Nos sete gols que fez no Brasileirão de 2014, Goulart jamais precisou dominar a bola antes de concluir. Foi sempre de primeira - ou partindo em disparada desde a linha intermediária para receber livre na área, ou aproveitando lances de bola parada. Ele costuma se posicionar, na origem dos lances de ataque, em uma área mais central do campo. Dali, trama jogadas especialmente com Everton Ribeiro, pela direita, e com o lateral-esquerdo Egídio.
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Ao acionar um colega, Ricardo Goulart já dispara na direção da área, exatamente ao ponto onde a bola, se a jogada fluir como o time planeja, chegará. Isso mostra que a equipe tem sistemática. Um atleta sabe em que local e em que momento poderá encontrar um colega. Além disso, o meia sabe se aproveitar dos espaços que a marcação adversária deixa. Conta com a cumplicidade do centroavante (Borges ou Marcelo Moreno), que participa da trama ao puxar os marcadores e aí permitir a entrada do goleador, quase sempre livre.
Ricardo Goulart tem 20 finalizações no Brasileirão - incluídas aí aquelas que viraram gols. Egídio foi quem mais deu passes que resultaram em conclusões: seis vezes. Isso mostra que o meia pende para a esquerda. E ele pende para a esquerda, em grande parte, justamente porque o Cruzeiro tem um lateral, naquele lado, que avança mais do que o responsável pelo lado direito - onde a parceria mais frequente de Goulart é outro meia, Everton Ribeiro.
O gol de Ricardo Goulart contra o Flamengo, na vitória de 3 a 0, em 1º de junho, é emblemático dessa estrutura cruzeirense. Ele recebe a bola pelo meio e, com um toque, já aciona Everton Ribeiro. Imediatamente, pede o passe de volta. Mas o companheiro prefere seguir com a jogada na direção do gol. E aí o movimento de Goulart, de pronto, se torna vertical, seguindo a linha do deslocamento do time. A bola passa por Henrique e volta para o meia, que novamente busca Everton Ribeiro, novamente de primeira, e mais uma vez parte para a área. A troca de passes desarruma a linha defensiva do Flamengo, que pende na direção da bola. E Goulart, sem ela, surge livre para completar para o gol. Os marcadores mal viram que ele estava entrando por ali.
É a tal da intensidade. O lateral-direito Ceará, testemunha ocular do processo, resume a movimentação do colega.
- O Ricardo é um jogador muito dinâmico. Um ponto positivo para ele fazer tantos gols é que ele se apresenta muito dentro da área. É um jogador que tem bom posicionamento. Quando vem de trás, jogando no meio, e entra na área como jogador surpresa, aquele volante que deveria estar marcando não acompanha. Ele entra na área, muitas vezes, sozinho. O zagueiro já está ali posicionado, mas ele vem em velocidade, aí não consegue marcá-lo. Por isso, tem conseguido fazer tantos gols. Acho que isso é uma virtude muito grande, de se movimentar e estar dentro da área para colocar a bola para as redes - comentou Ceará.
O estilo também permite gols pelo alto. Ricardo Goulart marcou três vezes de cabeça no campeonato, e dois deles foram partindo na direção da meta, fazendo um movimento vertical até a entrada da pequena área: o primeiro contra o Coritiba e o que fez contra o Vitória.
Análises rápidas:
* das suas 20 finalizações, sete terminaram na rede, sete foram para fora e seis pararam nos goleiros.
* os seus sete gols foram marcados a partir da altura da marca do pênalti, como se fosse um centroavante.
* isso não significa, entretanto, que não arrisque de longe. Cinco das 20 finalizações foram de fora da área (duas defendidas e três para fora)
* Em três dos cinco chutes de fora da área, ele recebeu passe, apenas dominou, deu no máximo um toque a mais na bola e chutou.
* Goulart, de 1,78m, marcou três gols de cabeça, maior número do campeonato, ao lado do companheiro Marcelo Moreno (1,87m).
* Ricardo Goulart é municiado basicamente por Egídio e Everton Ribeiro para suas finalizações. O primeiro deu seis passes, e o segundo, cinco. Ceará, Mayke, Marquinhos, Lucas Silva, Dagoberto e Borges deram um cada. Em três casos, a bola veio do adversário.
* ninguém é tão efetivo quanto Goulart entre os principais concorrentes à artilharia. Ele consegue um gol a cada 2,9 finalizações. É um índice superior ao de Douglas Coutinho (um a cada 3,5), Marcelo Moreno (um a cada 3,6), Luis Fabiano (um a cada 3,75) e Jadson e Emerson Sheik (um a cada 4,75).
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/cruzeiro/noticia/2014/07/formula-r-goulart-pelas-sombras-meia-vira-goleador-do-brasileirao.html