidos: erros infantis de passe, pouca movimentação e espaços na defesa. A seleção africana também não fugia à regra. Sem dois de seus principais jogadores, já que Muntari e Boateng foram suspensos por indisciplina pela própria federação de futebol do país, foi dominada e assustou apenas em duas finalizações de Gyan. O tempo corria, Alemanha e Estados Unidos empatavam.
A "Ola" organizada pela torcida antes dos 15 minutos já dava a tônica do jogo morno. Com novos problemas médicos, o técnico Paulo Bento mudou a escalação. Veloso foi improvisado na esquerda, William Carvalho entrou no meio e o volante Ruben Amorim ganhou a vaga do meia Raul Meireles. Teoricamente, tornou ainda mais defensivo um time que precisa de gols para avançar. A insistência em lançamentos longos na direção de Cristiano Ronaldo não dava certo. O tempo corria contra as duas seleções. Em um dia no qual até o melhor jogador do mundo perde um gol de cabeça na pequena área, a eliminação na fase de grupos parecia questão de tempo.
Nem mesmo a motivação financeira animava Gana a buscar a classificação, algo bem menos complicado do que o sonho português. Substitutos de Muntari e Boateng, o meia Badu e o atacante Waris pouco apareciam. Diante de tantos erros, só mesmo um gol contra para tirar o zero do placar. Veloso cruzou da esquerda e o zagueiro Boye cortou errado. A bola ainda bateu no travessão e na trave antes de entrar. Curiosamente, o autor do gol contra foi justamente um dos que saiu com o maço de notas do incentivo na mão. O último lance da etapa retratou bem a sofrível participação de Portugal no Mundial: João Pereira demorou tanto para bater o lateral que o juiz encerrou o jogo quando o time esperava pela bola na área.
Boye se enrola com a bola e faz gol contra a
favor do adversário na primeira etapa (Foto:
Getty Images)
CR7 desencanta, mas falha no fim
A história do jogo quase mudou em um minuto. O tempo corria, mas parou por um instante. Em Recife, Müller colocou a Alemanha em vantagem e deu um pouco de esperança ao Mané Garrincha. Segundos depois, Gana chegou ao empate em Brasília. Cruzamento de trivela de Asamoah, gol de cabeça de Gyan. A alegria mudou de lado, assim como o apoio da torcida: mais um gol daria a vaga aos africanos. Waris teve a chance, mas cabeceou para fora.
Cristiano Ronaldo marca e ainda corre para
o meiopara tentar correr atrás de mais um
Foto: Reuters)
Cristiano olhava para o céu inconsolável. O tempo corria e ele parecia não acreditar que estava perto de repetir a história de Figo. Jogando quase sozinho diante de tanta limitação técnica de Portugal, o capitão quase não tinha mais forças para lutar. Só não saiu zerado da Copa graças ao goleiro Dauda, que falhou e entregou a bola em seus pés no segundo gol português. E, em um reflexo do grupo que o cerca, ainda falhou quando mais se esperava dele: desperdiçou mais duas boas chances antes do apito final.
O tempo não foi suficiente para Gana, que chegou a ficar a apenas um gol da classificação. O mesmo tempo correu para Portugal. Dois anos mais velha, a geração semifinalista da Eurocopa de 2012 deixa o Brasil ainda na fase de grupos. Nunca é demais lembrar: só Cristiano Ronaldo não basta.
Cristiano Ronaldo lamenta mais uma
oportunidade perdida diante de Gana,
em Brasília (Foto: Reuters)
http://globoesporte.globo.com/jogo/copa-do-mundo-2014/26-06-2014/portugal-gana.html