Caricatura de Mauricio de Souza feita pelo
desenhista de sua equipe Marcio Nicolosi
desenhista de sua equipe Marcio Nicolosi
- Fomos ao jogo, eu e minha família. A criançada era pequena, o caçula, Mauricio, era um crianção, e pedia colo de vez em quando. E pai é para isso mesmo. Subimos, aquela festa toda, a gente com a cara pintada de verde e amarrelo, com a camisa da Seleção. O jogo passa, aquele nervosismo todo, e vai para os pênaltis. Todo mundo muito nervoso, sem saber o que vai acontecer. Mas o Mauricio naquele momento teve sono, e tive de ficar sentado com ele no colo.Quando foi a vez de o Baggio cobrar o pênalti, o pessoal todo se levantou, e eu não aguentei me levantar com meu filho no colo e ver aquele chute que pôs tudo a perder para a Itália. O Mauricio era um cavalão de cinco para seis anos, e não pude ver. Fui lá para ver isso, a vitória do Brasil, e não vi. Acho que fui o único do estádio que não viu a cobrança errada - relembrou com ótimo humor o cartunista, por telefone, de seu estúdio em São Paulo.
Ele já havia ido às Copas de 86, no México, e de 90, na Itália, sempre com alguém da família e com a frustração de não ver o Brasil ser campeão. Rindo enquanto relatava o que havia ocorrido naquele 17 de julho de 1994, o artista revelou o principal motivo que o fez se inspirar em Mauricio Takeda Sousa, seu filho mais novo, para criar o personagem Do Contra:
- Acontece, o Mauricinho sempre foi do contra. Depois saímos para festejar. Este foi o jogo que mais me marcou, e não vi o Brasil ganhar. Logo eu, que vivo de olhar e desenhar as coisas que vejo.
Baggio desolado após perder o pênalti que decidiu o título mundial de 94. Ao fundo, jogadores brasileiros comemoram a conquista. Mauricio de Souza não viu a cobrança, mas vibrou no estádio (Foto: Agência AFP)
- Os primeiros desenhos que publiquei foram num jornal esportivo de Mogi das Cruzes (SP). Eu criei os símbolos de todos os clubes da região: Vila Santista, São João, Botujuru, Jundiapeba e XV de Novembro. Aliás, o Chico Bento (um de seus personagens) torce pro Nhô Quim, o XV de Piracicaba.
Mauricio, à direita, com Neymar, para quem também
criou um personagem (Foto: Reprodução Twitter)
criou um personagem (Foto: Reprodução Twitter)
- Esse menino do Corinthians, o Romarinho, tem um jeitinho de que vai dar certo. E pode fazer parte da minha seleção dos craques pintados.
No entanto, esse time já poderia estar maior, com Dieguito (Maradona), que já tinha toda a sua turma criada, e Ronaldo Fenômeno:
- Em 86, fui à concentração da seleção argentina, pouco antes da Copa. "Invadi", era superfechada, mas o Maradona mandou que eu entrasse. Infelizmente não deu certo, era um projeto lindíssimo, maravilhoso. Depois ia fazer o do Ronaldo, mas o contrato com o Real Madrid impedia.
Torcedor do São Paulo, mas ultimamente mais ligado ao Corinthians
Mônica torce para o São Paulo. Magali é santista,
Cascão, corintiano e Cebolinha, palmeirense(Ilustração: Mauricio de Sousa)
Cascão, corintiano e Cebolinha, palmeirense(Ilustração: Mauricio de Sousa)
- Nasci numa família são-paulina, mas nenhum dos meus filhos é são-paulino. Tem uma palmeirense e dois corintianos roxos, que choram e tudo mais. Eles sempre me pedem para levar ao estádio, assisto ao jogo no lado do Corinthians, porque não quero ver meu filho sofrer, mas estou gostando de ir de novo aos estádios. Fiquei muitos anos sem ir. Sempre levava a criançada.
