Esporte
Frio desde pequeno, Cavalieri lembra fase no Liverpool: 'Cheguei a chorar'
Treinado pelo pai nos campos de pelada, discreto camisa 12 do Flu quer esquecer passado na Europa e se consolidar como ídolo nas Laranjeiras
Por Rafael Cavalieri e Eric Faria Rio de Janeiro
Diego Cavalieri revelou que chorou na Inglaterra
(Foto: Rafael Cavalieri / Globoesporte.com)
Grande parte das crianças brasileiras já sonhou em algum momento em se tornar jogador de futebol. As camisas 9 ou 10 são as opções naturais. Diego Cavalieri, no entanto, não teve escolha. Desde criança, a convivência com o pai Antônio Carlos o levou para debaixo das traves. Mazola, como era conhecido, não deu sorte no futebol, mas treinou o filho, que se tornou um dos melhores da posição no Brasil na atualidade. Falecido em 2009, ele segue sendo a principal inspiração para o camisa 12 tricolor, que assumiu papel de protagonista na impecável campanha do Fluminense no Campeonato Brasileiro. Além da conquista de seu primeiro título nacional, Cavalieri, tem outras duas metas nas Laranjeiras: garantir um lugar no hall dos grandes goleiros do clube carioca e esquecer a frustrante passagem pelo Livepool, entre 2008 e 2010, quando amargou a reserva na Inglaterra:
- Cheguei a chorar - recorda Cavalieri. O treinamento, no entanto, começou muito antes do Fluminense, do Liverpool ou até mesmo de entrar para as categorias de base do Palmeiras. Diego Cavalieri costumava acompanhar o pai nas peladas que disputava com os amigos. Além de observar os movimentos de Mazola, acabava se arriscando nos intervalos. Mesmo diante de pessoas muito mais velhas e com chutes fortes, encarava as bolas e realizava alguns dos milagres que hoje a torcida do Fluminense tanto comemora.
Cheguei a chorar e a me perguntar: "Será que estou fazendo algo de errado? Será que desaprendi?"."
Cavalieri, sobre a passagem pelo Liverpool
- Meu pai brincava muito comigo. Ele chegou a jogar pelo Santo André, mas teve de largar tudo quando meu avô morreu. Só que mesmo assim acabava me treinando. Chegava nas peladas para os amigos e mandava chutar forte mesmo que eu ia me virar. Aquilo já foi um aprendizado. Não tinha diferença de idade, ele sempre dizia para eu dar meu jeito. E isso de certa forma me ajudou. Em 2009, estava na Inglaterra e ele faleceu. Mas tenho certeza de que ainda está me acompanhando - relembrou Diego, que é pai de Enzo, de um ano e dois meses, e que espera não ver seguindo o mesmo caminho, apesar de garantir o apoio caso seja a sua escolha.
Hoje, Diego Cavalieri é uma realidade. E aos poucos vai consolidando sua posição entre os grandes goleiros do Fluminense. Para muitos tricolores, ele já é o maior da posição desde Paulo Victor, ídolo da década de 80. Caso conquiste o Campeonato Brasileiro, seu segundo título pelo clube - o primeiro foi o Carioca neste ano -, já pode entrar na galeria, apesar de ele ainda achar que é pouco.
Diego Cavalieri rezando antes de jogo pelo Fluminense (Foto: Agência AFP)
- Eu vi alguma coisa do Paulo Victor desde que cheguei ao Flu. Alguns jogos históricos. Foi um goleiro importante e tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. O Castilho é difícil ver, mas sei das histórias, como a que ele amputou parte do dedo. Foram goleiros importantes para o clube, que fizeram grandes trabalhos e entraram para história porque venceram. No futebol é isso o que marca. E o jogador corre atrás para ter a sua história - explicou. Frieza marca personalidade
Além da simplicidade nas defesas, sejam elas simples ou até as consideradas milagrosas, um traço marcante de Diego Cavalieri é a frieza. Exemplo claro disso foi a reação após defender um pênalti em um Fla-Flu no Engenhão lotado aos 40 minutos do segundo tempo. Punhos cerrados e nem ao menos um sorriso após o lance que ajudou a definir a vitória tricolor por 1 a 0. Fatos como esse renderam ao camisa 12 o apelido de Homem de Gelo entre alguns torcedores. Ele explica que sempre foi assim.
Diego Cavalieri na partida do Fluminense contra o Flamengo (Foto: Dhavid Normando / Photocamera)
- Dificilmente eu comemoro muito, ou extravaso... E vou continuar da mesma maneira. É uma característica minha. Sempre fui assim mesmo fora de campo. A gente sabe da nossa responsabilidade e da pressão. Esse jeito me ajuda a manter o foco - explicou.
Apesar de dizer que sempre foi assim, as dificuldades que passou no período em que atuou no futebol europeu ajudaram a moldar sua personalidade. Contratado pelo Liverpool após boas temporadas pelo Palmeiras, acabou recebendo raras oportunidades, que o desanimaram bastante. De lá foi para o modesto Cesena, da Itália, mas as sonhadas chances também não apareceram. Foi um período de aprendizado e questionamentos até aparecer o Fluminense.
Diego Cavalieri em jogo pelo Liverpool (Foto: AFP)
- Cheguei a chorar e me perguntar: "Será que estou fazendo algo de errado? Será que desaprendi?". Quando você passa dois anos e meio sem aparecer, as coisas ficam complicadas. Zeraram meus bons anos pelo Palmeiras. Mas apareceu o Fluminense e fiquei feliz com a oportunidade e com a grandeza do clube. Fui recebido de braços abertos, estou feliz, adaptado e tentando manter essa tradição de grandes goleiros.
Frio e sério. As características são marcantes e estão presentes. Mas será que a torcida tricolor não vai ver Diego Cavalieri vibrar que nem um maluco nem mesmo no jogo que consolidar a tão sonhada conquista do Campeonato Brasileiro? Pode até ser, mas o paredão tricolor não garante. - Se a gente realmente conquistar, eu não sei dizer como vai ser. Sou tranquilo e discreto. Não dá para fazer uma previsão. Na hora vem e a gente faz. Vamos ver o que acontece (risos).FONTE:
http://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/2012/11/paredao-desde-crianca-cavalieri-sonha-com-idolatria-tricolor.html
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