Primeiro dia de treinos mostra que Nico Rosberg vai ter uma difícil missão em Abu Dhabi (Getty Images)
Rosberg sonhava ver Felipe Massa e Valtteri Bottas muito rápidos nesta sexta-feira. Com ambos bem velozes, como têm sido nas últimas corridas, as suas chances de obter o terceiro e o quarto tempo na sessão de classificação, neste sábado, seriam elevadas. E largando, domingo, na fila de trás dele próprio e Hamilton, pois salvo surpresa a Mercedes ocupará as duas primeiras posições no grid, haveria a possibilidade de Massa ou Bottas ultrapassar uma das Mercedes na largada. No caso dos interesses de Rosberg, a Mercedes de Hamilton.
Esse era o plano de Rosberg, exposto sexta-feira na entrevista da FIA. O alemão precisa vencer e torcer para Hamilton não terminar em segundo para ser campeão. Se o inglês for terceiro, já dá para Rosberg, com a vitória, celebrar o título.
Massa explicou a razão de não poder pensar em entrar nessa luta, mesmo que apenas depois da largada. “Nós perdemos muito tempo no último setor. Será surpreendente se evoluirmos tanto de um dia para o outro.” A melhor Williams nesta sexta-feira foi a de Bottas, quinto colocado, mas quase a um segundo (0s957 milésimos) de Hamilton. Massa ficou em décimo, a um segundo e meio (1s445).
O último setor a que se refere Massa é o que se estende da curva 11 até a linha de chegada, logo depois da curva 21. Com exceção das curvas 15 e 16, que na realidade não representam curvas por serem percorridas de pé em baixo, todas as demais são de baixa velocidade, 2ª ou 3ª marcha. O modelo FW36-Mercedes da Williams, este ano, evidenciou dificuldades exatamente nesse tipo de traçado. Nos dois outros setores do Circuito Yas Marina, de 5.554 metros, Massa e Bottas estão dentre os mais rápidos. São segmentos de elevada velocidade, com dois longos trechos de aceleração plena.
Todos os indícios são que haverá uma repetição do que se viu até agora na temporada, com a luta pela vitória se limitando a Hamilton e Rosberg. O que é uma má notícia para o alemão. Como já foi explicado, para ser campeão ele precisa de alguém entre ele e o companheiro. Há apenas um fator que pode, eventualmente, introduzir uma variável nessa disputa: os pneus. A Pirelli distribuiu no GP de Abu Dabi, os pneus macios e os supermacios. Sebastian Vettel, da RBR, de despedida do time austríaco depois dos quatro títulos conquistados de 2010 até o ano passado, comentou sobre os pneus:
“Os supermacios oferecem grande aderência, mas sua vida útil é curta. Por isso nos concentramos em acertar o carro para os pneus macios. Será com eles que permaneceremos a maior parte da corrida”.
Inglês Lewis Hamilton foi o mais rápido do
primeiro dia de treinos livres em Abu
Dhabi (Foto: AP)
E o ritmo de Vettel e de seu companheiro, Daniel Ricciardo, na simulação da prova, realizada nesta sexta-feira, foi surpreendente. “Se nós melhorarmos na classificação, conseguirmos começar a corrida mais à frente, teremos condições de obter um grande resultado. Nossos tempos em condição de corrida são bastante promissores”, disse o australiano, vencedor de três etapas este ano. Vettel marcou o quarto tempo, a 0s846 milésimos de Hamilton, e Ricciardo, o sexto, a 1s070 milésimos.
Com os pneus macios, tanto Ricciardo quanto Vettel eram mais lentos que Hamilton e Rosberg, mas não demasiadamente, como os pilotos da Williams, da McLaren e da Ferrari. Em uma volta lançada, Kevin Magnussen, da McLaren, conseguiu registrar o terceiro tempo, 0s782 milésimos mais lento que Hamilton. Mas Vettel veio logo a seguir, a 0s064 milésimos de Magnussen. Esses tempos foram obtidos nos 20 minutos finais da sessão da tarde, todos os carros tinham os pneus supermacios e nessa condição não costuma haver diferenças marcantes de volume de combustível entre os concorrentes, portanto os tempos têm boa representatividade.
Apesar de Vettel ter ficado em quarto e Ricciardo em sexto, ao longo das 55 voltas do GP de Abu Dabi a RBR foi quem mais demonstrou potencial para não ser tão mais lenta que a Mercedes, com a Williams quase no mesmo nível. É importante considerar, também, que o grupo de engenheiros coordenado por Pat Symonds, diretor técnico da Williams, tem histórico de melhorar bastante o carro de sexta-feira para sábado. Portanto, pode ser que em condição de corrida Vettel e Ricciardo enfrentem Massa e Bottas bem mais preparados que neste primeiro dia no Circuito Yas Marina. Massa talvez estivesse sendo um tanto pessimista demais.
Um dado que possivelmente será avaliado pelo time de Massa deverá ser o aumento, ainda que sutil, da carga aerodinâmica. Ele e Bottas perderão alguns quilômetros de velocidade final das duas grandes retas, mas serão um pouco mais rápidos no setor 3 onde nesta sexta-feira perdiam a maior parte dos quase um segundo que a Mercedes lhes impunha. Na sessão livre da tarde, desta sexta-feira, Bottas atingiu 331 km/h, Massa, 330 km/h. Hamilton, 323 km/h, e Rosberg, 324 km/h.
De repente, perder alguns quilômetros poderá significar, no compromisso geral da volta, ganhar dois, três décimos de segundo, o que colocaria a Williams de novo como a segunda força da corrida, pois as diferenças para a McLaren de Magnussen e a RBR de Vettel foram bem reduzidas. Bottas foi 0s111 milésimos mais lento que Vettel. E somente 0s175 milésimos de Magnussen. Como se vê, no caso de Symonds conseguir tornar o modelo FW36 dois décimos, apenas, mais veloz, Bottas e provavelmente Massa vão crescer na classificação, mas como adiantou o brasileiro, “sem nenhuma chance de incomodar a Mercedes”.
Rosberg terá primeiro de tentar estabelecer, neste sábado, a pole position. O que pelo evidenciado nesta sexta-feira já não será fácil. Hamilton não escondeu estar com o W05 Hybrid na mão. O que não foi o caso de Rosberg, ainda que a diferença entre ambos seja pequena. E depois de ser mais rápido na definição do grid e largar bem, Rosberg precisará contar com que Hamilton tenha alguma dificuldade, técnica, cometer um erro ou se envolver num incidente.
Como se vê, Hamilton, que já tem a vantagem de 17 pontos na classificação do campeonato (334 a 317), andou um pouco mais à frente nesta sexta-feira no caminho rumo ao título mundial, que seria o segundo da carreira.