Maira Labes, à esquerda, com Neymar em jogo festivo realizado em SC (Foto: Arquivo Pessoal)
Na visão da assistente, tratou-se apenas de um xingamento "normal" de jogo, assim como seria feito caso o assistente em questão fosse um homem. Minimizou a questão. Não julgou ter malícia na forma como foi chamada. E, em poucas palavras, ainda afirmou que não sofre com assédio no futebol. No máximo, uma "brincadeirinha".
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- Neste caso, o assistente masculino seria xingado da mesma forma. Eles tentam atingir a arbitragem de alguma forma. Acho que com as mulheres até há um cuidado maior para não ofender - disse, em conversa com o GloboEsporte.com, completando: - Nunca sofri assédio, não tem isso. No máximo uma brincadeirinha.
A receita para evitar comentários desnecessários ou convites constrangedores é manter o profissionalismo e a seriedade sempre no ambiente de trabalho. O foco das assistentes mulheres é ser reconhecida pelo que executam em campo, única e exclusivamente.
Maira Labes, Fernanda Colombo e Ana
Paula Oliveira: assistentes que
'combatem' o assédio no futebol com
profissionalismo mostrado em campo
(Foto: Arte / Globoesporte)
- Claro que a beleza da mulher traz um atrativo a mais para o jogo de futebol, mas nós buscamos a valorização do nosso trabalho, sermos reconhecidas como profissionais, termos igualdade na profissão. Para isso, temos de continuar fazendo um bom trabalho, nos impormos, nos darmos valor, termos seriedade e sermos responsáveis. Não se pode usar a profissão como meio de busca de outros aspectos - afirmou Maira.
A mesma opinião é compartilhada pela também catarinense Fernanda Colombo Uliana. A bandeirinha adota o discurso da colega e diz não haver assédio. As duas, porém, trabalharam na final da Copa do Brasil Sub-20 do ano passado, vencida pelo Santos sobre o Criciúma, e receberam elogios públicos do volante Misael, autor do gol que deu o título ao Peixe apesar da derrota por 3 a 1.
Fernanda Colombo é outra assistente 'musa' de SC (Foto: Lougans Duarte / Diário do Sul)
- Não tem muito assédio, não. E quanto mais profissional a competição, os times, muito mais difícil ainda de acontecer. Mas, quando acontece, temos de brincar. Não se pode levar a sério. E sobre a beleza, não pode prejudicar o nosso trabalho. Isso tem de ficar em segundo plano. A gente tem de demonstrar sempre em campo as nossas qualidades - opinou Fernanda.
Com relação ao preconceito, a assistente crê que "não há tanto". As manifestações mais visíveis acontecem nos xingamentos proferidos no calor da partida e o fato de ser mulher acaba contribuindo para que eles sejam mais intensos.
- Não há tanto machismo assim. No calor da partida, acabam te xingando. Mas os homens também são xingados. A ofensa mais 'sexual', no caso, acaba sendo mais com as mulheres. Mas isso é algo da sociedade, a sociedade age desta maneira. O fato de ser mulher acaba sendo um motivo a mais para os xingamentos. Mas no ambiente profissional, buscam tratar a gente super bem, temos um relacionamento muito saudável com todos, de respeito e amizade - explicou.
Maira Labes (D) e Ana Paula Oliveira
(C) com Nadine Bastos (E) em evento
teste do Maracanã (Foto: Arquivo pessoal)
A voz da experiência
Hoje aposentada dos gramados - porém, sem deixar o futebol de lado, atuando como comentarista de arbitragem e apitando jogos festivos -, Ana Paula Oliveira vê que houve uma evolução contra o machismo, embora não o enxergue finalizado. Para a ex-bandeirinha, ainda há muito o que se conquistar no futebol pelas mulheres. Logo ela, que já apitou finais de Campeonato Paulista (2003, 2004 e 2007), final de Copa do Brasil (2006), jogos de Libertadores e Olimpíadas e vê apenas a Copa do Mundo como falta na sua carreira.
Ana Paula nunca presenciou um caso como o de Maira, em que precisou escutar algo dentro de campo. Porém, em 2007, teve seu trabalho questionado pelo vice de futebol do Botafogo utilizando como argumento apenas o fato de ser mulher.
Você pode falar sobre a árbitra, mas fale sobre o trabalho dela, sobre a sua competência. Não se limite ao gênero
Ana Paula Oliveira
Para a paulista, aquele foi um momento de infelicidade do dirigente. Ela garante que nunca teve problemas em receber críticas, desde que fossem direcionadas ao seu desempenho e não ao seu gênero.
- Não acompanhei o caso da Maira, então prefiro não opinar. Mas eu nunca fui ofendida no campo de jogo. Nunca chegou aos meus ouvidos um atleta ou um treinador que me faltasse com respeito. Naquela ocasião, foram declarações infelizes do dirigente. Em vez de se limitar a falar da questão técnica, ele falou do fato de eu ser mulher. Não avaliou o meu trabalho. Ele avaliou apenas a Ana Paula mulher. Você pode falar sobre a árbitra, mas fale sobre o trabalho dela, sobre a sua competência. Não se limite ao gênero - contou.
Ana Paula Oliveira em partida pelo Campeonato Paulista (Foto: Agência Gazeta Press)
Atualmente, são realizados igualmente primeiro uma etapa de seis tiros de 40 metros, com um descanso de 15 minutos ao final. Depois, seguem-se 20 a 24 tiros de 150 metros, que precisam ser finalizados em 30 segundos cada, intercalados com caminhadas de 50 metros, com tempo máximo de 45 segundos.
- O machismo não desapareceu, só se está lidando melhor. Ainda temos muito o que conquistar. Temos muitas meninas atuando hoje, mas ainda temos dificuldade na questão física. É preciso fazer o mesmo teste que o homem. Até fui contrária no início, mas hoje entendo que é positivo. Igualando o teste, você equipara as condições. Então não tem mais desculpa. Se desenvolver o processo com competência e passar, podemos até ver uma mulher apitando uma Copa do Mundo, quem sabe - aposta.
FOBTE:
http://globoesporte.globo.com/boleirama/noticia/2014/04/assistentes-mulheres-combatem-assedio-com-profissionalismo.html