Ricardo Oliveira comemora gol pelo Al Jazira:
faro de artilheiro apurado ainda nos Emirados Árabes (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
faro de artilheiro apurado ainda nos Emirados Árabes (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
Ricardo Oliveira vem amadurecendo a ideia e tem procurado buscar conhecimento para se estabelecer na nova função. Além de troca de experiências com profissionais do setor, o atacante revela que tem se esforçado para aprender outros idiomas. Dificuldade na chegada ao país em 2009, o inglês já não é problema.
saiba mais
O atacante espera colaborar no desenvolvimento do futebol nos Emirados Árabes. O objetivo é ter participações recorrentes em Copa do Mundo, mas ele reconhece que será um caminho árduo. Mesmo assim, enxerga com bons olhos os frutos que pode ter no lugar que o acolheu.- Golaço de Ricardo Oliveira nos Emirados
- Ex-são-paulinos brilham nos Emirados
- É algo que me foi proposto recentemente. Espero contribuir para o crescimento do futebol nos Emirados Árabes atuando como dirigente. Já estou estudando e me preparando para isso. Quero me tornar esse profissional. É um plano. O sonho deles é disputar a Copa do Mundo, mas precisa evoluir em diversos itens. Tem muita coisa para aprender ainda. É preciso buscar essa evolução em termos dentro e fora de campo - afirmou o brasileiro, por telefone.
Revelado pela Portuguesa em 2000, o centroavante foi para o Santos em 2003, e teve duas passagens pelo Morumbi, em 2006 e 2010, no Brasil. Na Europa, jogou por Valencia, onde foi campeão espanhol e da Copa da Uefa (atual Liga Europa), em 2004, Bétis, pelo qual foi conquistou a Copa do Rei, em 2005, Milan, levantando a Liga dos Campeões em 2007, e Zaragoza.
O Al Jazira é o quarto colocado no Campeonato dos Emirados Árabes, com 43 pontos. O atacante Fernandinho, ex-São Paulo, é uma das companhias no elenco. Pelo time de Abu Dhabi, Ricardo Oliveira conquistou a Liga dos Emirados Árabes 2010-11, a Copa do Presidente em 2011 e 2012, além da Copa Etisalat de 2010.
Durante conversa com o GLOBOESPORTE.COM, o atacante lembra também da passagem com títulos pela Europa, da ausência na lista de Carlos Alberto Parreira na Copa do Mundo de 2006 e da relação de amizade com Abel Braga.
GLOBOESPORTE.COM: Você é um jogador que conseguiu se estabelecer nos Emirados Árabes. Com foi essa adaptação?
RICARDO OLIVEIRA: No início, senti muito. Aqui o calor é insuportável. Dificulta bastante no trabalho com bola e para respirar durantes as atividades. Achei que não ia aguentar nas primeiras semanas. Mas tive a ajuda do Abel Braga, do Cristiano Nunes (preparador físico do Fluminense). Eles falaram que era normal aquela dificuldade. Com o tempo, comecei a ter destaque pelo clube. Jogar bem. Ganhei dois títulos. Fui considerado o melhor jogador da competição. A minha família também se adaptou. Apesar de culturalmente ser um país diferente do nosso, com outras religiões, conseguimos fazer novas amizades. Neste início, tive dificuldade também com o inglês. Errei bastante, mas depois comecei a estudar e hoje me comunico normalmente na língua. Agora, assinei contrato por mais dois anos.
Alguns jogadores que passam pelo Emirados Árabes se queixam dos jogos sem a intensidade em termos de torcida em relação ao Brasil e à Europa. Como foi conviver com essa diferença?
Foi difícil. Era acostumado a jogar na Europa. Jogava no Santiago Bernabéu, no Camp Nou, no San Siro, em jogos com uma atmosfera fantástica da torcida. Porém, foi uma decisão. Sabia que o campeonato daqui ainda estava se desenvolvendo e que deixaria o grande cenário da bola. Mas fiquei à vontade. Tomei essa decisão em família e não me arrependo. Aqui as pessoas adoram futebol. Temos muitos jogadores brasileiros e grandes nomes. Busquei novas experiências.
