A paulista deixou a pista em choque, desolada. Sem chorar, quase sem piscar. Andou em direção às arquibancadas, onde estava o técnico Vitaly Petrov. Os dois trocaram algumas palavras sem se olhar. Depois, a atleta foi conversar com um dos fiscais de prova. Queria ver se, com 4,50m, seria uma das 12 classificadas para a final. Não. Era a 14ª colocada. Estava eliminada. Tirou as sapatilhas, colocou o casaco e ficou à beira da pista. Olhando as rivais, olhando para o nada.
- Foi culpa minha, fui muito mal nos meus saltos. O vento estava inconstante, e não consegui manejar isso com a varas. Meus saltos foram muito irregulares. Eu tenho um minuto para saltar e, dentro deste tempo, poderia ir e voltar quantas vezes eu quisesse. Corri, mas o vento estava forte. Depois que eu tomei a bandeira amarela, só restavam 15 segundos. Não teria tempo mesmo, e o vento continuava forte. Estava perigoso, e eu sabia que não ia conseguir completar. Tentei fazer o que eu podia, mas não adiantava me jogar no último salto e me machucar. É o esporte, acontece - disse a atleta, que tem 4,85m como melhor marca da carreira e 4,77m na temporada.
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A equipe técnica brasileira avaliou que Fabiana deveria ter trocado a vara por uma mais dura, mais resistente e capaz de lhe dar segurança diante do vento forte. Nem isso deu jeito.- Para comentarista, Fabiana Murer falhou e deu chance para o azar
- O vento estava oscilando muito. No primeiro salto, o vento estava a favor. Ela usou uma vara mais fraca. O vento empurrou, e ela esbarrou no sarrafo a 4,50m. Passou, mas encostou. Quando chegou no salto de 4,55m, o vento virou. Ela tentou uma vara mais rígida. Mas na hora dos saltos ela não estava nem conseguindo correr com o vento contra. Algumas atletas pegaram o vento a favor e conseguiram encaixar o salto - disse o marido e técnico da paulista, Elson Miranda.
Há quatro anos atrás, Fabiana Murer não era favorita como agora. Chegou aos Jogos de Pequim tendo saltado acima de 4,80m, marca considerada mínima para brigar pelo pódio, apenas uma vez na vida. Ali, beliscar um bronze já seria um resultado histórico, inédito. Quando foi saltar com o sarrafo em 4,65m, sentiu falta da vara que precisava para vencer a altura. A competição foi paralisada para que a peça fosse procurada. Sem encontrá-la, a atleta tentou adaptar. Muito abalada psicologicamente, falhou nas três tentativas de passar a 4,65m e se despediu em 10º lugar.
Fabiana Murer acerta apenas um salto no Estádio Olímpico, com o sarrafo a 4,50m (Foto: Agência AP)
Fabiana perde para ela mesma, e Isinbayeva sobra
Yelena Isinbayeva, que não tinha nada a ver com o drama da brasileira, seguiu seu script de forma exemplar. Passou com muita folga pelo sarrafo a 4,50m e 4,55m. Foi o destaque absoluto das eliminatórias. Além da russa, que busca o tricampeonato em sua última participação nos Jogos, outras 11 atletas garantiram vaga na disputa por medalhas, às 15h (horário de Brasília) de segunda-feira. As outras favoritas são a americana Jennifer Suhr, dona da melhor marca do mundo no ano, a cubana Yarisley Silva, atual campeã pan-americana, e alemã Silke Spiegelburg, que venceu a etapa de Mônaco da Diamond League, última antes das Olimpíadas.
Yelena Isinbayeva entra na competição em 4,50m e passa com muita folga (Foto: Agência Reuters)
A americana Jennifer Suhr, dona da melhor marca no ano, só entrou na disputa em 4,55m. Passou tranquila, mas não mais do que a atual bicampeã olímpica. Isinbayeva, novamente, sobrou. As duas passaram apenas a assistir as rivais. Algumas conseguiram passar a 4,55m, altura que garantiria a classificação à final. Fabiana Murer, atual campeã mundial, dona da terceira melhor marca do mundo no ano, não foi uma delas.
Pressionada, na terceira tentativa, demonstrava o nervosismo. No meio da série de passadas, parou. Foi advertida com a bandeira amarela. A organização pediu que ela esperasse um pouco, pois o vento tinha mudado. O pedido simples foi o suficiente para desorientar de vez a paulista. Mais uma vez, partiu para saltar. Mais uma vez, abandonou a tarefa no meio do caminho. O vento estava forte demais. Desta vez não haveria uma outra chance. A bandeira vermelha selou sua desclassificação.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/08/murer-decepciona-e-e-eliminada-do-salto-com-vara-nas-eliminatorias.html