O calcanhar de Aquiles do Vasco na final da Taça Guanabara não se resumiu ao passe de calcanhar de Seedorf na origem do único gol do jogo, marcado por Lucas. O Botafogo soube explorar a principal carência do rival, o lado direito da defesa, e encontrou nas subidas alternadas de seus zagueiros ao ataque o antídoto contra a forte marcação. Quando combinou esses dois fatores numa mesma jogada, achou o caminho da rede e do título do primeiro turno do Campeonato Carioca.
O Botafogo conseguiu ainda percorrer esse trajeto sem passar por turbulências na sua mais nítida deficiência, as bolas aéreas. Com a vantagem do empate e o regulamento debaixo do braço, o Vasco abdicou a maior parte do tempo de atacar. Liderado por Dedé na retaguarda, concentrou suas forças em defender. Mas nem com o zagueiro inspirado foi possível tirar todas. Veja quais foram os pontos capitais do jogo.
Marcação individual
Seedorf e Carlos Alberto eram os jogadores a serem marcados na final, pelo menos na visão dos dois técnicos. Gaúcho e Oswaldo de Oliveira escalaram Abuda e Bolívar para ficarem colados nos dois camisas 10, respectivamente. O volante vascaíno cumpriu bem seu papel no primeiro tempo e fez o holandês trocar o lado direito pelo esquerdo de ataque para buscar mais espaço. A inversão deixou Abuda perdido no início, mas logo estava ele no encalço do adversário na outra ponta do campo. Ele foi o responsável por não deixar o futebol do meia fluir nos primeiros 45 minutos. O problema é que foi assim apenas na etapa inicial. No segundo tempo, o volante deixou de seguir Seedorf, que ora era marcado por Pedro Ken, ora ficava completamente livre na esquerda - como na jogada que iniciou o gol de Lucas.
Bolívar também teve sua tarde de carrapato sobre Carlos Alberto, onde quer que o meia estivesse. No único lance em que se descuidou da marcação, o camisa 10 cruz-maltino entrou na área nas costas de Lucas e, a três metros da linha do gol, perdeu a melhor chance do Vasco no jogo ao acertar a rede pelo lado de fora. Sob a vigilância do zagueiro durante os 90 minutos, o vascaíno só teve mais uma chance de gol, já na etapa final. Ele se antecipou ao marcador após um cruzamento na área e finalizou de primeira para defesa de Jefferson.
O Botafogo teve mais apoio de seus laterais do que o Vasco e soube explorar melhor os lados do campo na final. Mesmo com Julio Cesar mais fixo para marcar Eder Luis, o Alvinegro contou com as subidas e inversões de Seedorf, Fellype Gabriel e Vitinho (no segundo tempo) para atacar 15 vezes pele esquerda, enquanto na direita foram oito investidas com o auxílio de Lucas, Lodeiro, Seedorf e companhia. Já o Cruz-Maltino pouco usou seus laterais no ataque. Thiago Feltri e Nei, juntos, apoiaram só três vezes - e sem ir à linha de fundo. Ambos avançaram só até a intermediária para cruzar ou executar um passe. A função de auxiliar o setor ofensivo ficava a cargo de Pedro Ken, pela direita, e Wendel, pela esquerda.
Deficiência não explorada
Enquanto o Botafogo soube explorar o lado direito da defesa do adversário, o Vasco não respondeu na mesma moeda e pouco agrediu o ponto fraco alvinegro: a jogada aérea. Ao todo, foram só cinco bolas alçadas na área adversária. E em três delas a zaga botafoguense levou sustos e demonstrou sua dificuldade nesse tipo de lance: na primeira, Fellype Gabriel cortou mal e quase fez gol contra; na segunda, após cobrança de escanteio, Wendel desviou de cabeça na primeira trave, e a bola passou por todo mundo na grande área; e na terceira, Carlos Alberto se antecipou a Bolívar e finalizou com perigo para defesa de Jefferson.
Eficiência não explorada
Outro fator que pesou contra o time de São Januário foi a falta de movimentação e troca de posições de seu trio ofensivo (formado por Carlos Alberto, Eder Luis e Bernardo), uma arma que funcionou em outras partidas. Muito em função da proposta defensiva da equipe, que por vezes manteve todos os 11 jogadores atrás da linha do meio de campo para marcar, os três jogadores não repetiram as boas atuações da fase de classificação. Numa das poucas vezes em que houve uma inversão de posições, o Vasco abriu um buraco na defesa do Botafogo: Carlos Alberto recuou até o meio de campo carregando a marcação de Bolívar e abriu espaço para Bernardo se deslocar para o ataque (veja no Futebol 2.0 abaixo).
