O Botafogo, dono da casa, defendia invencibilidade de 14 partidas no Engenhão neste Campeonato Brasileiro. O Figueirense pisava em campo como um visitante indesejado: nos últimos oito jogos fora, vencera cinco e empatara três. No interessante duelo alvinegro, neste sábado, de poucos espaços e muita luta, o sonho botafoguense de alcançar a liderança, ainda que provisória, esbarrou na intenção dos catarinenses em brigar por vaga para a Libertadores e, por que não, voltar a sonhar com título, apesar de remotíssimas chances matemáticas. E o Figueira levou a melhor por 1 a 0.
Com um gol de Júlio César, logo aos cinco minutos, o time catarinense saiu com uma vitória que o deixa com 53 pontos ganhos e provisoriamente na quinta colocação, o sonhado G-5. O Botafogo, que perdeu a invencibilidade no Engenhão e viu o técnico Caio Jr. ser hostilizado pela torcida, se mantém com 55, na terceira posição. Mas, no domingo, terá de torcer para Corinthians e Vasco não dispararem na tabela e não ser alcançado pelo Fluminense para se manter próximo na briga pelo título.
Na próxima rodada, os cariocas farão clássico importante com o Vasco, domingo, no Engenhão. O Figueira, invicto há 12 partidas, receberá o Atlético-MG, no sábado.
Júlio César marca 10º gol no Brasileiro e dá vitória ao Figueirense (Foto: Bruno Gonzalez/Agência O Globo) Gol rápido do Figueira
A torcida do Botafogo compareceu bem. Foram mais de 25 mil presentes ao Engenhão. O jogo começou frenético. Com Lucas na lateral direita, Léo como volante e Renato adiantado no meio-campo - Herrera acabou sacado -, a intenção de Caio Jr. era fazer o Botafogo avançar sem perder o bom poder de marcação. Era grande a cautela, principalmente com os avanços do lateral-esquerdo Juninho. O técnico, no entanto, viu sua intenção de aumentar a força defensiva acabar em cinco minutos. E foi pelo outro lado que saiu a jogada. Pela direita, o Figueirense mostrou - e bem - o seu cartão de visitas. Wellington Nem tocou para Júlio César, que soltou a bomba de longe, com a canhota. A bola ainda resvalou em Fábio Ferreira e surpreendeu Jefferson, encoberto: 1 a 0 Figueira.
O camisa 99 não só jogou uma ducha na torcida alvinegra como deu outro susto, pouco depois, pela esquerda. Dessa vez, Jefferson conseguiu defender. E aí foi a vez de o Botafogo apertar. A marcação da defesa adiantou, a torcida começou a empurrar, e o time saiu um pouco do sufoco inicial. Tanto que Loco Abreu, após falha de Roger, teve duas chances seguidas para empatar o jogo. Na primeira, Wilson fez grande defesa. Na outra, a bola resvalou em Roger, que se redimiu.
Poucos espaçosA essa altura, o Figueirense já dava campo para voltar a surpreender nos contra-ataques. O Botafogo procurava, principalmente pela esquerda, com Maicosuel, criar logo uma boa chance. O meio-campo do Figueira, no entanto, encurtava os espaços. A solução da equipe carioca passou a ser a bola aérea. Em uma, Antônio Carlos cabeceou rente à trave.
Se Elkeson, Maicosuel e Renato tinham dificuldades de deixar um isolado Loco Abreu de cara para o gol - Cortês pouco subia para ajudar -, o Figueirense arrumava sempre um espaço na defesa alvinegra para perturbar. E desperdiçou uma chance de ouro. Juninho avançou para o meio e tabelou com Júlio César, que livre, no meio da zaga, arrancou, driblou Jefferson e mandou para fora.
Wellington Nem também começava a encaixar bem o contra-ataque catarinense. A torcida do Botafogo, já impaciente, vaiava o time. Maicosuel e Elkeson alternavam de lado. Renato não superava pelo meio o bom bloqueio do Figueira, que desarmava bem. Bolas paradas e centros para a área também não adiantaram. No fim do primeiro tempo, gritos de burro para Caio Jr. mostraram a insatisfação da torcida.
Herrera em campoCaio Jr. mudou de ideia e atendeu aos apelos da torcida: Herrera entrou para fazer companhia a Loco Abreu no ataque. No lugar de Léo, aquele mesmo escalado para aumentar a marcação no meio-campo. No Figueirense, Bruno Vieira, que havia feito um bom primeiro tempo, saiu, machucado, para a entrada de Pablo.
Com o atacante argentino aberto pela direita, Elkeson passou a circular mais. Mas não estava inspirado. A torcida voltou a apoiar o Botafogo, que ainda tinha dificuldade em encontrar espaços. Até a altura dos 20 minutos, o lance que mais provocou frisson foi uma jogada pela direita, em que o coro da arquibancada pediu pênalti de Édson Silva em Lucas - foi logo no começo, aos quatro. O árbitro Héber Roberto Lopes mandou o jogo seguir. E o Figueirense, sempre perigoso nos contra-ataques, perdeu uma chance de ampliar o placar aos 19, quando Wellington Nem recebeu de Coutinho e bateu rasteiro. Jefferson salvou.
Vaias e gols perdidosA torcida do Botafogo começou a desanimar. Elkeson e Maicosuel caíam de rendimento. O primeiro isolava as cobranças de falta. O segundo errava muitos passes. Caio Jr. trocou Elkeson por Everton. E ganhou mais vaias. No Figueira, Jonatas já havia substituído Túlio. E Coutinho, machucado, também saiu para a entrada de João Paulo.
Debaixo de gritos ofensivos a Caio Jr., Lucas quase empatou aos 34. Pouco depois, o lateral iniciou outra boa jogada. Centrou na cabeça de Loco Abreu, que serviu Everton. O camisa 10 perdeu a maior chance para o Botafogo. No fim, o time, já sem pernas, via Lucas cair ao esbarrar com a bandeirinha de escanteio e ouvia a torcida voltar com os gritos de burro ao técnico Caio Jr. "O Botafogo não precisa de você", vociferava, após um palavrão, para o treinador. O Figueira, comandado por Elias no meio-campo, só tocava a bola para o tempo passar. Ainda levou um susto com Loco Abreu, de cabeça, aos 45. Mas a bola foi para fora. E a missão acabou sendo cumprida.