Sentado na quadra do ginásio da Vila Leopoldina depois de mais um treino, Lorena tem sempre o sorriso aberto e a fala acelerada. Os palavrões ainda estão ali, mas de forma espontânea, dando força às frases do jogador. A explosão natural dos jogos está contida. Fora das partidas, o oposto diz ser um cara tranquilo e mostra exatamente esse lado. Acostumado a encarar tudo e todos, diz, inclusive, ter medos quase infantis. O homem que parece não temer nada revela tremer diante de coisas comuns.
- Tenho medo de escuro, de elevador. Quando preciso fazer uma ressonância é uma briga danada aqui. Fico dois dias sem dormir se for para entrar lá. No escuro, então. Se minha mulher viajou, eu durmo na sala, com a televisão ligada. Sou o maior medroso, as pessoas não acreditam, mas é verdade. Morro de medo desde pequeno. Acho que fiz xixi na cama até os 11 anos. Encaro várias coisas, mas sou medroso assim (risos).
O oposto é arma do Sesi-SP para a partida deste sábado, contra o Florianópolis, às 15h, no ginásio da Vila Leopoldina, em São Paulo. O SporTV transmite o confronto ao vivo.
Lorena voa durante treino do Sesi: medo do escuro (Foto: Marcos Ribolli )
O oposto, em entrevista a uma rádio paulista, confessou uma certa mágoa por não ter tido uma chance em sua carreira. As palavras soaram como um ataque a Bernardinho. Lorena, no entanto, diz que foi mal interpretado. Diz que ainda sonha com seleção, mas que já não é sua prioridade.
- Eu sempre tenho esse sonho. Se eu falar que não, é mentira. Na vida, você tem que sonhar com várias coisas. Se você joga e não sonha ser campeão e estar na seleção brasileira, é melhor ficar dentro de casa. A mesma coisa é vir aqui só bater cartão e não sonhar melhorar. Então, melhor não fazer mais nada. Todo dia eu sonho com algo a mais na minha vida. Falar que eu não sonho com seleção é mentira. Mas hoje já não é minha prioridade, minha prioridade é o Sesi-SP. Estou focado e quero ser campeão. Já bati na trave muitas vezes e agora estou em um grupo que tem tudo para ser campeão. Meu foco é aqui, mas dizer que não sonho com seleção é mentira. Eu trabalho para isso – disse o oposto, que integrou a pré-lista de Bernardinho para a Liga Mundial no ano passado, mas sequer participou da fase de treinos.
Lorena não sabe se seu temperamento foi uma das causas de não ter chegado à seleção. Lembra de Carlão, seu ídolo, que também tinha um jeito explosivo dentro de quadra e se tornou um dos maiores nomes do vôlei brasileiro. O oposto, porém, reconhece que depende do calor do jogo para brilhar.
Murilo é um exemplo do outro lado. Um dos melhores jogadores do mundo, o ponteiro do Sesi-SP costuma exibir um lado mais frio, mais concentrado. Lorena elogia o companheiro, mas diz que não conseguira seguir essa linha de jogo dentro de quadra.
- Eu não consigo fazer como os outros jogadores. Eu, por exemplo, bato palmas para o Murilo, que joga para caramba e é um cara superconcentrado, que consegue ver tudo que está acontecendo dentro de quadra. É um líder. Eu posso tentar ser igual a ele e não vou conseguir nunca, vou para baixo. E acho que o time também sente, porque o meu jeito também mexe com o time. Tem o Serginho, que também toca o terror dentro da quadra. Quando você vê seis jogadores vibrando, fica muito mais fácil de jogar. E o adversário pensa: “Vai ser f... ganhar agora”. É um fator positivo. Acho que a minha vibração é importante.
Mas, no caminho, Lorena também colecionou algumas brigas. Nesta Superliga, já trocou xingamentos com o técnico Giovane durante a derrota para o Campinas, na primeira rodada do returno. Nada tão grave como em sua época no Vôlei Futuro. Muito amigos, mas de temperamentos fortes, ele e Ricardinho fizeram do vestiário um campo de batalhas depois de discussões. E mais de uma vez.
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- É até engraçado. Nós saímos na porrada três vezes dentro do vestiário. E o cara é um irmão. Nós saímos no soco três vezes. Acabava e cada um ia para a sua casa. No outro dia, um olhava para o outro e dizia: “Você é um filho de uma mãe mesmo, vem cá me dar um abraço”. Os dois são muito doidos. Ele é um baita de um vencedor, o cara ama vencer. No calor da partida, cada um falava uma besteira e, na hora que víamos, os dois já estavam empacotando no meio (risos). Eu adoro ele.- Confira a tabela da Superliga masculina
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Ainda que tenha tido um bom início de carreira no Banespa, Lorena só se tornou conhecido do público quando levou o Montes Claros ao vice-campeonato da Superliga 2009/2010, já aos 31 anos. Por ter passado cinco anos atuando por times da Itália e da França, retornou ao Brasil quase como um desconhecido. Em quadra, liderou a recém-formada equipe mineira e se tornou o maior pontuador de uma mesma edição da competição, com 699 pontos. Lembra que, na Europa, viu técnicos tentarem mudar seu jeito de jogar. Mas, depois de um período de sofrimento, traz memórias carinhosas do tempo que jogou fora.
- Eu amo a Europa, conheci minha mulher lá. Foi um baita aprendizado. No Brasil, quando você erra, você tem a família, amigos, pessoas que passam a mão na sua cabeça. Lá, não. Você está sozinho. Já tive problemas na Europa, já vi técnico não gostar de mim na França, me dar mal no grupo, mas eu bicava o balde. Chegava no vestiário e gritava: “Vocês são todos um bando de b...”. A galera queria me matar, mas nunca levei desaforo para a minha casa. Eu sempre fui assim. O técnico me avisava, pedia para não tomar cartão porque o cara do outro lado era igual a mim. Quando via, nós dois já estávamos discutindo, com o rosto na rede, xingando. E, na hora que via, era amarelo, expulso. E já pensava: “Que m... que eu fiz”. Mas o público adorava. Na Itália, todo mundo ia para os jogos, quando ia para o saque, já começavam a gritar “Brasil”, a galera ia ao delírio. Sou um cara doidão, mas tranquilaço.
Lorena diz que seleção não é sua prioridade (Foto: Marcos Ribolli )
- Não sou nada (explosivo em casa), sou uma moça! Em casa, quem manda é a minha mulher. Dá até medo dela. Minha energia fica toda aqui dentro. Quando saio de quadra, sou um cara totalmente da paz, não faço nada.
Lorena diz viver uma boa fase em sua vida, mas reserva espaço para um sonho em sua vida. Depois de bater na trave com Montes Claros e Vôlei Futuro, espera, enfim, conquistar o título da Superliga pelo Sesi-SP.
- Minha vida está boa demais, mas ser campeão da Superliga é um sonho que eu vou realizar. Nem que eu precise estar jogando de bengala, eu vou ganhar. Sempre me doei muito nos times, e acho que agora temos uma boa chance.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/02/explosivo-so-em-quadra-lorena-afirma-selecao-nao-e-prioridade.html