Marta aposta no Rio: "Não sei se conseguirei jogar mais uma Olimpíada"
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Marta aposta no Rio: "Não sei se conseguirei jogar mais uma Olimpíada"



No dia dos 30 anos, camisa 10 reflete sobre carreira e diz que chegou a ficar descrente de atuar em mais uma Copa, mas busca por recorde a faz seguir




Por
Rio de Janeiro



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Aos 17 anos, depois de uma passagem pelo Vasco, aquela menina cheia de sonhos chegou à Suécia. Aquela terra fria tornou-se sua casa, seu local de evolução, mas seu coração seguiu brasileiro e seu futebol mais ainda. Com sua habilidade, assegurou cinco títulos como melhor jogadora do mundo, passou o recorde de Pelé em número de gols com a amarelinha - agora soma 100 contra 95 do rei - e virou referência no esporte tanto entre homens quanto entre mulheres. Marta completa 30 anos nesta sexta-feira, quase todos eles dedicados ao futebol.  Com tantas conquistas no currículo, ela vislumbra outras mais, entre elas, as Olimpíadas, justamente por não saber se poderá estar em outra no futuro.  O longo caminho trilhado dá à atleta a certeza de que medo por atuar em casa está totalmente fora do seu dicionário.

- O pessoal coloca muito essa questão das Olimpíadas. Sem dúvida é um sonho que eu gostaria de poder realizar. Esse ano, jogando no Brasil. A gente já tem duas medalhas de prata. Mas a gente necessita estar sempre levando a seleção para o lugar mais alto. A gente briga muito por isso, a gente pede apoio. Talvez eu nem sinta a necessidade de "ah tem que ganhar, tem que ganhar". Quantas vezes a gente fez tão bem em campeonatos e Olimpíadas e mudou, mas não o suficiente para que a gente pudesse realmente viver do futebol no Brasil. Então, esse peso de "ah você precisa ganhar" para ver se muda já não é algo que amedronta. Mas é questão mesmo de ter mais oportunidade e por ser especial, por ser no nosso país. Não sei se conseguirei jogar mais uma Olimpíada. Então tem todas essas dúvidas que eu não deixaria de gostar essa oportunidade novamente passar na frente e não conquistar por mim e pelas meninas que vêm lutando há muito tempo para que essa modalidade cresça. Pelas próximas meninas, pelas gerações que vêm depois da gente. É um ano muito especial, é um momento muito especial – disse Marta ao GloboEsporte.com.

São os recordes que também  movem sua paixão e dedicação ao futebol.  Ela confessou que depois do Mundial no Canadá estava cogitando não atuar em mais uma Copa. A possibilidade, no entanto, de passar o alemão Klose e assumir o posto de maior artilheira da competição despertou nela novamente o desejo por prosseguir. São 15 gols no torneio e com apenas mais dois ela ultrapassaria o atacante, que tem 16 e já se aposentou da seleção alemã. A missão ficará para 2019, na França.  Mas ela diz que é preciso que seu corpo aguente e salienta com risos que “nem todo mundo é Formiga”. 

Marta Brasil x Austrália - Mundial Feminino (Foto: Getty Images)Marta no jogo diante da Austrália na Copa (Foto: Getty Images)


- Depois dessa Copa do Mundo eu estava meio desacreditada de pensar em jogar mais uma Copa. Mas depois disso tudo, quem sabe conquistar mais um recorde, são coisas que nos dão uma motivação para se manter em atividade. É óbvio que a gente vai pegar essas coisas legais para que possa a cada dia fazer uma meta: "poxa, eu quero estar bem, eu vou continuar bem, eu vou em busca de me manter bem". Meu corpo também tem que responder porque nem todo mundo é uma Formiga da vida. A gente tem que se cuidar e tem que ter isso como uma meta. No momento, eu já estou até pensando: "ah o próximo Mundial em 2019, quem sabe". Aí a gente vai criando essas coisas na nossa cabeça já pensando assim e isso nos motiva a cada treino. Você acorda cedo num frio danado aqui. Tem que sair da cama e ir para o treino. Tem que tentar manter meu foco para quem sabe a gente possa seguir jogando por mais algum tempo.


Confira outras respostas de Marta:

"Caraca, eu já conquistei isso"
- A gente não espera. Nossa, tudo isso que aconteceu na minha vida foi algo extraordinário. Não acontece constantemente. Mas eu sempre sonhei. Meus sonhos sempre foram de jogar na Seleção, de ser conhecida principalmente no meu Brasil. Mas vir parar na Suécia com 17 anos, conquistar títulos aqui na Suécia, conquistar Liga Europeia, aos 20 anos ganhar como melhor jogadora do mundo...isso sem dúvida eu não esperava com essa velocidade toda. Até hoje não consigo parar para pensar e olhar tudo: "caraca, eu já conquistei isso, isso e isso". Eu ainda não consigo assim pensar. Eu fico feliz, eu me emociono muito, ouço as pessoas falarem. Eu fico algumas vezes sem saber o que responder porque é muito difícil explicar o sentimento de prazer, orgulho por tudo que você já conquistou. Você realmente perceber que as pessoas gostam do que você faz Mas nunca na minha vida eu cheguei e falei "eu sou melhor, jogo para caramba". Eu realmente sou muito na minha.

