A cada quatro anos, as Olimpíadas abrem seu livro de histórias para o mundo. Dramas e superações de atletas que lutam sem descanso por um segundo, centímetro, ponto ou gol. Em Londres, um impasse religioso, deficiências físicas e de estrutura para o desenvolvimento do esporte, e a insistência de quem derramou suor e lágrimas para viver o espírito olímpico protagonizaram cenas que ficarão na memória coletiva por muito tempo. Relembre as melhores histórias abaixo:
Olho vivo
Como é possível uma pessoa que é considerada legalmente cega competir no tiro com arco? Mais: se classificar para os Jogos Olímpicos? Mais ainda, chegar às oitavas de final, com direito a superar o próprio recorde mundial? Só Dong Hyun Im. O sul-coreano, que tem apenas 10% da visão no olho esquerdo e 20% no direito, surpreendeu o mundo ao somar 699 pontos - em 720 possíveis - já no ranqueamento. O atleta asiático foi eliminado apenas para o holandês Rick van der Ven por 7 a 1 na disputa por uma vaga nas quartas de final.
À espera do sim
A esperança de Shin A Lam de disputar a medalha de ouro na esgrima comoveu. Depois de levar um golpe da alemã Britta Heidemann a um segundo do fim e perder a semifinal da categoria espada por 6 a 5, a sul-coreana sentou e começou a chorar. Enquanto isso, seu técnico entrou com recurso, alegando que o cronômetro já estava zerado. Durante uma hora, Shin ficou ali, sozinha, de cabeça baixa, sentada no local, para não caracterizar sua desistência. Não adiantou, e o resultado foi mantido. Na disputa do bronze, ela perdeu para a chinesa Yujie Sun. Depois, conquistou a prata por equipes.
Volta por cima
Sofrer uma grave lesão durante os Jogos, se submeter a uma cirurgia, voltar a jogar e ainda conquistar uma medalha é uma trajetória heroica. A saga foi vivida por Kate Walsh em Londres. A jogadora de hóquei sobre a grama fraturou a mandíbula após uma adversária acertar seu rosto com o taco, passou por um procedimento cirúrgico e usou uma proteção para entrar em quadra e conquistar a medalha de bronze com a Grã-Bretanha ao vencer a Nova Zelândia por 3 a 1. A façanha foi aplaudida de pé pela duquesa de Cambridge, Kate Middleton.
Reconhecimento
Oscar Pistorius escreveu um dos capítulos inesquecíveis das Olimpíadas de Londres. Depois de recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte para provar que não teria vantagem em relação aos adversários por usar próteses de fibra de carbono, o primeiro biamputado dos Jogos Olímpicos chegou à semifinal dos 400m. A disputa por medalha ficou para depois, mas a cena que aconteceu após o fim da prova foi quase melhor do que a classificação. Aplaudido pelo público, o vencedor da bateria, Kirani James, de Granada, pediu para trocar o adesivo de seu nome na camisa com o do corredor sul-africano. A recordação ficará para sempre.
Com véu ou sem véu?
Wodjan Shaherkani estava ansiosa para ser a primeira mulher a representar a Arábia Saudita na história dos Jogos, mas se viu em meio a um conflito religioso. A Federação Internacional de Judô não permitiu que a judoca competisse usando o hijab (roupa típica islâmica, que deixa apenas o rosto à mostra), como prevenção em casos de estrangulamento, posição tradicional na modalidade. Depois de o país ameaçar abandonar a competição, houve um acordo para que ela usasse um design diferente de um véu. A saudita foi derrotada na estreia pela portorriquenha Melissa Mojica.
Mais veloz que o preconceito
A velocidade de Natalia Partyka surpreendeu o público em Londres e em todo o mundo. Nem quem estava no Complexo Excel conseguia entender como a polonesa que nasceu sem a mão direita dava raquetadas tão rápidas no tênis de mesa. Pois ela venceu a primeira disputa contra a dinamarquesa Mie Skov por 4 sets a 3. Em seguida, perdeu para a holandesa Jie Li por 4 sets a 2. Por equipes, defendeu a Polônia, mas foi eliminada por Singapura ao perder as duas partidas que participou, individualmente e em dupla.
Volta no tempo
A expectativa da torcida chinesa para os 110m com barreiras já durava quatro anos. O foco das atenções estava em Liu Xiang. A esperança, porém, durou pouco. Assim como aconteceu em Pequim, em 2008, o atleta não conseguiu conquistar a medalha de ouro devido a uma lesão. Em Londres, Xiang tropeçou na primeira barreira, caiu e se levantou sem conseguir colocar o pé direito no chão. Era o fim do sonho olímpico. Restou apenas beijar o último obstáculo e deixar a pista em cadeira de rodas. Depois, o atleta teve de se submeter a uma cirurgia no tendão de Aquiles.
Melhor idade
O espírito olímpico não tem idade. Aos 71 anos, Hiroshi Hoketsu provou isso em Londres. O japonês disputou a terceira edição dos Jogos. Também competiu no hipismo em Tóquio, em 1964, e tentou em Seul, em 1988, mas não conseguiu devido a uma lesão de seu cavalo. Voltou duas décadas depois, em Pequim, em 2008. Na capital inglesa, terminou em 40° lugar. E ele não queria parar. Estava pronto para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, mas não poderá ir. O motivo é simples: “Whisper (cavalo) estará muito velho”.
