A bola nem tinha rolado e uma confusão marcou a estreia de Macaé e Flamengo no Campeonato Carioca - as equipes empatariam por 1 a 1, posteriormente. Ao entrar no gramado do Estádio Moacyrzão para o aquecimento, o goleiro Ricardo Berna mostrou o queixo sangrando e acusou de agressão uma torcida organizada do Rubro-Negro. O fato teria ocorrido durante uma invasão, feita por um grupo de aproximadamente 100 pessoas, ao vestiário do time mandante (veja no vídeo acima).
- Uma torcida organizada do Flamengo invadiu o vestiário - disse Berna aos repórteres.
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De acordo com o relato do jogador (veja vídeo abaixo), a invasão ocorreu no momento em que a delegação do Macaé entrou no estádio. O grupo driblou a segurança e entrou numa área reservada aos profissionais envolvidos na partida. Indignado com a situação, o goleiro de 35 anos, ex-Fluminense e Náutico, pediu mudanças no futebol brasileiro:
- Vou jogar e respeitar as pessoas. Cerca de 95% vieram a campo ver o espetáculo. Que fique na consciência dos governantes e da CBF: o futebol brasileiro está uma vergonha. Que isso sirva de exemplo para uma punição severa. Tem de respeitar os jogadores do Bom Senso. Há manobra política para não ouvi-los. Que se escutem os treinadores, os árbitros e os jogadores.
No intervalo do jogo, dois suspeitos foram levados pela Polícia ao vestiário do Macaé, mas Ricardo Berna disse que não tinha condições de identificá-los como agressores. De acordo com o que o repórter Chandy Teixeira disse ao SporTV, um deles estava com a mão machucada.
Diretor de competições da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), Marcelo Vianna confirmou a invasão por parte da torcida do Flamengo (veja vídeo acima). Não especificou qual organizada, mas revelou que alguns pertences do Macaé também foram levados, como chuteiras e frutas.
- O Berna, realmente, sofreu agressão. O segurança que cuida do portão que dá acesso ao vestiário seguiu a metodologia recomendada, mas houve um problema. Nunca tivemos algo assim, mas hoje um grupo de uma organizada, que ainda não sei precisar, então não falarei nome, invadiu o vestiário. Vou conversar agora com o comandante do Gepe que está na partida e encaminharei os fatos ao Ministério Público para punição. Eles invadiram o vestiário, levaram alguns pertences, frutas, um saco com chuteiras, tênis... E o goleiro foi agredido. Lamento esta atitude selvagem de um pequeno grupo de torcedores. Foi apenas um corte no goleiro, mas poderia ter sido muito pior - detalhou o dirigente.
Gepe desmente o Macaé, que desmente o Gepe
De acordo com o capitão Ricardo dos Santos, do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), a ação dos torcedores se deu após o não fechamento de um portão de entrada. Segundo ele, um grupo era de apenas 10 pessoas e fugiu após o incidente.
- Tem um portão e um funcionário, que não é de responsabilidade da polícia, que devia fechá-lo por dentro, mas não fechou. Quando o grupo de torcedores viu que o portão estava encostado, acessou o estádio. O policiamento próximo, quando viu, fez a intervenção. O grupo correu e não foi possível fazer a identificação. Alguns portões ficam lacrados e sob responsabilidade da polícia, que são os de acesso do público. Estes portões contam com a presença policial. Foi uma correria grande, era um grupo que não chega a 10 torcedores - explicou.
A discordância entre o Macaé e o Gepe não ficou apenas no número de invasores. Atual administrador do Moacyrzão, Valter Bittencourt negou que a invasão tenha acontecido porque um funcionário deixou o portão aberto – conhecido como Valtinho, ele é filho de Mirinho, presidente do clube.
- Na verdade, o que chegou ao meu conhecimento, através do chefe de segurança do estádio, é que arrombaram o cadeado. Inclusive, chegaram aqui (na sala da administração) com o cadeado arrombado, forçado. Não tinha como deixar o portão aberto, até porque tinha vigia - disse Valtinho, voltando a desmentir o chefe do Gepe:
- Ver (o portão aberto), ele não viu. Caso contrário, isso não teria acontecido. Eles arrombaram a porta do estacionamento do Macaé.
