Em Paramaribo, garotos jogam futebol com o sonho de seguir os passos do meia do Botafogo, considerado uma referência no país em que nasceu
- Gosto muito de futebol. Quero ser igual ao Clarence, jogar bola. E conseguir vitórias – declara Martino, um dos muitos garotos da St. Ignatius School.
Menino ajeita o tênis após o futebol: um país fanático pelo esporte (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)
O avô de Clarence, Frederick, era filho de um escravo libertado pelo seu dono alemão, de quem pegou o sobrenome Seedorf. Nascido no dia 1º de abril de 1976, o jogador deixou sua terra natal aos dois anos, se naturalizou holandês, foi em busca da sua própria liberdade. E construiu um legado no país, com um rastro de orgulho.
- Sou muito orgulhoso por conhecer esse grande jogador. Clarence tem carisma, é um grande filho do Suriname. Jogou na Itália, agora no Brasil, mas seu coraçao está no Suriname. Ele foi um dos jogadores que quiseram construir nossa organização de futebol e fazer algo pelo esporte no seu país. E tem planos para o futuro. Sempre que puder apoiar Clarence nas coisas que ele fizer, eu farei. Sou muito orgulhoso por ele ter nascido no Suriname – afirmou o surinamês Raymon Wimpel, 63 anos, que durante décadas trabalhou como jornalista esportivo no Suriname e acompanha toda a carreira do jogador.
Seedorf defendeu a seleção holandesa e passou por clubes como Ajax, Sampdoria, Real Madrid, Internazionale de Milão e Milan antes de chegar ao Botafogo. A trajetória nos campos foi acompanhada por projetos sociais fora das quatro linhas, muitos deles ligados ao Suriname.
Em 2007, Seedorf recebeu das mãos do então presidente do Suriname Ronald Venetiaan a mais alta condecoração civil do país: a medalha de Comandante da Ordem Estrela Amarela. Na ocasião, Venetiaan fez um pedido: que o jogador atuasse como um embaixador para a nação, não só como figura de esportes, mas de toda e qualquer forma que pudesse resultar em algo para beneficiar o Suriname e sua imagem em todo o mundo. Na visita, o meia levou ao país natal a taça do título da Liga dos Campeões que ganhou pelo Milan.
- O Suriname está no meu coração, não só hoje, mas para sempre. Eu farei o melhor para ajudar o governo e as pessoas para trabalharem no melhor para o país, especialmente a juventude, porque os jovens são o futuro. Estou muito honrado com essa condecoração. Palavras não podem expressar minha gratidão e apreço. A amizade e o amor que eu sinto quando estou aqui não têm preço – declarou Seedorf, em registro que mexeu ainda mais com o orgulho do Suriname.
- Por toda a minha vida tenho sido inspirado por sua vida e obra (de Mandela). É uma honra para mim me tornar um campeão Legacy – afirmou Seedorf em conversa com o líder sul-africano.
E novamente o jogador não esqueceu de sua terra natal.
- Tentei explicar onde era o Suriname. Agradeci por tudo que Mandela significou para mim e todo o resto do mundo.
Apresentador do canal ABC, do Suriname, onde é responsável pelo programa "Top Sports", o jornalista Desney Romeo destaca a importância de Seedorf para o país.
- Ele é um ídolo no Suriname. A maioria do povo daqui o adora, não só pelo jogador, mas pelo ser humano que ele é. Sempre volta para nosso país e tem carinho pelo povo. É uma coisa especial.
Apresentação de Seedorf repercute no Suriname
(Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)
(Foto: Janir Júnior / Globoesporte.com)
A ingenuidade infantil faz com que algumas crianças desconheçam o atual paradeiro do jogador surinamês, mas todos conhecem e reconhecem o que Seedorf fez pelo futebol. E pelo país.
- He’s cool (ele é legal) – disse um dos meninos.
Assim como Martino, Densenll, 9 anos, Caio Junior, 8, Jhonata Nascimento, 8, Ricler, 8, entre muitos outros, sonham vencer na vida com uma bola nos pés.
- Gosto do Brasil, do Clarence, mas também do Neymar – confessou Caio, filho de um brasileiro com uma surinamesa, estendendo sua idolatria ao jogador do Santos.
A professora Roberta Anches, formada em Educação Física, usa o holandês para resumir a importância do esporte no país.
- Aqui no Suriname, para fazer natação, por exemplo, geralmente temos que pagar para usar um clube. Pessoas mais pobres não precisam de nada para jogar futebol. Basta uma bola.
A lição da professora é simples e retrata a realidade. De pés descalços, as crianças do Suriname driblam a pobreza e precisam apenas da bola para alimentar sonhos. E também de um exemplo a ser seguido. Ele é Clarence. Ou Seedorf, que tem seu nome gritado em coro pelos meninos, numa espécie de mantra surinamês.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2012/07/quero-ser-clarence-craque-inspira-uma-geracao-inteira-no-suriname.html