Lágrimas comoventes
No fim da segunda bateria dos 800m feminino, o público aplaudia... a mais lenta. A turca Merve Aydin comoveu os torcedores no estádio ao sofrer uma lesão no meio do percurso de duas voltas sobre a pista e começar a se arrastar até a linha de chegada. As pessoas se emocionaram nas arquibancadas. Ao fim, Merve cumpriu seu objetivo e completou a prova em 3m24s35, mais de 1m20s atrás da vencedora, a russa Maria Savinova.
Trauma superado
Kayla Harrison entrou para a história do esporte americano em Londres. Foi a primeira judoca do país a conquistar o ouro olímpico ao vencer na categoria peso-meio-pesado (até 78kg). No alto do pódio, chorou. As lágrimas lembravam a superação de um trauma de infância. Kayla foi abusada sexualmente por seu treinador Daniel Doyle, quando tinha apenas 13 anos e começou a competir fora de sua cidade. Por três anos, sofreu calada até ter coragem de contar à sua mãe. Nove anos depois, a americana se tornou campeã olímpica, e Doyle está na prisão, condenado a dez anos de reclusão.
Aplaudido de pé
Remador há apenas três meses, Hamadou Djibo Issaka recebeu um convite para participar dos Jogos Olímpicos. Sem saber, iviraria um dos principais personagens das Olimpíadas na capital inglesa. O atleta do Níger foi o mais aplaudido pelo público ao terminar a prova de repescagem do skiff em último lugar, com o tempo de 8m39s66, mais de um minuto depois do penúltimo colocado. O mais rápido nas eliminatórias foi o belga Tim Maeyens, com 6m42s52. Issaka não se abalou e disse que ficou feliz por saber que crianças estavam começando a praticar remo em seu país.
Forte... e esperta
Abigel Joo deu um exemplo de superação e esperteza em Londres. A húngara do peso-meio-pesado (até 78kg) sofreu uma lesão nas quartas de final e, mesmo sem conseguir apoiar o pé esquerdo no chão, apareceu para a luta da repescagem para enfrentar Daria Pogorzelec. Com respeito à adversária, a polonesa não atacou a perna machucada e recebeu até um yuko por falta de combatividade. Joo aproveitou e, com um uchi-mata, venceu o duelo. Na disputa pelo bronze, porém, perdeu para a francesa Audrey Tcheumeo a 1m18s do fim.
Contra a maré
Primeira nadadora do Lesoto a competir nos Jogos Olímpicos, Masempe Theko tinha a responsabilidade de deixar a torcida orgulhosa com sua participação em Londres. Bem acima do peso, a atleta sabia que uma disputa por medalhas não seria possível, mas só o fato de ter superado o cansaço com o trabalho como consultora de RH em tempo integral e entrado na piscina com atletas de alto rendimento já valeu a pena. Sem treinar por falta de um local adequado, ela melhorou seu tempo nos 50m livre (42s35), mas ficou na última posição, o 73º lugar, nas eliminatórias. A campeã Ranomi Kromowidjojo fez 24s05.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/08/sangue-suor-e-orgulho-dramas-e-superacoes-nos-jogos-de-londres.html
Olho vivo
Im supera problema de visão e bate o recorde
mundial no tiro com arco (Foto: Reuters)
mundial no tiro com arco (Foto: Reuters)
À espera do sim
A espera interminável (Foto: Agência Getty Images)
Volta por cima
Kate Walsh deixa a quadra com a
mandíbula fraturada (Foto: AP)
mandíbula fraturada (Foto: AP)
Reconhecimento
Pistorius e Kirani trocam os adesivos com
seus nomes na prova (Foto: Getty Images)
seus nomes na prova (Foto: Getty Images)
Com véu ou sem véu?
Wojdan Shaherkani luta com uma versão
do véu em Londres (Foto: AFP)
do véu em Londres (Foto: AFP)
Mais veloz que o preconceito
Natalia Partyka supera expectativas nos
Jogos de Londres (Foto: Reuters)
Jogos de Londres (Foto: Reuters)
Volta no tempo
Liu Xiang beija a barreira após queda na prova
dos 110m com barreiras (Foto: AFP)
dos 110m com barreiras (Foto: AFP)
Melhor idade
Hiroshi Hoketsu disputa os Jogos Olímpicos
aos 71 anos (Foto: Blog)
aos 71 anos (Foto: Blog)
Lágrimas comoventes
Merve Aydin se arrasta na prova (Foto: AFP)
Trauma superado
Kayla Harrison conquista o ouro após superar
trauma na infância (Foto: Agência Reuters)
trauma na infância (Foto: Agência Reuters)
Aplaudido de pé
Hamadou Djibo Issaka começou a treinar há
apenas três meses (Foto: Reuters)
apenas três meses (Foto: Reuters)
Forte... e esperta
Joo vence Pogorzelec (Foto: Agência Reuters)
Contra a maré
Masempe Theko fica em último lugar nos 50m
livre nos Jogos de Londres (Foto: AP)
livre nos Jogos de Londres (Foto: AP)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/08/sangue-suor-e-orgulho-dramas-e-superacoes-nos-jogos-de-londres.html