Durante a entrevista, Mauricio demonstrou estar com saudades do Tricolor do Morumbi, mas não deixa de elogiar o Alvinegro do Parque São Jorge:
- Estou devendo uma visita ao São Paulo, eles (os filhos) estão me desviando. Tenho vontade de voltar ao São Paulo, fazer um acordo com eles também. Mas clube inflamado efetivamente é o Corinthians. Fui a quase todos os últimos jogos, e o Corinthians ganhou todos. Agora meu filho diz que eu não posso deixar de ir. No último, eu disse que não podia, aí ele falou: "Me dá uma peça de sua roupa, então (tem de 13 para 14 anos)". Então, quando não vou, ele vai com amigos meus. O meu médico cardiologista, que é corintiano, também vai, mas não sei se vai para ver o jogo ou para observar as minhas emoções.
Cebolinha comemora o título da Copa do Brasil
deste ano (Foto: Divulgação)
deste ano (Foto: Divulgação)
- O primeiro ídolo, eu ainda era um garotão, foi o Poy (goleiro argentino das décadas de 40 a início de 60 e depois treinador do próprio São Paulo, Portuguesa e XV de Jaú). Do Noronha (lateral-esquerdo e zagueiro que atuou nas décadas de 40 e 50 também no Grêmio, Vasco e na Portuguesa), eu também gostava. E outro que não era tanto do meu tempo, mas que eu admirava, era o Domingos da Guia (zagueiro que jogou nas décadas de 30 e 40 por Bangu, Vasco, Nacional-URU, Boca Juniors-ARG, Flamengo, onde se destacou mais, e Corinthians). E teve também o Mauro (Ramos, zagueiro bicampeão mundial pela Seleção em 1958 e 62 e que atuou no Santos e no São Paulo). Depois os que vieram. Assisti a jogos do Garrincha e do Pelé. Inclusive no último jogo dele, no Cosmos, ele me deu uma colher. Acabei criando o Pelezinho (em 1977), já estávamos conversando. Sempre fomos muito ligados em diversos momentos.
Porém, é a infância o assunto predileto do cartunista, que nasceu em Santa Isabel (SP), mas foi criado na vizinha Mogi das Cruzes (SP). Foi lá que começou a se apaixonar pelo futebol, mas conta que não era tão bom de bola. Fominha, sim.
- Eu tinha um campinho de estimação na casa de minha avó. A gente chamava o campo de Esmaga Sapo, imagina por quê? (risos) A casa ficava perto do ribeirão, então o gramado vivia cheio de sapos e rãs, volta e meia escorregava num. Depois teve o timinho na minha rua, e na rua de baixo, onde tinham uns moleques mais velhos dois, três anos que nós. Quando eles chegavam, nos entocavam do campo. Eu era menor, mas acabei com aquilo. Eu disse: "Não vamos sair mais, vamos jogar contra, sem brigar". Mas nunca apanhamos tanto. Era pontapé para tudo quanto é lado. Um jogo livre. Pareciam aquelas disputas em arenas romanas. Eu ficava com a perna toda roxa. Nunca fui bom jogador de futebol, mas sempre fui de correr muito, fiz atletismo, eu corria bastante, era um bom atleta. Organizei um futebol muitos anos depois aqui já no estúdio, eram os sábados de futebol. Mas aí eu ia para o gol e conseguia bons resultados. Acho que era porque o pessoal tinha receio de dar chutão em cima, de me machucar, afinal eram funcionários - revelou.
Taffarel; Jorginho (Cafu), Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Viola); Bebeto e Romário. | Pagliuca; Mussi (Apolloni), Baresi, Maldini e Benarrivo; Berti, Dino Baggio (Evani), Albertini e Donadoni; Roberto Baggio e Massaro. |
Técnico: Carlos Alberto Parreira. | Técnico: Arrigo Sacchi. |
Decisão nos pênaltis: Brasil 3 (Dunga, Branco e Romário) x Itália 2 (Albertini e Evani). | |
Árbitro: Sandor Puhl (HUN), auxiliado por Venancio Zarate (PAR) e Davoud Fanaei (IRA). Cartões Amarelos: Mazinho e Cafu (BRA); Apolloni e Albertini (ITA). | |
Local: Rose Bowl Stadium, em los Angeles (EUA). Data: 17/7/1994. Competição: Copa do Mundo. Público: 94.194. FONTE: http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2012/09/meu-jogo-inesquecivel-frustracao-e-festa-para-mauricio-de-sousa-em-94.html |