- desafios sem o Todos com a nota
- estratégias para fugir da crise
Durante alguns anos, o Programa Todos com a Nota, que possibilitava a troca de notas fiscais por ingressos, foi a principal fonte de renda dos clubes do interior de Pernambuco. Criado na segunda metade da década de 1990, o programa do governo do estado foi encerrado no segundo semestre deste ano. Sem o auxílio, no Pernambucano 2016, que começa no dia 10 de janeiro, as equipes terão que driblar a falta de dinheiro e o apoio que vinha das arquibancadas.
Vice-campeão Pernambucano em 2015, o Salgueiro foi um dos primeiros a sentir na pele os efeitos do fim do Todos com a Nota. A equipe sertaneja acostumou-se a jogar com o estádio Cornélio de Barros cheio. Até o final do estadual, a média de público era de quase sete mil pessoas por partida. Depois do primeiro jogo da final contra o Santa Cruz, quando 9.156 assistiram o empate em zero a zero, a maré do Carcará virou.
Sem o Todos Com a Nota, os jogos do Salgueiro
na Série C tiveram pouca presença de público
(Foto: Assessoria/Cuiabá)
Acostumado a não pagar diretamente pelo ingresso, o torcedor deixou de ir aos jogos do time
.
Na Série C, com bilhetes vendidos a R$10 e R$ 20, a média de público caiu para 1.647.
Coincidência ou não, a forca da equipe como mandante também foi lá para baixo. Dos nove jogos em casa, o Carcará obteve apenas uma vitória. Para o presidente do Salgueiro, Clebel Cordeiro, o fraco desempenho da equipe em campo está relacionado ao fim do Todos Com a Nota.
– O maior prejuízo, com certeza, foi dentro de campo. Financeiramente nem foi tanto prejuízo, mas não ter o torcedor em campo foi o pior para o Salgueiro Atlético Clube – revela Clebel.
Levando em consideração o momento financeiro do país, o dirigente chega a concordar com a medida adotada pelo Governo de Pernambuco. A bronca de Clebel está na forma como o programa foi encerrado.
– Da maneira que o governador (Paulo Câmara) tomou a decisão, se você parar para analisar pelo lado da crise que está aí, onde saúde e segurança são prioridades, a medida foi acertada. Mas essa era uma decisão para 2016 que foi tomada agora. E isso foi muito prejudicial para os clubes do interior – afirma.
DESAFIOS SEM O TODOS COM A NOTA
Os clubes recebiam R$ 7,50 por bilhete trocado. Para os pequenos, a renda certa da bilheteria era a principal receita para fechar as contas no final do mês. Sem esse auxílio, dirigentes do Salgueiro e Serra Talhada chegaram a cogitar o abandono das Séries C e D do Brasileiro. As promessas não foram cumpridas, mas a falta de dinheiro refletiu dentro de campo. Ambos não conseguiram fazer boas campanhas em suas divisões.
O torcedor utilizava o cartão para trocar
notas fiscais por ingressos (Foto:
Reprodução / TV Globo)
Para José Raimundo, presidente do Serra Talhada, o principal desafio sem o Todos com a Nota vai ser mudar a cultura criada no torcedor. De acordo com o dirigente, quando tinha o auxílio do programa, o clube contava sempre com cerca de quatro mil pessoas por jogo, no estádio Nildo Pereira.
saiba mais
- Salgueiro lamenta prejuízos com o fim do Todos Com a Nota
Presidente do Central, Lícius Cavalcanti torce para que o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, consiga uma solução junto ao governador Paulo Câmara, que possa minimizar os efeitos do término do Todos com a Nota.
Presidente do Central torce por uma solução que
minimize o fim do Todos com a Nota (Foto:
André Ráguine / GloboEsporte.com)
– Estive com o presidente da Federação, doutor Evandro Carvalho, e ele me disse que está solicitando ajuda ao governador, para que ele veja outra forma de compensar fim do o Todos com a Nota, o que, com certeza, vai beneficiar os clubes. Na minha visão, o programa ajudava muito.
Torcemos que o programa volte. No que for preciso para ajudar nessa volta, o Central estará a disposição – afirma Lícius Cavalcanti.
Para o ex-presidente da Patativa, Jandoval Bezerra, que esteve com o clube na disputa da Série D deste ano, caso não seja adotada alguma medida que possa ajudar as equipes menores, o futebol no interior ficará inviável.
– Eu acho que vai acabar o futebol, né? Porque todo jogo você vai pagar para jogar, principalmente nesses jogos do interior.
Duas ambulâncias, médicos, regra três, juiz com despesas, tem delegado, a federação come a parte dela e não quer nem saber. Então, futebol se tornou inviável. Se quiser entrar, pode entrar, mas tem que ter dinheiro. Os salários dos jogadores vão ter que baixar, por que não tem como continuar pagando o que a gente pagava com o fim dos Todos Com Nota – acredita Jandoval.
Em contato com o GloboEsporte.com, através da assessoria de imprensa, a Federação Pernambucana de Futebol informou que está buscando parcerias par tentar solucionar os prejuízos criados com o fim do Todos com a Nota.
- A FPF está buscando apoios/parcerias privados (as) para solucionar o desfalque do Todos Com a Nota - disse.
Questionados como os clubes menores poderiam formar equipes competitivas para o Pernambucano, sem o dinheiro que vinha do programa do Governo do Estado, a FPF deu uma sugestão aos dirigentes.
- Através de criatividade, buscando nomes fortes e que estão "esquecidos" no mercado do futebol, que podem dar uma nova cara aos clubes em disputa.
ESTRATÉGIAS PARA FUGIR DA CRISE
Para contar com o torcedor e aumentar a receita, uma das saídas foi criar planos de sócios.
O Salgueiro fez o programa Sou Carcará, onde o torcedor paga de R$10 a R$ 60, podendo ter acesso ao jogos do time.
Segundo Clebel Cordeiro, o clube tem entre 800 e 900 associados.
Araripina e Serra Talhada também criaram seus programas, mas a aceitação não foi boa.
José Raimundo, presidente do Serra
Talhada, lamenta término do Todos
Com a Nota (Foto: Divulgação / FPF-PE)
– Fizemos um programa para o Campeonato Brasileiro, mas só conseguimos 150 sócios. É meio difícil se manter assim. As dificuldades são grandes, mas o clube tem que buscar alternativa. O projeto de times como Serra Talhada, Salgueiro, Petrolina, não é do presidente. Tem que ser da cidade. Se a cidade não abraçar, tem uma hora, infelizmente, que tem que fechar as portas – lamenta o presidente do Serra.
No Porto-PE, o presidente José Porfírio vê na qualificação do Centro de Treinamento do Clube uma maneira de conseguir recursos para equilibrar as contas em 2016.
– Estamos planejando o Centro do Treinamento do Porto. Estamos organizando tudo, para, no ano que vem, alugar o espaço para empresas fazerem treinos um dia por semana, alugar para festas, essas coisas, para ver se dá para manter pelo menos a base – projeta Porfírio.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/pe/petrolina-regiao/futebol/noticia/2015/12/sem-o-dinheiro-do-todos-com-nota-times-do-interior-de-pe-temem-o-futuro.html