Andrey Lopes, Dunga e Paulo Paixão,
que os apresentou (Foto: Tomás Hammes)
- Todos dizem que sou tranquilo, ponderado, acho que por isso tivemos um bom casamento.
Ao lado do preparador físico Fábio Mahseredjian, eles fizeram, na última sexta-feira, uma reunião em Porto Alegre para planejar os primeiros passos novo ciclo, e marcaram outra. A dupla que vai comandar a Seleção até 2018 – se tudo correr como a CBF espera até lá – se conheceu por intermédio de Paulo Paixão, preparador físico da comissão de Luiz Felipe Scolari no último Mundial. Em 2010, Andrey trabalhava nas categorias de base do Grêmio e, por uma semana, interinamente, treinou o time profissional, no hiato entre as gestões de Silas e Renato Gaúcho. Paixão era o preparador gremista.
Com uma ligação já estabelecida, Dunga o convidou para assisti-lo no Inter, no fim de 2012, em seu único emprego como técnico num clube até hoje. Aos 40 anos e com quase duas décadas de trabalhos com jovens, Andrey Lopes se diz absolutamente viciado em futebol e em trabalho. Um "workaholic". Assistiu a sete jogos da Copa no estádio, leu dezenas de livros, estudou...
Fã de muitos técnicos, como Marcelo Bielsa, Pep Guardiola, José Mourinho e Paulo Autuori, ele tem na cabeça a cara que pretende, no suporte de Dunga, dar à Seleção.
- Um time que tenha entendimento e faça as ações do jogo, e que pratique o que o futebol brasileiro tem de melhor.
Confira a entrevista com o auxiliar:
GloboEsporte.com: Você esperava ser convidado para a Seleção? Isso já mexeu com sua vida?
Andrey Lopes: É um sonho, é aonde queremos chegar, o melhor e mais alto nível. Agora que consegui, entendo bem a responsabilidade. É uma sensação dúbia. Uma satisfação de 50% por ter chegado até aqui. O resto é o que será a partir daqui, continuar o trabalho que fiz até hoje nesse nível da Seleção.
Você não terá o dia-a-dia para conhecer os jogadores, se adaptar a eles. Isso vai intensificar seu trabalho de observação, dificulta sua atividade?
No clube, há mais tempo para trabalhar, mas temos de fazer um planejamento para conseguirmos os mesmos resultados em períodos mais curtos. Pegar as sessões de treino que planejamos para um clube e encaixá-las no perfil da Seleção. Não vejo dificuldade. Só teremos um tempo maior em competições mais longas, como a Copa América, mas durante os amistosos, não. Não há outra saída, temos de planejar.
Andrey Lopes foi técnico interino do Grêmio(Foto: Lucas Uebel / TXT Assessoria)
Sim. Fizemos uma reunião em Porto Alegre, já que todos moramos aqui, pois o Fábio (Mahseredjian, preparador físico) está no Grêmio. Isso facilita, esse contato é importante.
Como você e o Dunga se conheceram?
Em 2010, eu era assistente dos juniores do Grêmio, que trocou o Silas pelo Renato Gaúcho. Foi um hiato de uma semana em que assumi a equipe principal e o preparador físico era o Paulo Paixão. Ele nos apresentou na época. Criamos uma proximidade, conversávamos, mas o Dunga não trabalhou e segui no Grêmio como assistente do Renato. No fim de 2012, o Dunga me ligou porque iria assumir o Inter e me convidou para ser seu auxiliar. Eu aceitei.
Qual foi o segredo para conquistar a confiança dele tão rapidamente?
Todo mundo conhece o temperamento do Dunga. Falam que sou exatamente o oposto. Nem vejo dessa forma, mas talvez por isso tenha havido um casamento bom. Sou muito tranquilo, ponderado. E estudo muito. Minha vida é o futebol. Estudo, leio, planejo muito. Isso combinou com a organização dele, o método de trabalho, a correção. É um cargo de confiança. Tanto que quando saímos do Inter, em 2013, eu não trabalhei. Esperei por alguma situação ao lado dele.
E nesse período o que você fez para se atualizar?
Fiz cursos, li, estudei, vi jogo. Fui a sete jogos da Copa do Mundo. O profissional que não está trabalhando tem que se atualizar. Gosto muito de ver e programar treinos, ter ideias de novos treinadores, conversar com eles. Tenho 40 anos, sou jovem, mas com certa experiência de muitos anos trabalhando na base.
Do que você mais gostou na Copa do Mundo?
Gostei da Alemanha. Quem não gostou? A Holanda me chamou atenção por algumas situações táticas. Cada uma teve um aspecto. Gostei muito do Chile. O (Jorge) Sampaoli é um treinador da linha do (Marcelo) Bielsa, que sigo desde que surgiu no Newell’s. E gostei dos Estados Unidos, que evoluíram muito também graças ao trabalho do (Jürgen) Klinsmann, outro treinador que eu gosto. Acho que será uma seleção forte em 2018.
Você citou Sampaoli, Bielsa e Klinsmann. São os treinadores em quem você se inspira?
Bah, tem tantos! Se eu for citar todos que me passaram algum ensinamento no Inter e no Grêmio... Gosto desses, do Guardiola, do Mourinho. E de brasileiros também. Aprendi muito com o Paulo Autuori, no Grêmio, é um grande profissional. E tem o Dunga, é claro.
Você trabalhou durante muito tempo com garotos, e a CBF aparenta estar dando mais importância à base. Você acha que a montagem dessa nova Seleção passa pelos jovens?
Acho que o jovem é muito importante e precisa estar sempre presente. O Gallo será o treinador nas Olimpíadas e essa renovação tem de ser feita, mas sempre com a ideia da mescla com jogadores experientes. A Seleção de 2014 já era jovem. É preciso que seja feito de maneira gradativa, com inteligência e muito trabalho. Teremos tempo para isso.
Que tipo de time você pretende ver na seleção brasileira daqui para frente?
Um time que tenha entendimento e faça as ações do jogo, saiba ler os momentos do jogo. Vamos poder escolher uma equipe que saiba se portar dentro de uma organização defensiva e ofensiva. Com os jogadores do nível que a Seleção tem que ter e o conhecimento do Dunga, uma equipe com boa transição defensiva e ofensiva. Com posse de bola, que circule a bola. Uma equipe que tenha parte tática, mas não perca a característica do futebol brasileiro e saiba praticar em campo o que ele tem de melhor.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2014/07/selecao-inicia-planejamento-e-auxiliar-explica-casamento-com-dunga.html