Passou por alguma situação embaraçosa em Abu Dhabi?
Sempre muito tranquilo. Sem apuros. As pessoas me receberam muito bem. Também tem os brasileiros do jiu-jitsu (que dão aulas da luta nos Emirados Árabes), que estão sempre em contato. Fico feliz que os brasileiros estão tendo a ideia de viver nos Emirados.
O Abel Braga teve uma passagem vitoriosa pelo Al Jazira. Como era a relação?
Só estou aqui por causa dele. Um dia o Abel me ligou e disse: "Falei com os dirigentes que quero você aqui. Para reforçar o nosso time". Ele é um verdadeiro paizão. Tem uma índole inquestionável. Um dos melhores treinadores que trabalhei na minha carreira. Ele é um técnico que consegue motivar todo o elenco, não somente os 11 jogadores que estão jogando. Trata todo mundo igual. Desde as estrelas do time até os mais jovens.
Ricardo Oliveira e Fernandinho: entrosamento
também fora de campo (Foto: Arquivo Pessoal)
também fora de campo (Foto: Arquivo Pessoal)
Nós conseguimos marcar história no clube (conquistaram a liga dos Emirados Árabes 2010-11, a Copa do Presidente em 2010/11). Até hoje as pessoas comentam sobre o Abel. É um ídolo do Al Jazira. Os torcedores sonham com o seu retorno. É um cara que eu desejo tudo de bom. Sigo acompanhando a carreira dele e fiquei muito feliz com o Campeonato Brasileiro que conquistou pelo Fluminense. Só tenho palavras positivas.
Aos 33 anos, qual balanço que faz da sua carreira? Ficou faltando alguma coisa?
Não faltou nada. Foi tudo muito rápido na minha carreira. Comecei na Portuguesa e em dois anos como profissional cheguei à seleção brasileira. Foi a realização de um sonho. Em 2004, ganhei a Copa América. Em 2005, estive na conquista da Copa das Confederações. Tive uma boa fase no Santos, cheguei a uma final de Libertadores. Infelizmente, não conseguimos aquele título. Fui campeão no Valencia, onde realizamos o "Doblete", título espanhol e da Copa da UEFA (atual Liga Europa). Tem o carinho dos torcedores do São Paulo, que foi o meu último clube no Brasil. Não dá para lamentar. As coisas aconteceram no momento certo. Ganhei uma Liga dos Campeões com o Milan. Tive o prazer de participar da campanha do Bétis na classificação para a Champions e no título da Copa do Rei. Foi tudo como sempre sonhei.
Ficou magoado com a ausência na Copa do Mundo de 2006?
Não fiquei frustrado em 2006. Houve muita coerência na convocação. Estava voltando de lesão depois de cinco meses fora dos gramados. Voltei em um jogo do São Paulo contra o Internacional, no Sul, um dia antes do anúncio da lista, e joguei apenas alguns minutos. O Muricy Ramalho me deu muita força naquele período. O Fred estava muito bem no Lyon e foi no meu lugar. Foi justo. Numa Copa do Mundo, não se pode arriscar. O Carlos Alberto Parreira e o José Luiz Runco foram corretos comigo. Nunca me garantiram que eu seria convocado. São pessoas altamente profissionais.
Ricardo Oliveira comemora gol do Milan: companheiro de Seedorf no clube (Foto: Getty Images)
Eu nunca tive lesão muscular. Tive uma lesão no joelho direito em 2006, que acabou me deixando fora da Copa. Depois, voltei a jogar e sofri uma no joelho esquerdo no Al Jazira. Foram os meus problemas físicos. São coisas que podem acontecer no dia a dia do futebol por causa do contato normal. Não tem como evitar. Agora, não tive outros tipos de lesões. Sempre me preparei muito durante os treinos e jogos para evitar ao máximo.