A rápida troca de passes, outra forte característica do trio vascaíno, também não apareceu. Carlos Alberto e Bernardo insistiram muito em jogadas individuais em determinados momentos, e o time não soube reagir à pressão imposta pelo Botafogo. No segundo tempo, quando o adversário cresceu no jogo, o Vasco lançou mão do chutão e só conseguiu trocar mais que três passes em oito oportunidades, sendo apenas três após o tempo técnico.
Elemento surpresa
Para abrir espaço na marcação adversária, o Botafogo adotou o lema de que a melhor defesa é o ataque. Com Gabriel na retaguarda, Oswaldo mandou seus zagueiros para frente, um de cada vez. Dória, no primeiro tempo, foi o primeiro a observar a alternativa e se aventurar como atacante. Mas na primeira tentativa ele foi só até a intermediária e arriscou um chute de longe, sem perigo. No segundo tempo, após triangulação com Seedorf e Julio Cesar, ele foi à linha de fundo, mas não conseguiu o cruzamento.
As tentativas de Bolívar deram mais resultado e criaram as melhores chances do time. Na etapa inicial, ele tabelou com Seedorf na entrada da área e serviu Fellype Gabriel, mas o meia errou a pontaria. Na segunda investida, o zagueiro deu uma de lateral no início da jogada e foi para a área como um centroavante. Após cruzamento de Julio Cesar, dominou com o peito e rolou a bola açucarada para o chute certeiro de Lucas.
Dedé também virou atacante no fim, só que na base do desespero. Já com o placar adverso, ele foi para a área adversária numa jogada de bola parada e não voltou mais. Porém, não teve chances de virar garçom ou goleador.
Análises rápidas:
* Dedé foi soberano nas bolas aéreas e, sozinho, cortou seis cruzamentos na zaga vascaína.
* Há quase um ano sem fazer gol, Rafael Marques não fez a função de centroavante e atuou muito fora da área, às vezes ocupando o mesmo espaço que um companheiro.
* Principal característica de Bernardo, os chutes de fora da área não apareceram na final. Assim como o meia, Eder Luis também não finalizou contra o gol de Jefferson.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rj/futebol/campeonato-carioca/noticia/2013/03/analise-bota-explora-lado-esquerdo-e-zagueiros-viram-elemento-surpresa.html
O Botafogo conseguiu ainda percorrer esse trajeto sem passar por turbulências na sua mais nítida deficiência, as bolas aéreas. Com a vantagem do empate e o regulamento debaixo do braço, o Vasco abdicou a maior parte do tempo de atacar. Liderado por Dedé na retaguarda, concentrou suas forças em defender. Mas nem com o zagueiro inspirado foi possível tirar todas. Veja quais foram os pontos capitais do jogo.
Marcação individual
Seedorf e Carlos Alberto eram os jogadores a serem marcados na final, pelo menos na visão dos dois técnicos. Gaúcho e Oswaldo de Oliveira escalaram Abuda e Bolívar para ficarem colados nos dois camisas 10, respectivamente. O volante vascaíno cumpriu bem seu papel no primeiro tempo e fez o holandês trocar o lado direito pelo esquerdo de ataque para buscar mais espaço. A inversão deixou Abuda perdido no início, mas logo estava ele no encalço do adversário na outra ponta do campo. Ele foi o responsável por não deixar o futebol do meia fluir nos primeiros 45 minutos. O problema é que foi assim apenas na etapa inicial. No segundo tempo, o volante deixou de seguir Seedorf, que ora era marcado por Pedro Ken, ora ficava completamente livre na esquerda - como na jogada que iniciou o gol de Lucas.
Bolívar também teve sua tarde de carrapato sobre Carlos Alberto, onde quer que o meia estivesse. No único lance em que se descuidou da marcação, o camisa 10 cruz-maltino entrou na área nas costas de Lucas e, a três metros da linha do gol, perdeu a melhor chance do Vasco no jogo ao acertar a rede pelo lado de fora. Sob a vigilância do zagueiro durante os 90 minutos, o vascaíno só teve mais uma chance de gol, já na etapa final. Ele se antecipou ao marcador após um cruzamento na área e finalizou de primeira para defesa de Jefferson.