Chorona: jeito de ser até vendo novela
- É o meu jeito. Minha mãe também é assim, ela se emociona com tudo. Eu choro até vendo novela. Mesmo sabendo que é uma ficção, uma história inventada, a gente acaba se colocando no lugar daquela pessoa e vem a emoção. Mas, óbvio, não querendo me fazer de coitadinha, mas a gente para conquistar alguma coisa na nossa modalidade rala muito. Então, quando a gente chega no topo, quando a gente conquista, usando meio que um desabafo na hora e mostrando: "poxa, realmente a gente necessita sofrer tanto para ser reconhecida?". E isso é constante. Todas as vezes que ganhei como melhor jogadora eu chorei. Se um dia voltar a ganhar não vou segurar as lágrimas de novo porque é algo meu, uma coisa natural minha. Eu acabo mostrando essa emoção do quanto é importante aquele momento, do quanto vale aquilo tudo, do quanto vale o esforço do dia a dia para a gente construir os objetivos.

Xô, polêmica!


Marta recebe o prêmio de melhor do mundo em 2006 (Foto: AP Photo/KEYSTONE/Alessandro della Valle)Marta eleita melhor do mundo em 2006 (Foto: AP Photo/KEYSTONE/Alessandro della Valle)
- Acho que isso não leva a lugar algum. Tem gente que até acha legal no futebol masculino porque é algo mais visado. Uma ou outra atleta do futebol feminino é um pouco mais polêmica. Mas eu nunca puxei por esse lado para ganhar mídia, chamar atenção. Eu vejo isso como uma batalha que não pertence somente a mim. O futebol feminino tem que ser ajudado e ter o seu devido valor através das atletas, mas não necessariamente tendo que ter nenhum tipo de situação negativa para chamar atenção. Mostrar que a realidade é essa e que a gente batalha constantemente para que a modalidade seja reconhecida à altura e que não é só a Marta, não é só uma ou outra atleta que tem que estar em destaque e sim a modalidade. É isso que sempre prego no clube onde eu jogo e foi sempre em toda a minha vida. Graças a Deus eu me sinto bem dessa maneira. Não vejo necessidade de querer aparecer de outra forma. No masculino é algo mais diferente. Alguns jogadores até gostam muito da polêmica. Enfim, são pessoas diferentes. Eu sou assim e gosto de ser assim porque eu prefiro dar o bom exemplo a ter que ser lembrada de uma forma negativa.


O espírito de adolescente
Muito bacana, sabe? Eu sou muito na minha. Não sou muito de comemorar meu próprio aniversário e lembrar daquela ideia que você está ficando velha, mas eu acho que o mais bacana disso é que por mais que esteja fazendo 30 anos eu ainda me sinto muito ativa, bem adolescente mesmo. O espírito de adolescente continua, a vontade de conquistar mais coisas ainda continua. Olho para trás e vejo uma vida bem produtiva que me dá muito orgulho de tudo que eu tive que passar para conseguir meus objetivos, mas que no final o sabor foi inexplicável em relação a conquistas e hoje ser uma das que são exemplo para as pessoas, para as crianças, para as meninas que sonham em jogar futebol. Realmente me deixa muito feliz.

O Brasil não é só Marta
Acho que de alguma maneira, cada um fazendo um pouco, a gente vai encaixando o quebra-cabeça para tentar chegar ao nosso melhor nível. Eu estava de férias naquele período - férias que foram bem curtas esses ano -, mas eu precisava estar com as meninas, ver elas antes de vir para a Suécia (mesmo de folga ela foi à Granja Comary há alguns dias treinar com o Brasil). Aproveitei porque estava no Rio e dei uma subida até Teresópolis, vi as meninas, fiz um treino aeróbico mesmo porque elas estavam fazendo vários testes e eu não tinha tempo para fazer todos. Para não perder a viagem acabei treinando. E isso é importante. A gente está tentando mostrar que não é só a Marta que vai ganhar a Olimpíada. Não é a Marta ou Formiga. É todo mundo. Todo grupo que tem essa necessidade de estar bem. Eu preciso da minha goleira para salvar uma bola caso necessite, eu preciso da zagueira, eu preciso das laterais, meia. Uma peça que estiver fora do lugar a gente acaba tendo dificuldade de realizar o trabalho bem feito.

Marta Brasil Coreia do Sul Mundial (Foto: Graham Hughes / AP)
Marta comemora gol diante da Coreia do Sul 
no Mundial (Foto: Graham Hughes / AP)

Foco e trabalho no Rosengard em busca do ouro


- Para que eu chegue bem nas Olimpíadas e bem com a Seleção, eu preciso estar bem aqui no meu clube. Estou com o foco aqui, treinando bem, jogando amistosos. Antes das Olimpíadas a gente vai ter Champions League nas quartas de final. A gente tem Supercopa da Suécia. Um monte de coisas. Então, eu acho assim. Se eu estiver bem no meu clube, feliz e os resultados estiverem acontecendo de maneira positiva, isso vai sem dúvida influenciar para que eu chegue bem também na Seleção e jogue bem nas Olimpíadas.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2016/02/marta-aposta-no-rio-nao-sei-se-conseguirei-jogar-mais-uma-olimpiada.html



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