'Quero ser Clarence': craque é inspiração dos meninos no Suriname
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'Quero ser Clarence': craque é inspiração dos meninos no Suriname



Em Paramaribo, garotos jogam futebol com o sonho de seguir os passos do meia do Botafogo, considerado uma referência no país em que nasceu

Por Janir Júnior Direto de Paramaribo, Suriname

Header Materia Seedorf (Foto: infoesporte)
O pequeno Martino, 8 anos, joga bola em um campo de terra batida na capital Paramaribo. Ali, a grama é escassa, mas os sonhos brotam em um simples drible na pobreza, a cada chute no futuro de incertezas. “Quero ser igual ao Clarence”, afirma o menino. O caminho é longo, tortuoso, mas os pés descalços e calejados estão prontos para trilhar os passos de sucesso de Clarence Seedorf. O jogador nasceu no Suriname, se fixou na Holanda logo aos dois anos, mas jamais esqueceu suas raízes. A escolha de um dos ídolos do camisa 10 do Botafogo explica a sua vocação na luta pelos direitos humanos: Nelson Mandela. Seedorf cresceu, venceu no futebol e se tornou herói nacional, o exemplo a ser seguido.

- Gosto muito de futebol. Quero ser igual ao Clarence, jogar bola. E conseguir vitórias – declara Martino, um dos muitos garotos da St. Ignatius School.

Suriname, Seedorf (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)Menino ajeita o tênis após o futebol: um país fanático pelo esporte (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)
 
O discurso é comum entre todas as crianças que sonham se tornar jogadores, de qualquer canto do planeta. E reflete o sonho de milhares de meninos, mas ganha um tom especial no país de pouco mais de meio de milhão de habitantes, onde nasceu um garoto que levaria ao mundo o nome do Suriname.
O avô de Clarence, Frederick, era filho de um escravo libertado pelo seu dono alemão, de quem pegou o sobrenome Seedorf. Nascido no dia 1º de abril de 1976, o jogador deixou sua terra natal aos dois anos, se naturalizou holandês, foi em busca da sua própria liberdade. E construiu um legado no país, com um rastro de orgulho.

O Suriname está no meu coração, não só hoje, mas para sempre. Eu farei o melhor para ajudar o governo e as pessoas para trabalharem em um futuro
melhor para o país"
Clarence Seedorf
- Sou muito orgulhoso por conhecer esse grande jogador. Clarence tem carisma, é um grande filho do Suriname. Jogou na Itália, agora no Brasil, mas seu coraçao está no Suriname. Ele foi um dos jogadores que quiseram construir nossa organização de futebol e fazer algo pelo esporte no seu país. E tem planos para o futuro. Sempre que puder apoiar Clarence nas coisas que ele fizer, eu farei. Sou muito orgulhoso por ele ter nascido no Suriname – afirmou o surinamês Raymon Wimpel, 63 anos, que durante décadas trabalhou como jornalista esportivo no Suriname e acompanha toda a carreira do jogador.

Seedorf defendeu a seleção holandesa e passou por clubes como Ajax, Sampdoria, Real Madrid, Internazionale de Milão e Milan antes de chegar ao Botafogo. A trajetória nos campos foi acompanhada por projetos sociais fora das quatro linhas, muitos deles ligados ao Suriname.
Em 2007, Seedorf recebeu das mãos do então presidente do Suriname Ronald Venetiaan a mais alta condecoração civil do país: a medalha de Comandante da Ordem Estrela Amarela. Na ocasião, Venetiaan fez um pedido: que o jogador atuasse como um embaixador para a nação, não só como figura de esportes, mas de toda e qualquer forma que pudesse resultar em algo para beneficiar o Suriname e sua imagem em todo o mundo. Na visita, o meia levou ao país natal a taça do título da Liga dos Campeões que ganhou pelo Milan.

- O Suriname está no meu coração, não só hoje, mas para sempre. Eu farei o melhor para ajudar o governo e as pessoas para trabalharem no melhor para o país, especialmente a juventude, porque os jovens são o futuro. Estou muito honrado com essa condecoração. Palavras não podem expressar minha gratidão e apreço. A amizade e o amor que eu sinto quando estou aqui não têm preço – declarou Seedorf, em registro que mexeu ainda mais com o orgulho do Suriname.
A história do herói surinamês teve novo capitulo em 2009, quando recebeu das mãos do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela o título de Legacy Champion, concedido aos filantropos que ajudam a manter vivo o legado do líder sul-africano.
- Por toda a minha vida tenho sido inspirado por sua vida e obra (de Mandela). É uma honra para mim me tornar um campeão Legacy – afirmou Seedorf em conversa com o líder sul-africano.

E novamente o jogador não esqueceu de sua terra natal.
- Tentei explicar onde era o Suriname. Agradeci por tudo que Mandela significou para mim e todo o resto do mundo.

Apresentador do canal ABC, do Suriname, onde é responsável pelo programa "Top Sports", o jornalista Desney Romeo destaca a importância de Seedorf para o país.
- Ele é um ídolo no Suriname. A maioria do povo daqui o adora, não só pelo jogador, mas pelo ser humano que ele é. Sempre volta para nosso país e tem carinho pelo povo. É uma coisa especial.

Jornal, Seedorf, Suriname (Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)Apresentação de Seedorf repercute no Suriname
(Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)
 
No dia 10 de julho, um dos maiores jornais de Paramaribo estampou em suas páginas declarações de Seedorf na sua apresentação ao Botafogo, no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro. Na terra onde nasceu, o interesse sobre a chegada do jogador ao Alvinegro imediatamente entra em pauta quando o assunto é futebol.

A ingenuidade infantil faz com que algumas crianças desconheçam o atual paradeiro do jogador surinamês, mas todos conhecem e reconhecem o que Seedorf fez pelo futebol. E pelo país.
- He’s cool (ele é legal) – disse um dos meninos.
Assim como Martino, Densenll, 9 anos, Caio Junior, 8, Jhonata Nascimento, 8, Ricler, 8, entre muitos outros, sonham vencer na vida com uma bola nos pés.

- Gosto do Brasil, do Clarence, mas também do Neymar – confessou Caio, filho de um brasileiro com uma surinamesa, estendendo sua idolatria ao jogador do Santos.
A professora Roberta Anches, formada em Educação Física, usa o holandês para resumir a importância do esporte no país.

- Aqui no Suriname, para fazer natação, por exemplo, geralmente temos que pagar para usar um clube. Pessoas mais pobres não precisam de nada para jogar futebol. Basta uma bola.
A lição da professora é simples e retrata a realidade. De pés descalços, as crianças do Suriname driblam a pobreza e precisam apenas da bola para alimentar sonhos. E também de um exemplo a ser seguido. Ele é Clarence. Ou Seedorf, que tem seu nome gritado em coro pelos meninos, numa espécie de mantra surinamês.

FONTE:
 http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2012/07/quero-ser-clarence-craque-inspira-uma-geracao-inteira-no-suriname.html



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