Imagem mostra o máximo que avançaram Feltri (à esquerda) e Nei (à direita) durante a final
Contraste pelas lateraisO Botafogo teve mais apoio de seus laterais do que o Vasco e soube explorar melhor os lados do campo na final. Mesmo com Julio Cesar mais fixo para marcar Eder Luis, o Alvinegro contou com as subidas e inversões de Seedorf, Fellype Gabriel e Vitinho (no segundo tempo) para atacar 15 vezes pele esquerda, enquanto na direita foram oito investidas com o auxílio de Lucas, Lodeiro, Seedorf e companhia. Já o Cruz-Maltino pouco usou seus laterais no ataque. Thiago Feltri e Nei, juntos, apoiaram só três vezes - e sem ir à linha de fundo. Ambos avançaram só até a intermediária para cruzar ou executar um passe. A função de auxiliar o setor ofensivo ficava a cargo de Pedro Ken, pela direita, e Wendel, pela esquerda.
Deficiência não explorada
Enquanto o Botafogo soube explorar o lado direito da defesa do adversário, o Vasco não respondeu na mesma moeda e pouco agrediu o ponto fraco alvinegro: a jogada aérea. Ao todo, foram só cinco bolas alçadas na área adversária. E em três delas a zaga botafoguense levou sustos e demonstrou sua dificuldade nesse tipo de lance: na primeira, Fellype Gabriel cortou mal e quase fez gol contra; na segunda, após cobrança de escanteio, Wendel desviou de cabeça na primeira trave, e a bola passou por todo mundo na grande área; e na terceira, Carlos Alberto se antecipou a Bolívar e finalizou com perigo para defesa de Jefferson.
Eficiência não explorada
Outro fator que pesou contra o time de São Januário foi a falta de movimentação e troca de posições de seu trio ofensivo (formado por Carlos Alberto, Eder Luis e Bernardo), uma arma que funcionou em outras partidas. Muito em função da proposta defensiva da equipe, que por vezes manteve todos os 11 jogadores atrás da linha do meio de campo para marcar, os três jogadores não repetiram as boas atuações da fase de classificação. Numa das poucas vezes em que houve uma inversão de posições, o Vasco abriu um buraco na defesa do Botafogo: Carlos Alberto recuou até o meio de campo carregando a marcação de Bolívar e abriu espaço para Bernardo se deslocar para o ataque (veja no Futebol 2.0 abaixo).
A rápida troca de passes, outra forte característica do trio vascaíno, também não apareceu. Carlos Alberto e Bernardo insistiram muito em jogadas individuais em determinados momentos, e o time não soube reagir à pressão imposta pelo Botafogo. No segundo tempo, quando o adversário cresceu no jogo, o Vasco lançou mão do chutão e só conseguiu trocar mais que três passes em oito oportunidades, sendo apenas três após o tempo técnico.
Elemento surpresa
Para abrir espaço na marcação adversária, o Botafogo adotou o lema de que a melhor defesa é o ataque. Com Gabriel na retaguarda, Oswaldo mandou seus zagueiros para frente, um de cada vez. Dória, no primeiro tempo, foi o primeiro a observar a alternativa e se aventurar como atacante. Mas na primeira tentativa ele foi só até a intermediária e arriscou um chute de longe, sem perigo. No segundo tempo, após triangulação com Seedorf e Julio Cesar, ele foi à linha de fundo, mas não conseguiu o cruzamento.
As tentativas de Bolívar deram mais resultado e criaram as melhores chances do time. Na etapa inicial, ele tabelou com Seedorf na entrada da área e serviu Fellype Gabriel, mas o meia errou a pontaria. Na segunda investida, o zagueiro deu uma de lateral no início da jogada e foi para a área como um centroavante. Após cruzamento de Julio Cesar, dominou com o peito e rolou a bola açucarada para o chute certeiro de Lucas.
Dedé também virou atacante no fim, só que na base do desespero. Já com o placar adverso, ele foi para a área adversária numa jogada de bola parada e não voltou mais. Porém, não teve chances de virar garçom ou goleador.
Análises rápidas:
* Dedé foi soberano nas bolas aéreas e, sozinho, cortou seis cruzamentos na zaga vascaína.
* Há quase um ano sem fazer gol, Rafael Marques não fez a função de centroavante e atuou muito fora da área, às vezes ocupando o mesmo espaço que um companheiro.
* Principal característica de Bernardo, os chutes de fora da área não apareceram na final. Assim como o meia, Eder Luis também não finalizou contra o gol de Jefferson.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rj/futebol/campeonato-carioca/noticia/2013/03/analise-bota-explora-lado-esquerdo-e-zagueiros-viram-elemento-surpresa.html