Diante da probabilidade de o Macaé ser punido, Valtinho saiu em defesa do estádio onde o clube manda seus jogos:
- Tomamos todas as providências possíveis. Seguranças, um quadro imenso, fizemos tudo para coibir. Se tiver alguém para ser punido, não é o Macaé. O estádio nem é do Macaé, é da prefeitura. Foi cedido ao Macaé e ao Flamengo para a partida. O estádio está superlotado, talvez seja a maior renda da história do estádio. Quem deveria tomar mais cuidado é a polícia.
Oficialmente, o Moacyrzão tem capacidade para 15.000 torcedores, e o público presente na partida da noite deste sábado foi de 14.550 pessoas (12.550 pagantes) – antes de a bola rolar, rubro-negros precisaram ocupar o setor vermelho, destinado aos donos da casa, e a polícia teve de improvisar um cordão de isolamento.
Regulamento Geral deixa responsabilidade sob o mandante
Segundo a Ferj, o caso será analisado pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), e o Regulamento Geral das Competições da entidade (RGC-2015), em seu Capítulo III – Da ordem e da segurança das partidas, estabelece a responsabilidade total ao anfitrião. O Artigo 19 diz que "à associação mandante, para a realização da partida, além das medidas administrativas e técnicas indispensáveis à segurança e à normalidade do espetáculo, compete, entre outras, as obrigações e providências" de todas as série de questões relativas.
O capítulo ainda fala de punições financeira – "A violação ou o descumprimento pelo clube mandante das obrigações descritas neste artigo sujeitará o infrator ao pagamento de multa no valor de R$ 100 (cem reais) a R$ 100.000 (cem mil reais), após decisão do TJD" – e de perda de mando de campo sob decisão do Tribunal – "(...) estabelecida em função de penalidade determinada pela Justiça Desportiva ou interdição da praça de desportos, mantém todas as obrigações da associação, sejam administrativas e/ou financeiras, como se detentora do mando de campo fosse, ou se a partida fosse realizada em seu estádio."
Presidente do Fla mostra-se surpreso com estranha agressão
- O que acho estranho é como que um grupo de bandidos, porque não são torcedores, se aconteceu isso, como que conseguem entrar e sair pela porta da frente e ninguém ser identificado ou preso? Afinal de contas, é um evento da primeira divisão do Carioca. Imaginamos que estamos em um ambiente seguro. Se fosse em um lugar sem policiamento... Mas logo em um lugar sagrado, que é o vestiário, ser invadido? - questionou.
O mandatário rubro-negro disse não ver motivos para que seu clube seja punido, uma vez que o Macaé é o responsável pela organização da partida. Caso seja comprovado que torcedores do Flamengo provocaram o tumulto, no entanto, há, sim, risco de punição.
- O Flamengo não tem responsabilidade nenhuma nisso. A responsabilidade pela segurança não é do Flamengo e não imagino um motivo que faça o Flamengo ser punido - destacou.
Por fim, Bandeira não confirmou a realização do jogo com o Barra Mansa, quarta-feira, no Moacyrzão:
- Até onde eu soube, o nosso pedido não foi deferido. Estamos aguardando.
O técnico do Macaé, por sua vez, responsabiliza Vanderlei Luxemburgo pelo ocorrido (veja no vídeo abaixo), por declarações feitas na quinta-feira, de que haveria um clima hostil entre as duas equipes.
- Não foi uma suposta agressão. Houve uma agressão. Estávamos terminando a nossa preleção quando um grupo de torcedores do Flamengo entrou, saqueou o material dos jogadores, agrediu os jogadores, agrediu membros da comissão técnica. Isso aconteceu depois de uma declaração mal dada do Luxemburgo, na quinta-feira, dizendo que havia um clima hostil entre Macaé e Flamengo. Gerou isso, o que nunca aconteceu em Macaé, nunca aconteceu no interior. O responsável foi ele - disse.