Sua última passagem pelo Brasil foi em 2010 pelo São Paulo por empréstimo. E seu nome costuma figurar na lista de reforços dos clubes. Pensa em voltar?
Nenhum clube me procurou. Eu me sinto bem. Trabalho todo dia e praticamente participo de todos os jogos do Al Jazira. Estou marcando os gols. Média de 30 por temporada. Isso me alegra bastante. Tive a felicidade de ser o artilheiro da Liga dos Campeões Asiática, batendo recorde, com 12 gols em sete jogos. Estou feliz. Estou animado com o meu rendimento dentro de campo. A cabeça também está boa.
Hoje, então, o Brasil não está nos seus planos...
Não posso fechar portas. Porém, tenho que ser sincero. Acho difícil minha saída. Mas pode acontecer. Tudo acontece com a vontade de Deus. Acabei de assinar minha renovação de contrato. Tenho mais dois anos de vínculo e me ofereceram um projeto a longo prazo. Aqui tenho uma história legal. Sempre fui muito bem tratado. A minha família também gosta. As crianças estão aprendendo outros idiomas. Todos estão felizes.
Ricardo Oliveira e Fernandinho no treino: de bem com a vida nos Emirados (Foto: Arquivo Pessoal)
É algo que me foi proposto recentemente. Espero contribuir para o crescimento do futebol nos Emirados Árabes atuando como manager ou dirigente. Já estou estudando e me preparando para isso. Quero me tornar esse profissional. É um plano. O sonho deles é disputar a Copa do Mundo, mas precisa evoluir em diversos itens. Tem muita coisa para aprender ainda. É necessário buscar essa evolução dentro e fora de campo.
Seria uma função semelhante ao do Leonardo, atualmente no PSG?
É um referencial. Para todos que almejam ocupar essa função. Tive a oportunidade de trabalhar com o Leonardo no Milan. É um cara muito esclarecido, que domina vários idiomas. Além disso, foi jogador e conhece muita coisa no trabalho dentro de campo. E tem carisma. Por essas razões: o Leonardo é um nome que serve sempre como referência.
Chegou a pensar em ser treinador?
Não quero ser treinador. É muito desgastante. Não é fácil. A gente sabe que tem muita injustiça. Sempre respeitei as decisões dos treinadores, quando me colocavam ou me tiravam na equipe. No Brasil, temos bons técnicos, pessoas que estudaram para isso, ou até mesmo ex-jogadores que agora ocupam a função. Discordo que a maior parcela de culpa seja sempre atribuída ao comandante. Os jogadores também têm colaboração às vezes no insucesso. Seria difícil conviver com isso.
Tem acompanhado os jogos do São Paulo? Como enxerga esse momento conturbado no Morumbi?
Sempre acompanho. É aquilo que disse anteriormente. Nós como atletas também temos que ser responsabilizados quando as coisas não vão bem. Nem sempre a culpa está no treinador. Tem que dar tempo para o profissional realizar o seu trabalho. No Brasil, é muito difícil o técnico ter esse tempo para desenvolver um projeto. Precisa desse período para encontrar a melhor maneira do time jogar, se adaptar, se assentar em um novo clube. Tem que ter um plano em longo prazo. No São Paulo, a cobrança é forte, até pelas conquistas recentes. É muita pressão em cima do treinador.
Aprovou então a permanência do Ney Franco?
É necessário dar tempo ao Ney Franco. Quanto tempo tem que o Ney está no comando do São Paulo? Um ano ou até menos. Todo mundo dizia que ele tinha o perfil do São Paulo quando foi contratado. Ele chegou e implantou algumas mudanças no time. Acompanho o trabalho do Ney. É um profissional que foi bem na seleção brasileira e pelos clubes que passou. Sempre muito correto na sua maneira de trabalhar. Se tiver paciência, vai ter êxito e brigar pelos títulos.
Ricardo Oliveira recebe prêmio, após recorde na Liga dos Campeões da Ásia (Foto:Arquivo Pessoal)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2013/05/achei-ainda-goleador-ricardo-oliveira-quer-virar-cartola-das-arabias.html